Numa
época em que a MPB estava em derrocada e o rock oitentista ganhava espaço em
meio a ritmos popularescos, surgiu um grupo musical em São Paulo na contramão
da corrente, voltado para um estilo marginalizado pelo mercado, tido como
‘elitista’: o jazz. O Nouvelle Cuisine era ‘chique’ até no nome e seus 5
integrantes liderados por Guga Stroeter (que paralelamente comandava a Orquestra
Heartbreakers) possuíam uma esmerada formação musical e acadêmica. O público
mais exigente, carente de uma alternativa de qualidade face à cena musical,
acolheu-o com entusiasmo.
As performances
em night clubs serviram para alavancar a carreira de uma promissora convidada: seu
nome, Marisa Monte.
Suas
concorridas e elogiadas apresentações chamaram a atenção da WEA que os convidou
para lançar um LP. O disco com 10 faixas cantadas em inglês teve surpreendente
repercussão de público e crítica, a ponto de a multinacional arriscar-se a uma
segunda empreitada: SLOW FOOD (1991). Nesse disco, abriram o repertório para a
música brasileira, mesclando jazz com MPB. Contaram com o apoio de 3 nomes de
peso: o maestro Oscar Castro-Neves na produção; a diva Gal Costa dando uma
canja em “Notas”; e Caetano Veloso que cedeu especialmente para o grupo sua
composição “Luzes”.
Nem com
toda essa retaguarda, o 2º disco teve vendas significativas, o que fez com que
a gravadora abrisse mão do grupo. O NC, já sem a formação original, tentou uma nova
cartada, com NOVELHONOVO (1995) pela Eldorado, centrado em clássicos de MPB.
A
carreira do grupo (rebatizado como Nouvelle) encerrar-se-ia com o FREE BOSSA
(2000), pelo selo independente Yb Music em que, retomando as raízes, reabriu
espaço a standards da música norte americana.
Carlos
Fernando cujo talento como vocalista ‘cool’ parecia credenciá-lo a voos mais
altos já havia abandonado o grupo, lançando um disco solo com canções de Chico
Buarque ao lado de Toninho Horta; mesmo com seu potencial artístico, parecia
determinado a abandonar a carreira musical, até vir a falecer em 2019. A morte
de Carlos enterrou o sonho de o conjunto retomar a histórica formação original.
Ficaram órfãos muitos fãs que se deliciaram com seu repertório sofisticado e a
maneira elegante de tocar.
O
primeiro CD de 1988 foi o mais cultuado, aquele que era a “cara” do grupo.
Ainda que tocando apenas jazz não deixavam de conferir às interpretações e aos
arranjos minimalistas um tempero de brasilidade que remete à bossa nova.
Impossível não se deliciar com clássicos dos irmãos Gershwin, Rodgers &
Hart e Duke Ellington (em verdade, manifestos universais e atemporais da boa
música) como “Embraceable You” e “My Funny Valentine”. Para embalar esse
produto primoroso, uma capa dupla com minucioso trabalho gráfico que aguça
ainda mais o apetite do gourmet mais exigente.
A
Warner chegou a lançá-lo em CD, numa edição limitada que se esgotou. Quem
quiser obter um exemplar, mais fácil catar o vinil.
.
Faixas:
1) Embraceable You ( George & Ira Gershwin)
2) Blues in the Night (Arlen & Mercer)
3) Riquixá
(Pousse Pousse) (Cembranelli, Stroeter, Raelle)
4) So Long Frank Lloyd Wright (Paul Simon)
5) My Funny Valentine (Rodgers, Hart)
6) Lullaby of Birdland (Weiss, Shearing)
7) My One and Only ( George & Ira Gershwin)
8) Saint Louis Blues (Handy)
9) Day Dream (Strayhorn, Ellington, La Touche)
10) Chelsea Bridge (Strayhorn)
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