Esse obscuro
álbum faz parte do capítulo que trata do início de carreira de Rita Lee após
sua separação d’Os Mutantes. Em 1973, a cantora paulistana oficialmente
desligada (expulsa?) da banda que a revelou, ensaiou a formação de um conjunto nomeado
Cilibrinas do Éden ao lado da amiga Lúcia Turnbull, assim como ela, cantora,
guitarrista e paulistana. A dupla apresentou algumas canções do que pretendiam
fosse seu álbum no mega-evento Phono 73 para o qual foi arregimentado o
super-elenco da gravadora Phonogram (ou Philips). Porém a numerosa plateia
presente, acostumada a ver Rita ao lado d’Os Mutantes, estranhou a novidade.
Ante
a má receptividade do público e o desinteresse da gravadora em levar a proposta
adiante, o álbum ficou na saudade e o projeto das Cilibrinas foi abortado. Rita
tocou sua carreira ao lado da banda Tutti Frutti, lançando em 1974 ATRÁS DO
PORTO TEM UMA CIDADE e, no ano seguinte, o icônico FRUTO PROIBIDO, que a
consagrou como “a rainha do rock brasileiro”.
Com o
sucesso de Rita, o disco ‘perdido’ das Cilibrinas passou a ser objeto de crescente
interesse dos fãs. Em 2000, o pesquisador Marcelo Fróes tentou lançá-lo pela Universal.
Segundo informa Fróes no livro “1973, O Ano que Reinventou a MPB”, o álbum
seria creditado apenas a Rita Lee. Entretanto, por divergências com relação à
distribuição de royalties, a coisa emperrou e o projeto foi engavetado.
O álbum
parecia estar destinado a desaparecer de cena. Porém, uma pequena gravadora europeia
especializada em world music, a Nosmoke Records, colocou-o no mercado em 2010 com
uma pequena tiragem. Segundo se cogita, a iniciativa partiu de brasileiros na
Europa. O álbum foi creditado ao grupo Cilibrinas do Éden (Rita e Lúcia)
embora, a rigor, tratasse-se de um projeto envolvendo os membros do que viria a
ser o grupo Tutti Frutti, como o guitarrista Luís Carlini. O disco recebeu bom
acabamento, inclusive um (falso) selo da Philips, dando-lhe ares de oficial.
Tecnicamente deveria ser considerado como “pirata” por não ter o aval da
gravadora, sendo colocado no mercado à revelia de todos os envolvidos. Não
fosse, todavia, por esse “vazamento”, o público possivelmente jamais teria
acesso à obra que permaneceria mofando nos arquivos da Universal.
Em
virtude dos acontecimentos agourentos que impediram o lançamento oficial do
álbum, não houve grande empenho em resgatá-lo. Arnaldo Baptista, em seu álbum
LÓKI? ainda deu uma estocada na ex-companheira (e ex-esposa) inserindo em sua
música “Cê Tá Pensando que eu Sou Lóki” os sarcásticos versos “cilibrina pra
cá, cilibrina prá lá, eu sou velho mas gosto de viajar”. Desacreditadas, parecia
que as Cilibrinas estavam fadadas ao esquecimento.
Ainda
assim, Rita reaproveitou três músicas. “Mamãe Natureza” foi o carro chefe do
álbum ATRÁS DO PORTO..., tendo sido, aliás, o primeiro hit de sua carreira solo.
“Gente Fina é Outra Coisa” passou a ser “Loco-Motivas” (integrando a trilha da
novela Locomotivas) com nova letra. “Bad Trip” foi recauchutada transformando-se
em “Shangri-lá” do álbum de 1980 (“Lança Perfume”). Em todos os casos, as novas
versões parecem perder das originais.
Marca
registrada da cantora, os rocks não faltaram no repertório do álbum. Há até
inserções de clássicos de Little Richard e dos Beatles. Seu ídolo Erasmo Carlos
é homenageado com “Minha Fama de Mau”. “E Você Ainda Duvida” um rock’n’roll
básico na linha de outros que Rita viria a compor como “Esse Tal de Roque Enrow”,
“Ôrra Meu” ou “On the Rocks”.
O
curioso é que as faixas mais interessantes do álbum são as acústicas e menos
pesadas como “Festival Divino”, “Bad Trip (Ainda Bem)”, “Vamos Voltar ao
Princípio porque lá é o Fim” e “Paixão da Minha Existência Atribulada” com
belas vocalizações das meninas.
E
terminando de forma intrigante, a canção, se é que podemos chamá-la assim, que
dá título ao álbum. Uma viagem sonora cheia de ruídos, gemidos e efeitos eletrônicos,
criados possivelmente sob a influência de drogas alucinógenas.
A
versão ‘pirata’ do álbum teve a ordem das canções modificada e houve acréscimo
de duas faixas bônus com Os Mutantes, uma delas extraída de um compacto, não
presente em nenhum outro álbum: “Mande um Abraço pra Velha”.
A
leitura que hoje se faz de CILIBRINAS DO ÉDEN é que, muito mais do que um
curioso registro do início de carreira de Rita Lee, tem qualidades de sobra. É referenciado
como um dos clássicos da psicodelia nacional, reforçado não apenas pelo
conteúdo “viajante” de algumas faixas, mas pelo próprio nome do grupo
(cilibrina ou silibrina, como dizem alguns, seria um código para LSD) e pela
arte lisérgica da capa.
.
Faixas:
01 - Mamãe Natureza
02 - E Você Ainda Duvida
03 - Minha Fama de Mau
04 - Gente Fina É Outra Coisa
05 - Paixão Da Minha Existência
Atribulada
06 - Festival Divino
07 - Bad Trip (Ainda Bem)
08 - Nessas Alturas Dos
Acontecimentos
09 - Vamos Voltar Ao Princípio
Porque Lá é o Fim
10 - Cilibrinas Do Éden
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