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8 de nov. de 2021

EGBERTO GISMONTI – DANÇA DAS CABEÇAS (1976)

 

A respeitada gravadora alemã ECM prima por deter um seleto catálogo de jazz de vanguarda, música erudita contemporânea e world music. Conhecida como ‘selo do silêncio’, ou ‘o som mais belo depois do silêncio’ tem rígidos procedimentos para preservar a excelência técnica e artística dos trabalhos que têm o privilégio de estampar sua grife.

Alguns dos renomados artistas que tiveram suas obras lançadas pela ECM são Pat Metheny, Keith Jarrett, Jan Garbarek, Jack de Johnette, Chick Corea, Ralph Towner, Dave Holland, Gary Burton, Charlie Haden, Terje Rypdal e John Abercrombie.

O Brasil pode se orgulhar de ter cravado dois instrumentistas virtuosos nesse seleto clube: Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos. Eles dividem o álbum DANÇA DAS CABEÇAS, um marco na carreira artística de ambos. Viriam a lançar juntos também o disco DUAS VOZES (1985), além de outras obras pela mesma gravadora.

DANÇA DAS CABEÇAS, além de ser seu primeiro trabalho pelo selo ECM, marca o ingresso de Gismonti no mercado internacional. O disco arrebanhou diversos prêmios internacionais que o tornaram mundialmente conhecido.

Nele, Egberto desfila toda sua habilidade no manejo do violão de oito cordas e ao piano, além de tocar flauta de madeira. Embora o disco seja apenas a ele imputado, o mais honesto seria dividir os créditos com Naná que forneceu o essencial suporte no berimbau, na percussão e nas vocalizações.

Curioso que, efetivado o convite da     ECM, a intenção original de Egberto era envolver diversos músicos brasileiros no projeto (Robertinho Silva, Luiz Alves e Nivaldo Ornellas). Ocorre que à época, o país vivia sob um regime militar que criava empecilhos a projetos de natureza cultural. Havia uma exigência absurda de que músicos que desejassem participar de gravações no exterior, deveriam empenhar um vultoso depósito compulsório para conseguir a concessão, o que inviabilizou financeiramente a ida dos instrumentistas requisitados.

A reunião com Naná Vasconcelos, que já se encontrava na Europa, deu-se através da apresentação de um amigo comum, permitindo a readequação do projeto que, por pouco, não foi solo. O conceito do álbum, exposto a Naná e prontamente por ele acatado era que se tratava de dois curumins andando na floresta amazônica densa e úmida e vendo pântanos, clareiras, animais, rios, índios etc.

Essa concepção elaborada por Gismonti aparentemente era apenas uma diretriz geral já que as faixas que compõem o álbum, à exceção de “Dança Solitária”, não eram inéditas nem guardam relação com a temática. Já estavam presentes (com arranjos bem diferentes) em discos anteriores do músico e também no álbum ALTURA DO SOL (1975) do flautista norte-americano Paul  Horn (inédito no Brasil), integralmente dedicado ao músico brasileiro e com sua participação.

Todas as faixas são de Egberto, (uma delas em parceria com Geraldo Carneiro) exceto “Águas Luminosas” de autoria de sua ex-mulher Dulce Bressane e “Fé Cega Faca Amolada”, consagrada canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, presente no álbum MINAS (1975).

No lançamento em vinil, as seis primeiras faixas se entrelaçam num continuum, formando a “Parte 1”, que ocupa o lado A do LP em que prevalece o violão. O mesmo ocorre em relação às demais faixas que compõem a “Parte 2”, integrando o lado B, onde o piano se sobressai.

O disco foi gravado e mixado em apenas em três dias em Oslo, em conformidade com as normas adotadas pela ECM.

A impactante foto que ilustra a capa de autoria do fotógrafo húngaro Lajos Kereztes, apesar de sua beleza, foge ao padrão da gravadora, normalmente composto por pinturas abstratas ou pictóricas paisagens glaciais. A imagem, escolhida por Gismonti, exibe o muro intensamente avermelhado de uma residência humilde, com uma janela que revela um pano roto pendurado num varal. Gismonti escolheu a foto por denotar que mesmo ambientes modestos e despojados exalam beleza, algo que sua música pretende demonstrar.

Conforme define o crítico Tyran Grillo do site ‘ecmreviews.com’, “é o tipo de música que alegra estar vivo, uma lufada de clareza no ar poluído.”

Na extensa discografia de Egberto de mais de 50 títulos, esse se sobressai como um dos mais marcantes de sua carreira. Lançado em vinil no Brasil pela EMI, o álbum é, apesar de sua relevância, difícil de se achar em CD, até mesmo no exterior, embora tenha sido lançado em diversos países.

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Faixas:

 

1 - Quarto Mundo + 1 (Egberto Gismonti)

2 --Dança das Cabeças (Egberto Gismonti)

3 - Águas Luminosas (Dulce Bressane)

4 - Celebração de Núpcias (Egberto Gismonti)

5 - Porta Encantada (Egberto Gismonti)

6 - Quarto Mundo + 2 (Egberto Gismonti)

7 - Tango (Egberto Gismonti/Geraldo Carneiro)

8 - Bambuzal (Egberto Gismonti)

9 - Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos)

10 - Dança Solitária (Egberto Gismonti)

 

 

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