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16 de dez. de 2020

CILIBRINAS DO EDEN (1973)

 

Esse obscuro álbum faz parte do capítulo que trata do início de carreira de Rita Lee após sua separação d’Os Mutantes. Em 1973, a cantora paulistana oficialmente desligada (expulsa?) da banda que a revelou, ensaiou a formação de um conjunto nomeado Cilibrinas do Éden ao lado da amiga Lúcia Turnbull, assim como ela, cantora, guitarrista e paulistana. A dupla apresentou algumas canções do que pretendiam fosse seu álbum no mega-evento Phono 73 para o qual foi arregimentado o super-elenco da gravadora Phonogram (ou Philips). Porém a numerosa plateia presente, acostumada a ver Rita ao lado d’Os Mutantes, estranhou a novidade.

Ante a má receptividade do público e o desinteresse da gravadora em levar a proposta adiante, o álbum ficou na saudade e o projeto das Cilibrinas foi abortado. Rita tocou sua carreira ao lado da banda Tutti Frutti, lançando em 1974 ATRÁS DO PORTO TEM UMA CIDADE e, no ano seguinte, o icônico FRUTO PROIBIDO, que a consagrou como “a rainha do rock brasileiro”.

Com o sucesso de Rita, o disco ‘perdido’ das Cilibrinas passou a ser objeto de crescente interesse dos fãs. Em 2000, o pesquisador Marcelo Fróes tentou lançá-lo pela Universal. Segundo informa Fróes no livro “1973, O Ano que Reinventou a MPB”, o álbum seria creditado apenas a Rita Lee. Entretanto, por divergências com relação à distribuição de royalties, a coisa emperrou e o projeto foi engavetado.

O álbum parecia estar destinado a desaparecer de cena. Porém, uma pequena gravadora europeia especializada em world music, a Nosmoke Records, colocou-o no mercado em 2010 com uma pequena tiragem. Segundo se cogita, a iniciativa partiu de brasileiros na Europa. O álbum foi creditado ao grupo Cilibrinas do Éden (Rita e Lúcia) embora, a rigor, tratasse-se de um projeto envolvendo os membros do que viria a ser o grupo Tutti Frutti, como o guitarrista Luís Carlini. O disco recebeu bom acabamento, inclusive um (falso) selo da Philips, dando-lhe ares de oficial. Tecnicamente deveria ser considerado como “pirata” por não ter o aval da gravadora, sendo colocado no mercado à revelia de todos os envolvidos. Não fosse, todavia, por esse “vazamento”, o público possivelmente jamais teria acesso à obra que permaneceria mofando nos arquivos da Universal.

Em virtude dos acontecimentos agourentos que impediram o lançamento oficial do álbum, não houve grande empenho em resgatá-lo. Arnaldo Baptista, em seu álbum LÓKI? ainda deu uma estocada na ex-companheira (e ex-esposa) inserindo em sua música “Cê Tá Pensando que eu Sou Lóki” os sarcásticos versos “cilibrina pra cá, cilibrina prá lá, eu sou velho mas gosto de viajar”. Desacreditadas, parecia que as Cilibrinas estavam fadadas ao esquecimento.

Ainda assim, Rita reaproveitou três músicas. “Mamãe Natureza” foi o carro chefe do álbum ATRÁS DO PORTO..., tendo sido, aliás, o primeiro hit de sua carreira solo. “Gente Fina é Outra Coisa” passou a ser “Loco-Motivas” (integrando a trilha da novela Locomotivas) com nova letra. “Bad Trip” foi recauchutada transformando-se em “Shangri-lá” do álbum de 1980 (“Lança Perfume”). Em todos os casos, as novas versões parecem perder das originais.

Marca registrada da cantora, os rocks não faltaram no repertório do álbum. Há até inserções de clássicos de Little Richard e dos Beatles. Seu ídolo Erasmo Carlos é homenageado com “Minha Fama de Mau”. “E Você Ainda Duvida” um rock’n’roll básico na linha de outros que Rita viria a compor como “Esse Tal de Roque Enrow”, “Ôrra Meu” ou “On the Rocks”.

O curioso é que as faixas mais interessantes do álbum são as acústicas e menos pesadas como “Festival Divino”, “Bad Trip (Ainda Bem)”, “Vamos Voltar ao Princípio porque lá é o Fim” e “Paixão da Minha Existência Atribulada” com belas vocalizações das meninas.

E terminando de forma intrigante, a canção, se é que podemos chamá-la assim, que dá título ao álbum. Uma viagem sonora cheia de ruídos, gemidos e efeitos eletrônicos, criados possivelmente sob a influência de drogas alucinógenas.

A versão ‘pirata’ do álbum teve a ordem das canções modificada e houve acréscimo de duas faixas bônus com Os Mutantes, uma delas extraída de um compacto, não presente em nenhum outro álbum: “Mande um Abraço pra Velha”.

A leitura que hoje se faz de CILIBRINAS DO ÉDEN é que, muito mais do que um curioso registro do início de carreira de Rita Lee, tem qualidades de sobra. É referenciado como um dos clássicos da psicodelia nacional, reforçado não apenas pelo conteúdo “viajante” de algumas faixas, mas pelo próprio nome do grupo (cilibrina ou silibrina, como dizem alguns, seria um código para LSD) e pela arte lisérgica da capa.

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Faixas:

01 - Mamãe Natureza

02 - E Você Ainda Duvida

03 - Minha Fama de Mau

04 - Gente Fina É Outra Coisa

05 - Paixão Da Minha Existência Atribulada

06 - Festival Divino

07 - Bad Trip (Ainda Bem)

08 - Nessas Alturas Dos Acontecimentos

09 - Vamos Voltar Ao Princípio Porque Lá é o Fim

10 - Cilibrinas Do Éden



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