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23 de fev. de 2023

GILBERTO GIL E GERMANO MATHIAS - ANTOLOGIA DO SAMBA-CHORO (1978)


 Muitos dos que vivem em Sampa, especialmente os mais jovens, não sabem de quem se trata. Apesar disso, a vertente paulista do samba de raiz tem em Germano Mathias uma figura lendária.

O sambista nascido no Brás (o que confere um sotaque levemente ‘italianado’ a suas interpretações), aprendeu a batucar com engraxates da Praça da Sé que tiravam som de suas latinhas de graxa. Viveu momentos de glória no panorama musical dos anos 50 e 60, antes de desaparecer de cena.

Em 2007, teve revisitada sua carreira com o DVD “Ginga no Asfalto” com a participação de grandes nomes da música instrumental como Raul de Souza, Bocato, Guilherme Vergueiro e Osvaldinho da Cuíca, e acompanhamento do grupo Quinteto em Branco e Preto.

Antes disso, porém, o sambista amargou mais de três décadas de esquecimento, tendo que se virar em pequenos bares à custa de cachês irrisórios para sobreviver.

Durante esse período de ostracismo, Gilberto Gil, seu fã de carteirinha, prestou-lhe uma solitária homenagem: produziu e lançou o LP “Antologia do Samba Choro”, com 11 faixas do Catedrático do Samba, como era conhecido, em que se alternam interpretações de Gil e Germano.

Apesar do título, Germano rejeita o rótulo, considerando que seu samba não tem qualquer ligação com o choro.

Nele é possível apreciar alguns de seus famosos ‘sambas sincopados’: “Sr. Delegado”, “Minha Nega na Janela” (seu primeiro e maior sucesso) e “Acertei no Milhar” (composição de Wilson Batista e Geraldo Pereira).

“Minha Nega na Janela” tem sido alvo de críticas devido a sua letra extremamente machista: “Êta nega, tu é feia que parece macaquinha. Olhei pra ela e disse: Vai já pra cozinha, Dei um murro nela e joguei ela dentro da pia. Quem foi que disse que essa nega não cabia?” O fato é que os sambas sobretudo os das antigas tinham esse viés presente em diversos temas, de Bezerra da Silva a Zeca Pagodinho. Nem as letras de Chico Buarque foram poupadas nesse revisionismo. Mais recentemente, Germano reconheceu a inadequação dessas palavras no contexto atual de violência contra a mulher. A canção já aparecera no álbum CIDADE DE SÃO SALVADOR de Gil (1998) e, à época, ninguém se incomodara com a questão.

Por razões de direitos autorais, o álbum original jamais chegou a CD em sua integralidade, sendo talvez o único item inédito da discografia do músico baiano, o que torna o LP uma preciosidade para fãs e colecionadores.

As músicas interpretadas por Germano Mathias foram extraídas do LP O SAMBISTA DIFERENTE, Polydor,  de 1957.

As 6 faixas interpretadas por Gil foram relançadas, integrando a série e-collection da Warner.

Germano deixou-nos como não poderia deixar de ser numa quarta-feira de cinzas de 2023 aos 88 anos, cheio de planos para o futuro.

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Faixas:

1. Acertei No Milhar (Wilson Batista/Geraldo Pereira) - Gilberto Gil

2. Falso Rebolado (Venâncio/Jorge Costa) - Germano Mathias

3. Escurinho (Geraldo Pereira) - Gilberto Gil

4. Minha Pretinha (Jair Gonçalves/Edson Borges) - Germano Mathias

5. Senhor Delegado (Antoninho Lopes/Jaú) - Germano Mathias

6. Senhor Delegado (Antoninho Lopes/Jaú) - Gilberto Gil

7. Minha Nega na Janela (Germano Mathias/Doca) - Gilberto Gil

8. Não Volto Pra Casa (Denis Brean/Osvaldo Guilherme) - Germano Mathias

9. A Situação Do Escurinho (Aldacir Louro/Padeirinho) - Gilberto Gil

10. Rua (Jair Gonçalves) - Germano Mathias

11. Samba Rubro-Negro (Wilson Batista/Jorge de Castro) - Gilberto Gil




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