Falar
sobre a genialidade de Paulinho da Viola é redundância. O tímido compositor que
despontou de um círculo de sambistas freqüentadores do bar Zicartola (RJ), saiu
melhor que a encomenda. E sua trajetória não parou de surpreender público e
críticos, extravasando o universo do samba. Por trás de sua figura franzina e
sua música aparentemente elementar, esconde-se um gênio inovador que se revela,
por exemplo, na revolucionária “Sinal Fechado”, ácida crítica à
incomunicabilidade na vida moderna, com um arrojado arranjo instrumental e elementos
sonoros que tangem o erudito. Ou, quando, numa improvável parceria com Arrigo
Barnabé, compôs a pós-moderna “Crotalus Terrificus” do álbum TUBARÕES VOADORES.
Sua
obra musical e sua poesia sofisticada já foram objetos de análise de livros e
teses universitárias. Independente de tudo o que sobre ele se discorreu, o
negócio de Paulinho da Viola é mesmo o samba e a Portela. Um samba, ressalve-se,
bastante requintado e diferenciado. Mas que jamais deixou de se referenciar nos
grandes mestres do gênero como Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho. E o choro,
claro, herdado de seu pai, o violonista César Faria.
Após
integrar o conjunto Voz do Morro e dividir um disco com Elton Medeiros (SAMBA
NA MADRUGADA), engatou uma bem sucedida carreira solo com mais de uma dezena de
antológicos LPs pela Odeon, que trazem alguns de seus memoráveis momentos: “Foi
um Rio que Passou em Minha Vida”, “Dança da Solidão”, “Guardei Minha Viola”, “Coração
Leviano”, “Argumento”... Esses álbuns foram lançados em CD pela EMI em uma
tacada só, remasterizados no famoso estúdio Abbey Road em Londres, numa caprichada
edição que preservou capas e encartes originais e os brindou com faixas bônus.
Depois
disso, a produção começou a escassear. BEBADOSAMBA surgiu após sete anos de jejum
e marca o ingresso do artista na BMG. Um
grande disco, a começar pela bela capa de Elifas Andreato, com o título fazendo
um jogo de palavras. Segundo Paulinho, há um duplo significado: incentivar que
o ouvinte “beba do samba” e propor-lhe um “porre” de samba.
Traz as
ótimos “Memórias Conjugais” à la Aldir Blanc, “Bebadosamba”, uma evocação a
seus mestres e o ‘hit’ “Timoneiro” (com
os inspirados versos: “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”),
parceria com Hermínio de Carvalho. Outras parcerias desfilam: Elton Medeiros,
Sérgio Natureza e uma inusitada colaboração com o poeta Ferreira Gullar,
“Solução de Vida”, um samba “filosófico”.
Na instrumentação
apurada sobressaem-se o piano de Cristóvão Bastos, o sax de Zé Nogueira e o de
Mario Séve, o clarinete de Dirceu Leite, o trombone de Vittor Santos, a flauta
de Carlos Malta e o cavaquinho de Luciana Rabello. Na batera e ao violão,
respectivamente os mestres Wilson das Neves e Dino 7 Cordas. Só fera. Sem
esquecer a nobre presença da Velha Guarda da Portela e do conjunto de choro
Época de Ouro protagonizado por seu pai.
A
obra foi laureada com o prêmio Sharp, proporcionou um Disco de Ouro para
Paulinho e o show de divulgação rendeu um álbum duplo ao vivo (BEBADACHAMA).
Dessa
maneira, Paulinho retomou sua carreira em grande estilo, antes de mergulhar em
novo período de ostracismo, quebrado apenas com seu álbum ACÚSTICO MTV ao vivo,
uma década depois.
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Faixas:
1. Quando O Samba
Chama (Paulinho da Viola)
2. Timoneiro
(Paulinho da Viola/Hermínio Bello de Carvalho)
3. Ame (Paulinho
da Viola/Élton Medeiros) – Particip.: Élton Medeiros
4. Alento (Paulo
César Pinheiro)
5. É Dificil
Viver Assim (Paulinho da Viola)
6. O Ideal É
Competir (Candeia/Casquinha)
7. Novos Rumos
(Rochinha/Orlando Porto)
8. Memórias
Conjugais (Paulinho da Viola)
9. Reverso Da
Paixão (Paulinho da Viola)
10. Dama De
Espadas (Paulinho da Viola)
11. Solução De
Vida (Paulinho da Viola/Ferreira Gullar)
12. Peregrino
(Noca da Portela/Toninho Nascimento)
13. Mar Grande
(Paulinho da Viola/Sérgio Natureza) – Particip.: Conj. Época de Ouro
14. Bebadosamba
(Paulinho da Viola)