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7 de dez. de 2020

BETH CARVALHO – CANTO POR UM NOVO DIA (1973)

 


Beth Carvalho viveu seus tempos de maior popularidade entre 1976 a 1988. Nesses 13 anos, a cantora carioca lançou 13 discos, um por ano, pelo selo RCA Victor. “Vou Festejar”, “Coisinha do Pai”, “Saco de Feijão”, “As Rosas não Falam” são alguns dos sambas dessa fase que caíram no gosto do público.

Nos primórdios de sua carreira, todavia, não parecia haver indicação de que Beth estivesse destinada ao samba. Seu primeiro registro musical data de 1965: o compacto simples “Por Quem Morreu de Amor”, composição de Menescal e Bôscoli, produzido por Eumir Deodato, nomes vinculados à bossa nova.

Ao lado de Eduardo Conde (que ficou famoso como ator principal da peça Jesus Cristo Superstar), teve uma rápida passagem como vocalista do conjunto 3D de Antonio Adolfo (com a presença também de Chico Batera e Hélio Belmiro). Gravaram um obscuro LP, MUITO NA ONDA (1966), com um repertório de jazz e bossa nova. Curiosamente, esse disco, dificílimo de achar no Brasil, pode ser encontrado em CD no... Japão (e ainda com faixas bônus!). Os nipônicos nutrem verdadeira veneração por Beth Carvalho que sequer pisou naquele país.

O passo seguinte da vida artística da cantora tampouco revela o caminho que viria a trilhar: interpretou a festivalesca “Andança” (Edmundo Souto, Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi), que cravou um honroso 3º lugar no FIC/68. À sua frente, duas concorrentes imbatíveis: “Sabiá” (Tom e Chico) e “Prá não Dizer que não Falei das Flores” (Vandré). “Andança” fez bonito e tornou-se emblemática na carreira da intérprete. Aproveitando a maré, lançou o primeiro disco solo, ANDANÇA (1969, Odeon), puxado pela canção-título, secundada nesta e em mais 3 faixas pelos jovem-guardistas Golden Boys, inclusive numa expressiva leitura de “Sentinela” de Milton Nascimento com a participação do mesmo ao violão. No repertório, prevalecia bossa e MPB.

Alguns registros dessa fase pré-samba podem ser conferidos em dois dos cinco volumes do box PRIMEIRAS ANDANÇAS, lançado em 2010 que revela as primeiras gravações da artista mangueirense, parte das quais havia sido lançada apenas em singles avulsos.

Sua conversão definitiva ao samba ocorreu por motivos, digamos, ideológicos. “A Bossa Nova foi um movimento lindíssimo da Zona Sul, Arpoador, Ipanema, Leblon, Copacabana e que merece ser cantado (...). Mas o Brasil pegando fogo, em plena ditadura e os caras falando do barquinho, do pato, da brisa. Cantar samba feito por compositores negros, pobres e marginalizados é uma forma de protesto”, afirmou, plena do brio ativista herdado das rodas do Cacique de Ramos.

CANTO POR UM NOVO DIA foi seu primeiro disco genuinamente de samba. Ainda que por uma pequena gravadora nacional, Tapecar, a produção foi esmerada bem como o repertório.

O grande destaque foi “Folhas Secas”, belíssima composição de seu patrono Nélson Cavaquinho (que comparece tocando violão) e Guilherme Brito. Consta que Elis Regina, através da indiscrição de César Camargo Mariano (marido de Elis e produtor do disco de Beth), tomou conhecimento da canção feita de encomenda (carro-chefe do álbum) e a incluiu, sem consentimento da sambista, em seu LP de 1973 pela Phonogram. A disputa pela primazia do lançamento provocou uma guerra das gravadoras, que respingou na relação entre as duas cantoras que nunca mais voltaram a se falar.

Outras pérolas do álbum são “Hora de Chorar” (Mano Décio e Jorginho Pessanha),“Velhice da Porta-Bandeira” (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro) e “Mariana da Gente” (João Nogueira). Presentes ainda, dentre outras, composições de Martinho da Vila e Mário Lago.

O séquito de acompanhantes é de primeira. No violão, além de Nelson Cavaquinho, Luiz Cláudio Ramos e Dino Sete Cordas; no cavaquinho, Zé Menezes; no baixo, Luizão Maia; na percussão, Chico Batêra, Mestre Marçal, Jorginho do Pandeiro e Bezerra da Silva; na bateria, Paulinho Braga; e no piano, César Camargo Mariano, também arranjador.

Beth viria a gravar mais dois grandes trabalhos pela Tapecar: PRA SEU GOVERNO (1974), produzido por Paulo Moura, contendo seu primeiro sucesso radiofônico: “1800 Colinas” (Gracia do Salgueiro), além de “Maior é Deus” (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro); e PANDEIRO E VIOLA (1975) com “Onde Está a Honestidade” (Noel Rosa). Essa trinca de álbuns, anteriores à sua fase mais conhecida, consolidaram-na como estrela maior do samba.

Com esses trabalhos, Beth conquistou apoio unânime da crítica especializada (Zuza Homem de Mello, Rildo Hora, Tárik de Souza e Sérgio Cabral, pai, eram alguns de seus deslumbrados fãs), embora o sucesso popular ainda estivesse por vir.

A ‘Madrinha do Samba’ ficou marcada também pelos artistas que ‘amadrinhou’ como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Fundo de Quintal e por aqueles que divulgou e resgatou como Nelson Cavaquinho e Cartola que tinham em Beth sua intérprete preferida.

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Faixas:

1. “Hora de chorar” (Mano Décio e Jorge Pessanha) 3:41

2. “Canto por um novo dia” (Garoto da Portela) 2:10

3. “Se é pecado sambar” (Manuel Santana)  4:19

4. “Homenagem a Nelson Cavaquinho” (Carlos Elias) 3:08

5. “Evocação nº1” (Nelson Ferreira) 2:42

6. “Velhice da Porta Bandeira” (Eduardo Gudin / Paulo Cesar Pinheiro) 3:25

7. “Folha Secas” (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito) 2:15

8. “Salve a preguiça meu pai” (Mario Lago) 2:07

9. “Mariana da gente” (João Nogueira) 3:52

10. “Fim de reinado” (Martinho da Vila) 2:16

11. “Clementina de Jesus” (Gisa Nogueira) 1:59

12. “Memória de um compositor” (Darcy da Mangueira / Betinho) 4:02

13. “Flor de Laranjeira / Sereia / São Jorge Meu Protetor”  (Medley) (Bernadino Silva, Beth Carvalho, Jorge Silva , Nelson Cavaquinho, Noel Silva, Umberto De Carvalho, Zé Pretinho) 3:05


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