Muitos dos que vivem em Sampa, especialmente os mais jovens, não sabem de quem se trata. Apesar disso, a vertente paulista do samba de raiz tem em Germano Mathias uma figura lendária.
O
sambista nascido no Brás (o que confere um sotaque levemente ‘italianado’ a
suas interpretações), aprendeu a batucar com engraxates da Praça da Sé que
tiravam som de suas latinhas de graxa. Viveu momentos de glória no panorama
musical dos anos 50 e 60, antes de desaparecer de cena.
Em
2007, teve revisitada sua carreira com o DVD “Ginga no Asfalto” com a
participação de grandes nomes da música instrumental como Raul de Souza,
Bocato, Guilherme Vergueiro e Osvaldinho da Cuíca, e acompanhamento do grupo
Quinteto em Branco e Preto.
Antes
disso, porém, o sambista amargou mais de três décadas de esquecimento, tendo
que se virar em pequenos bares à custa de cachês irrisórios para sobreviver.
Durante
esse período de ostracismo, Gilberto Gil, seu fã de carteirinha, prestou-lhe
uma solitária homenagem: produziu e lançou o LP “Antologia do Samba Choro”, com
11 faixas do Catedrático do Samba, como era conhecido, em que se alternam
interpretações de Gil e Germano.
Apesar
do título, Germano rejeita o rótulo, considerando que seu samba não tem
qualquer ligação com o choro.
Nele é
possível apreciar alguns de seus famosos ‘sambas sincopados’: “Sr. Delegado”, “Minha Nega na Janela” (seu primeiro e maior sucesso) e “Acertei no Milhar”
(composição de Wilson Batista e Geraldo Pereira).
“Minha
Nega na Janela” tem sido alvo de críticas devido a sua letra extremamente
machista: “Êta nega, tu é feia que parece macaquinha. Olhei pra ela e disse: Vai
já pra cozinha, Dei um murro nela e joguei ela dentro da pia. Quem foi que
disse que essa nega não cabia?” O fato é que os sambas sobretudo os das antigas
tinham esse viés presente em diversos temas, de Bezerra da Silva a Zeca
Pagodinho. Nem as letras de Chico Buarque foram poupadas nesse revisionismo. Mais
recentemente, Germano reconheceu a inadequação dessas palavras no contexto
atual de violência contra a mulher. A canção já aparecera no álbum CIDADE DE
SÃO SALVADOR de Gil (1998) e, à época, ninguém se incomodara com a questão.
Por
razões de direitos autorais, o álbum original jamais chegou a CD em sua
integralidade, sendo talvez o único item inédito da discografia do músico
baiano, o que torna o LP uma preciosidade para fãs e colecionadores.
As
músicas interpretadas por Germano Mathias foram extraídas do LP O SAMBISTA
DIFERENTE, Polydor, de 1957.
As 6
faixas interpretadas por Gil foram relançadas, integrando a série e-collection
da Warner.
Germano
deixou-nos como não poderia deixar de ser numa quarta-feira de cinzas de 2023 aos 88 anos,
cheio de planos para o futuro.
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Faixas:
1. Acertei No Milhar (Wilson
Batista/Geraldo Pereira) - Gilberto Gil
2. Falso Rebolado
(Venâncio/Jorge Costa) - Germano Mathias
3. Escurinho (Geraldo Pereira)
- Gilberto Gil
4. Minha Pretinha (Jair
Gonçalves/Edson Borges) - Germano Mathias
5. Senhor Delegado (Antoninho
Lopes/Jaú) - Germano Mathias
6. Senhor Delegado (Antoninho
Lopes/Jaú) - Gilberto Gil
7. Minha Nega na Janela
(Germano Mathias/Doca) - Gilberto Gil
8. Não Volto Pra Casa (Denis
Brean/Osvaldo Guilherme) - Germano Mathias
9. A Situação Do Escurinho
(Aldacir Louro/Padeirinho) - Gilberto Gil
10. Rua (Jair Gonçalves) - Germano
Mathias
11. Samba Rubro-Negro (Wilson
Batista/Jorge de Castro) - Gilberto Gil