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3 de dez. de 2020

NOUVELLE CUISINE (1988)

 


Numa época em que a MPB estava em derrocada e o rock oitentista ganhava espaço em meio a ritmos popularescos, surgiu um grupo musical em São Paulo na contramão da corrente, voltado para um estilo marginalizado pelo mercado, tido como ‘elitista’: o jazz. O Nouvelle Cuisine era ‘chique’ até no nome e seus 5 integrantes liderados por Guga Stroeter (que paralelamente comandava a Orquestra Heartbreakers) possuíam uma esmerada formação musical e acadêmica. O público mais exigente, carente de uma alternativa de qualidade face à cena musical, acolheu-o com entusiasmo.

As performances em night clubs serviram para alavancar a carreira de uma promissora convidada: seu nome, Marisa Monte.

Suas concorridas e elogiadas apresentações chamaram a atenção da WEA que os convidou para lançar um LP. O disco com 10 faixas cantadas em inglês teve surpreendente repercussão de público e crítica, a ponto de a multinacional arriscar-se a uma segunda empreitada: SLOW FOOD (1991). Nesse disco, abriram o repertório para a música brasileira, mesclando jazz com MPB. Contaram com o apoio de 3 nomes de peso: o maestro Oscar Castro-Neves na produção; a diva Gal Costa dando uma canja em “Notas”; e Caetano Veloso que cedeu especialmente para o grupo sua composição “Luzes”.

Nem com toda essa retaguarda, o 2º disco teve vendas significativas, o que fez com que a gravadora abrisse mão do grupo. O NC, já sem a formação original, tentou uma nova cartada, com NOVELHONOVO (1995) pela Eldorado, centrado em clássicos de MPB.

A carreira do grupo (rebatizado como Nouvelle) encerrar-se-ia com o FREE BOSSA (2000), pelo selo independente Yb Music em que, retomando as raízes, reabriu espaço a standards da música norte americana.

Carlos Fernando cujo talento como vocalista ‘cool’ parecia credenciá-lo a voos mais altos já havia abandonado o grupo, lançando um disco solo com canções de Chico Buarque ao lado de Toninho Horta; mesmo com seu potencial artístico, parecia determinado a abandonar a carreira musical, até vir a falecer em 2019. A morte de Carlos enterrou o sonho de o conjunto retomar a histórica formação original. Ficaram órfãos muitos fãs que se deliciaram com seu repertório sofisticado e a maneira elegante de tocar.

O primeiro CD de 1988 foi o mais cultuado, aquele que era a “cara” do grupo. Ainda que tocando apenas jazz não deixavam de conferir às interpretações e aos arranjos minimalistas um tempero de brasilidade que remete à bossa nova. Impossível não se deliciar com clássicos dos irmãos Gershwin, Rodgers & Hart e Duke Ellington (em verdade, manifestos universais e atemporais da boa música) como “Embraceable You” e “My Funny Valentine”. Para embalar esse produto primoroso, uma capa dupla com minucioso trabalho gráfico que aguça ainda mais o apetite do gourmet mais exigente.

A Warner chegou a lançá-lo em CD, numa edição limitada que se esgotou. Quem quiser obter um exemplar, mais fácil catar o vinil.

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Faixas:

1) Embraceable You ( George & Ira Gershwin)

2) Blues in the Night (Arlen & Mercer)

3) Riquixá (Pousse Pousse) (Cembranelli, Stroeter, Raelle)

4) So Long Frank Lloyd Wright (Paul Simon)

5) My Funny Valentine (Rodgers, Hart)

6) Lullaby of Birdland (Weiss, Shearing)

7) My One and Only ( George & Ira Gershwin)

8) Saint Louis Blues (Handy)

9) Day Dream (Strayhorn, Ellington, La Touche)

10) Chelsea Bridge (Strayhorn)

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