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13 de abr. de 2021

PAULINHO DA VIOLA - BEBADOSAMBA (1996)

 

Falar sobre a genialidade de Paulinho da Viola é redundância. O tímido compositor que despontou de um círculo de sambistas freqüentadores do bar Zicartola (RJ), saiu melhor que a encomenda. E sua trajetória não parou de surpreender público e críticos, extravasando o universo do samba. Por trás de sua figura franzina e sua música aparentemente elementar, esconde-se um gênio inovador que se revela, por exemplo, na revolucionária “Sinal Fechado”, ácida crítica à incomunicabilidade na vida moderna, com um arrojado arranjo instrumental e elementos sonoros que tangem o erudito. Ou, quando, numa improvável parceria com Arrigo Barnabé, compôs a pós-moderna “Crotalus Terrificus” do álbum TUBARÕES VOADORES.

Sua obra musical e sua poesia sofisticada já foram objetos de análise de livros e teses universitárias. Independente de tudo o que sobre ele se discorreu, o negócio de Paulinho da Viola é mesmo o samba e a Portela. Um samba, ressalve-se, bastante requintado e diferenciado. Mas que jamais deixou de se referenciar nos grandes mestres do gênero como Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho. E o choro, claro, herdado de seu pai, o violonista César Faria.

Após integrar o conjunto Voz do Morro e dividir um disco com Elton Medeiros (SAMBA NA MADRUGADA), engatou uma bem sucedida carreira solo com mais de uma dezena de antológicos LPs pela Odeon, que trazem alguns de seus memoráveis momentos: “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, “Dança da Solidão”, “Guardei Minha Viola”, “Coração Leviano”, “Argumento”... Esses álbuns foram lançados em CD pela EMI em uma tacada só, remasterizados no famoso estúdio Abbey Road em Londres, numa caprichada edição que preservou capas e encartes originais e os brindou com faixas bônus.

Depois disso, a produção começou a escassear. BEBADOSAMBA surgiu após sete anos de jejum e marca o ingresso do artista na BMG.  Um grande disco, a começar pela bela capa de Elifas Andreato, com o título fazendo um jogo de palavras. Segundo Paulinho, há um duplo significado: incentivar que o ouvinte “beba do samba” e propor-lhe um “porre” de samba.

Traz as ótimos “Memórias Conjugais” à la Aldir Blanc, “Bebadosamba”, uma evocação a seus mestres e o ‘hit’ “Timoneiro”  (com os inspirados versos: “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”), parceria com Hermínio de Carvalho. Outras parcerias desfilam: Elton Medeiros, Sérgio Natureza e uma inusitada colaboração com o poeta Ferreira Gullar, “Solução de Vida”, um samba “filosófico”.

Na instrumentação apurada sobressaem-se o piano de Cristóvão Bastos, o sax de Zé Nogueira e o de Mario Séve, o clarinete de Dirceu Leite, o trombone de Vittor Santos, a flauta de Carlos Malta e o cavaquinho de Luciana Rabello. Na batera e ao violão, respectivamente os mestres Wilson das Neves e Dino 7 Cordas. Só fera. Sem esquecer a nobre presença da Velha Guarda da Portela e do conjunto de choro Época de Ouro protagonizado por seu pai.

A obra foi laureada com o prêmio Sharp, proporcionou um Disco de Ouro para Paulinho e o show de divulgação rendeu um álbum duplo ao vivo (BEBADACHAMA).

Dessa maneira, Paulinho retomou sua carreira em grande estilo, antes de mergulhar em novo período de ostracismo, quebrado apenas com seu álbum ACÚSTICO MTV ao vivo, uma década depois.

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Faixas:

1. Quando O Samba Chama (Paulinho da Viola)

2. Timoneiro (Paulinho da Viola/Hermínio Bello de Carvalho)

3. Ame (Paulinho da Viola/Élton Medeiros) – Particip.: Élton Medeiros

4. Alento (Paulo César Pinheiro)

5. É Dificil Viver Assim (Paulinho da Viola)

6. O Ideal É Competir (Candeia/Casquinha)

7. Novos Rumos (Rochinha/Orlando Porto)

8. Memórias Conjugais (Paulinho da Viola)

9. Reverso Da Paixão (Paulinho da Viola)

10. Dama De Espadas (Paulinho da Viola)

11. Solução De Vida (Paulinho da Viola/Ferreira Gullar)

12. Peregrino (Noca da Portela/Toninho Nascimento)

13. Mar Grande (Paulinho da Viola/Sérgio Natureza) – Particip.: Conj. Época de Ouro

14. Bebadosamba (Paulinho da Viola)

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