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11 de nov. de 2020

NANÁ VASCONCELOS - SAUDADES (1979)

 

Ainda que cultuadíssimo no exterior, Naná Vasconcelos faleceu sem ter experimentado reconhecimento à altura em seu próprio país. Mesmo padrão, aliás, vivenciado por outras feras da percussão como Airto e Dom Um Romão que só tiveram suas virtudes aclamadas ao sair do Brasil.

A impressionante trajetória de Naná suplantou a de todos. Atuou ao lado de algumas das maiores lendas do jazz, do blues, do pop e da MPB. Só para citar algumas: Paul Simon, Talking Heads, B B King, Laurie Anderson, Ryuichi Sakamoto, John Zorn, Miles Davis, Jean Luc Ponty, Art Blakey, Ron Carter, Gato Barbieri, Herb Alpert, Milton, Caetano, Gil… Foi eleito pela conceituada revista Down Beat como o maior percussionista do mundo por nada menos do que oito vezes!

O auge de sua carreira ocorreu durante a primeira metade dos anos 70 e a primeira dos 80, quando atuou em diversos trabalhos pelo prestigioso selo germânico ECM: com Egberto Gismonti em SOL DO MEIO DIA, DUAS VOZES e no premiadíssimo DANÇA DAS CABEÇAS; EVENTYR com Jan Garbarek e John Abercombre, além de diversos álbuns com Pat Metheny, dentre outros. Participou também do bem sucedido projeto CODONA (nome extraído da união das duas primeiras letras dos participantes Collin Wallcott, Don Cherry e Naná) que rendeu 3 álbuns que fundem jazz e world music.

Esse magnífico SAUDADES, Concerto de Berimbau e Orquestra, foi seu único trabalho solo pela ECM. Os executivos da gravadora ofereceram-lhe todo suporte para o lançamento do disco, algo bem diferente do que acontecia em sua terra natal, constata Naná com menos orgulho do que mágoa. O disco de 5 faixas foi gravado na Alemanha com a Stuttgart Radio Symphony Orchestra. A pompa orquestral presta-se apenas para dar roupagem de gala às estrepolias sonoras de Naná. Como em “O Berimbau” de 19 minutos, uma viagem sonora em que o pernambucano demonstra toda sua habilidade com o instrumento, reafirmada em “Dado”, em que prescinde de acompanhamento. A vocalização, quando utilizada, é para expandir as possibilidades de expressão sonora, como em “Vozes”. Gismonti comparece tocando violão em “Cego Aderaldo” de sua autoria, única faixa não composta por Naná. Curiosamente, essa música também está presente em dois discos de Gismonti: CIRCENSE, seu álbum mais popular, acompanhado do violinista L Shankar, e em FOLK SONGS, ao lado de Charlie Haden e Jan Garbarek, também pelo selo ECM.   

Mesmo tocando com músicos de várias nacionalidades e tendências, Naná jamais deixou de afirmar a brasilidade em seu som.

No Brasil, saiu em vinil pela Warner. No exterior, também em CD.

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Faixas (todas compostas por Naná Vasconcelos, exceto a indicada):

1. "O Berimbau" - 18:58

2. "Vozes (Saudades)" - 3:14

3. "Ondas (Na Óhlos De Petronila)" - 7:53

4. "Cego Aderaldo" (Egberto Gismonti) - 10:32

5. "Dado" - 3:36



JOÃO GILBERTO - O AMOR, O SORRISO E A FLOR (1960)

 

Produzido por Tom Jobim, esse é certamente um dos discos mais emblemáticos da bossa nova. O segundo de uma trilogia básica do genial músico baiano que inclui: CHEGA DE SAUDADE (1959) e JOÃO GILBERTO (1961). O primeiro, além da faixa título, contém outra jobiniana, “Desafinado”, além de “Lobo Bobo” (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli). O segundo traz “Insensatez” (Tom e Vinícius), “Samba da Minha Terra”(Dorival Caymmi) e “O Barquinho” (Menescal e Bôscoli).

Foi a partir daí que se consumou a invasão do gênero no mercado internacional.  São 3 discos essenciais que saíram em anos consecutivos pela Odeon e que inacreditavelmente nunca chegaram ao CD. Ou melhor, chegaram capengas em 1993, compondo o álbum THE LEGENDARY (no mercado internacional) ou O MITO (no Brasil) - título que hoje certamente seria revisto -, espremendo as 38 faixas da edição tripla do vinil em um único CD.

Esta compilação foi lançada pela EMI mas recolhida das lojas em função da ação judicial por danos morais e materiais movida por João, reconhecidamente preciosista no que diz respeito à integridade e à perfeição de sua obra. João não aceitou a iniciativa da gravadora de, sem sua autorização, mesclar aqueles 3 álbuns antológicos num pacote único, alterando a ordem das faixas e modificando a sonoridade das gravações, originalmente mono, com o objetivo de conferir-lhe um suposto aprimoramento de áudio.

A pendenga jurídica que daí se originou arrastou-se por três décadas e lamentavelmente privou o acesso do público a esses registros históricos, o que não impediu que algumas das interpretações ali contidas firmassem-se como verdadeiros hinos da bossa nova, como é o caso de “Samba de Uma Nota Só”, “Corcovado” e “Meditação” (de onde saíram, aliás, as palavras que dão título ao álbum), todas de Tom Jobim e “O Pato” (Jayme Silva/Neusa Teixeira). 

São doze faixas com duração entre 1:20 e 2:00 minutos (6 das quais compostas por Jobim) com arranjos simples e concisos, pequeninas, mas suficientes para atestar a genialidade do músico, cuja batida revolucionou a estética da MPB. Há até uma composição sua, instrumental, em homenagem a Luiz Bonfá.

Toda uma geração de artistas, de Chico a Jorge Ben Jor, de Paulinho da Viola a Roberto Carlos foi influenciada pela magia da interpretação de João contida nesses álbuns iniciais. Uma maneira de tocar enganosamente simples mas que, se desvendada, revela-se complexa e elaborada, com canto e violão seguindo andamentos independentes, mas, ao fim, casando-se perfeitamente. O canto foi igualmente revolucionário, rompendo com a tradição de interpretações épicas e implementando um clima ‘cool’ na linha de Chet Baker.

Essa trilogia crucial marcou o início efetivo da carreira fonográfica de João Gilberto, antecedida apenas pela gravação do 78 rotações “Chega de Saudade” e pelo histórico acompanhamento ao violão a Elizeth Cardoso em duas faixas do álbum CANÇÃO DO AMOR DEMAIS (1958).

Três anos após a trilogia inicial, foi lançado pela gravadora Verve o álbum GETZ/GILBERTO em parceria com o saxofonista Stan Getz, o qual se tornou o mais conhecido registro da bossa nova de todos os tempos. Contém a famosíssima gravação de “Garota de Ipanema” (parceria de Tom com Vinícius) com vocalização de Astrud Gilberto (esposa de João). Curioso que este disco ficou um ano engavetado pelo fato de a gravadora ter dúvidas a respeito da viabilidade econômica do projeto que, uma vez lançado, alcançou o segundo lugar nos EUA na lista da Billboard, atrás apenas de A HARD DAY´S NIGHT dos Beatles, façanha mais impressionante se consideramos tratar–se de um álbum de jazz!

Dentro da discografia de João, além desses 4 LPs iniciais, merecem registro mais dois álbuns fundamentais: JOÃO GILBERTO (1973) pela Polydor, talvez seu álbum mais genial, conhecido pela faixa de abertura, “Águas de Março” (Tom Jobim), além de “Falsa Baiana” (Geraldo Pereira) e “Izaura” (Herivelto Martins). E AMOROSO (1977) pela Warner que em meio a interpretações em inglês, espanhol e italiano, contém “Wave” e “Triste” de Tom Jobim.

A importância de João para a música brasileira pode ser resumida nas palavras de Caetano Veloso que na canção “Prá Ninguém”, após listar momentos áureos da MPB, conclui: “Melhor do que tudo isso, só o silêncio. Melhor que o silêncio, só João”.

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FAIXAS:

1. Samba de uma Nota Só" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:35

2."Doralice" (Dorival Caymmi, Antônio Almeida) — 1:25

3."Só em Teus Braços" (Antônio Carlos Jobim) — 1:46

4."Trevo de Quatro Folhas" (H. Woods, M. Dixon) — 1:21

5."Se É Tarde, Me Perdoa" (Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli) — 1:43

6."Um Abraço no Bonfá" (João Gilberto) — 1:35

7."Meditação" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:44

8."O Pato" (Jayme Silva, Neuza Teixeira) — 1:56

9."Corcovado" (Antônio Carlos Jobim) — 1:58

10."Discussão" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:47

11."Amor Certinho" (Roberto Guimarães) — 1:50

12."Outra Vez" (Antônio Carlos Jobim) — 1:45


TRILHA SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO (1977)

 


Seria inimaginável a Rede Globo bancar hoje trilhas sonoras de novelas e séries com a qualidade de outrora. Os programas infantis em especial foram martirizados pela decadência do nível musical promovido pelas redes televisivas e o advento da geração Xuxa que marca a idiotização de que os “baixinhos” foram vítimas. Mas, acredite, houve um tempo em que as crianças mereciam respeito.

Um exemplo contundente é a TRILHA DO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO que reúne canções de uma seleção de compositores pra adulto nenhum botar defeito: Gil (música tema: “marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo”), Caetano, Chico & Francis Hime, Dorival Caymmi, Sérgio Ricardo, Ivan Lins & Vítor Martins, João Bosco & Aldir Blanc, Geraldo Azevedo, Jards Macalé & Marlui Miranda colocaram seus talentos em prol da promoção cultural da petizada.

Nas interpretações, mais alguns craques: Gal, Bethânia, Lucinha Lins e o MPB-4. É verdade que nem todas as faixas foram compostas para a trilha. É o caso da ecológica “Passaredo” que já constava em MEUS CAROS AMIGOS (1976) de Chico, e da psicodélica “Peixe” do álbum DOCES BÁRBAROS (1976). Mas, predominaram canções inéditas, compostas especialmente para dar vida aos personagens de Monteiro Lobato, sob a direção de Guto Graça Mello (que também assina uma das melhores músicas do disco, a instrumental “Saci”) e a produção esmerada de Dori Caymmi (autor de duas faixas em parceria com Paulo César Pinheiro).

O seriado, uma criação caprichada da Globo em colaboração com a TVE e o MEC, estendeu-se ininterruptamente por quase uma década, merecendo uma segunda trilha (VOL. 2) em 1979, igualmente produzida por Dori, mas sem contar com o timaço da primeira versão. Dori já subscrevera pouco antes outra trilha primorosa, a da novela “Gabriela”. Com a ressurreição do programa em 2001 (por mais 6 anos), as duas trilhas da primeira temporada foram recuperadas e as antigas canções foram resgatadas com nova roupagem por nova geração de intérpretes: Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Cássia Eller, Lenine, Pato Fu, Jota Quest, Cidade Negra, Paulo Ricardo, Jorge Vercillo, Max Vianna. Em que pese o esplendor do elenco, ao projeto faltou o encanto da versão original. Lançado em CD pela Série Masters.

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FAIXAS:

01. Narizinho (Ivan Lins – Vitor Martins) - Lucinha Lins

02. "Ploquet Pluft Nhoque" (Jaboticaba) (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Papo de Anjo

03. Peixe (Caetano Veloso) - Doces Bárbaros

04 . Saci (Guto Graça Mello) - Papo de Anjo

05. Visconde de Sabugosa (João Bosco – Aldir Blanc) - João Bosco

06. Dona Benta (Ivan Lins – Vitor Martins) - José Luís (Zé Luiz Mazziotti)

07. Sítio do Picapau Amarelo (Gilberto Gil) - Gilberto Gil

08. Pedrinho (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Aquarius

09. Arraial dos Tucanos (Geraldo Azevedo – Carlos Fernando) - Ronaldo Malta

10. Tia Nastácia (Dorival Caymmi) - Dorival Caymmi

11. Passaredo (Francis Hime – Chico Buarque de Hollanda) - MPB4

12. Emília (Sergio Ricardo) - Sérgio Ricardo

13. Tio Barnabé (Marlui Miranda – Jards Macalé – Xico Chaves) - Marlui Miranda e Jards Macalé



10 de nov. de 2020

ALMIR SATER (1981)

 


Também conhecido como “Estradeiro” (a faixa de abertura), este foi o álbum de estreia do violeiro, cantor e compositor campo-grandense. Essa canção, aliás, simboliza bem o espírito desprendido do genuíno artista: “Cantei ao velho peão, fiz versos pra burguesia. E de quando em quando, o dono das terras falava: fique violeiro pois tem dinheiro e pousada... e eu viajar”. De certa forma, traduz a trajetória aventureira de Almir que abandonou a universidade de Direito para se dedicar à música.

O grande público que o conheceu depois de sua atuação em novelas ao lado de Sérgio Reis, de canções despojadas que caíram no gosto popular ou das parcerias com Renato Teixeira que renderam “manhas, manhãs, massas e maçãs”, talvez não saiba que Almir era em essência um violeiro. Mais que isso, liderou um movimento que trouxe um sopro de renovação à estigmatizada viola caipira aproximando-a de ritmos internacionais como o blues e o folk, universalizando-a e dando-lhe um status de respeitabilidade.

Sua performance pode ser melhor conferida na díade INSTRUMENTAL e INSTRUMENTAL 2, álbuns em que abre mão da vocalização para se concentrar no que melhor sabe fazer: tocar viola, a ponto de ter-se tornado um dos grandes instrumentistas do país.

Almir que vinha de trabalhos ao lado de Tetê Espíndola e Diana Pequeno, foi convidado pela Continental a gravar este primeiro álbum solo, talvez o mais autêntico e expressivo de sua discografia. Oito das dez músicas são composições próprias, quatro em parceria com o poeta Paulo Klein. Marca também o início de seu vínculo com os compositores Paulo Simões e Geraldo Roca (autores do hino “Trem do Pantanal”) e conta com a participação, na faixa “Canta Viola” de seu mestre de viola Tião Carreiro, cujo virtuosismo motivou-o a dedicar-se ao instrumento.

Sem abandonar a sonoridade caipira tradicional da viola de dez cordas incorporada a ritmos latino-americanos, faz incursões experimentais além de combiná-los (o que pode ser novidade para os ortodoxos no segmento) com boas letras. Como resultado, agrada públicos bem distintos que vão do sertanejo de raiz ao jazz/erudito. Participações: Tetê Espíndola, Alzira Espíndola e Paulo Simões.

Saiu em CD numa edição econômica remasterizada junto com outro disco de Almir, RASTA BONITO (1989).

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Faixas:

1. Estradeiro (Almir Sater , Paulo Klein) 3:35

2. Canta Viola (Almir Sater) 2:28

3. Semente (Almir Sater , Paulo Simões) 2:54

4. O Carrapicho e a Pimenta (Almir Sater , Paulo Klein) 2:39

5. Flor do amor (Almir Sater) 2:59

6. Aqui Agora Crianças (Geraldo Roca , Paulo Simões) 3:13

7. Velhos Amigos (Paulo Simões) 2:19

8. Luz Da Fé (Almir Sater , Paulo Klein) 3:03

9. Bicho Preguiça (Almir Sater , Paulo Klein) 2:38

10. No Quintal De Casa (Almir Sater) 3:50



DOCES BÁRBAROS (1976)

 

“Doces Bárbaros” foi a designação conferida a um supergrupo efêmero (de um só disco) formado por Caetano, Gil, Gal e Bethânia. 

Apesar de reunir a elite baiana da MPB, no auge de suas respectivas carreiras, esse álbum duplo ao vivo permanece até hoje no limbo. Em pouco tempo, foi retirado de catálogo pela Philips que fortuitamente contava com os quatro em seu plantel. Apesar do prestígio dos integrantes, o disco não emplacou nem mesmo entre os inúmeros fãs que continuaram prestigiando os trabalhos solo de carreira.

De fato, o álbum parecia mesmo não ter sido destinado a alcançar sucesso comercial. As interpretações fogem do convencional. Algumas faixas se estendem por 7 ou 8 minutos. As vozes dos intérpretes não vibram em uníssono, uma se sobressai à outra, aparentando falta de entrosamento.

Ainda que contando com uma banda de suporte de primeira (Tomaz Improta ao piano, Arnaldo Brandão no baixo, Perinho Santana na guitarra, Chiquinho Azevedo na batera, Tuzé de Abreu e Mauro Senise nos sopros e Djalma Corrêa na percussão) e sem contar com os recursos de estúdio, a qualidade técnica das gravações deixa a desejar.

Além de problemas com a censura (que cortou uma das faixas), houve um contratempo inesperado com as autoridades: Gil foi detido por porte de maconha, interrompendo a peregrinação do espetáculo ainda em seu início.

Pra culminar, o álbum teve receptividade negativa dos críticos. Com tantas agruras, o disco parecia estar fadado ao fracasso.

No entanto, uma leitura atual inclina-se a resgatar os créditos desse injustiçado álbum. Muito do que foi objeto de crítica, mereceria ser motivo de louvor. A ausência de recursos técnicos foi amplamente compensada pela emoção e improviso do show ao vivo (apenas 4 faixas foram gravadas em estúdio). Ao abrir mão do formalismo e privilegiar a autenticidade, o registro capta mais fielmente o espírito libertário que permeava a ligação entre os quatro artistas que mantinham uma relação de proximidade que até hoje perdura. Provindos (à exceção de Bethânia) do tropicalismo e submetidos, no caso de Gil e Caetano, ao exílio, vivenciavam à época uma fase hippie/esotérica, atestável pelo visual descolado, o porte magérrimo, trajes brancos folgados, pulseiras, colares. Sem abrir mão da ousadia e do experimentalismo como nas desbundantes “Peixe”, “Tarasca Guidon” e “Eu e Ela Estávamos Ali Encostados na Parede”, prevaleceu a intenção de resgatar as raízes afro-baianas.

A ascendência de Bethânia (a quem, aliás, deve-se a iniciativa de promoção do histórico encontro) deve ter interferido no rumo do projeto. Na verdade, a proposta do encontro dos quatro mitos era basicamente comemorar seus dez anos de carreira. Aparentemente, tratava-se de uma ‘média aproximada’, já que as carreiras fonográficas de Bethânia e Gil tinham respectivamente onze e treze anos enquanto as de Caetano e Gal contava nove anos (desde o álbum comum DOMINGO).

Apesar da celebração, grande parte das 18 faixas era de inéditas, a maioria composições de Gil e Caetano. As exceções ficam por conta de “Fé Cega Faca Amolada” do repertório de Milton Nascimento, “Tarasca Guidon” de Waly Salomão e do clássico “Atiraste uma Pedra” de Herivelto Martins e David Nasser.  

Afora todas considerações, um disco que traz a marca desses quatro geniais artistas em perfeita sintonia e no auge da criatividade, só pode figurar em primeiro plano.

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Faixas:

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Disco 1

1. "Os Mais Doces Bárbaros" (Caetano Veloso) - 6:42

2. "Fé Cega, Faca Amolada" (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 5:30

3. "Atiraste Uma Pedra" (Herivelto Martins, David Nasser) - 3:59

4. "Pássaro Proibido" (Maria Bethânia, Caetano Veloso) - 4:38

5. "Chuck Berry Fields Forever" (Gilberto Gil) - 5:25

6. "Genesis" (Caetano Veloso) - 8:46

7. "Tarasca Guidon" (Waly Salomão) - 7:27

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Disco 2

1. "Eu e Ela Estávamos Ali Encostados na Parede" (Gilberto Gil) - 4:13

2. "Esotérico" (Gilberto Gil) - 4:09

3. "Eu Te Amo" (Caetano Veloso) - 3:00

4. "O Seu Amor" (Gilberto Gil) - 4:27

5. "Quando" (Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil) - 4:13

6. "Pé Quente, Cabeça Fria" (Gilberto Gil) - 3:49

7. "Peixe" (Caetano Veloso) - 3:16

8. "Um Índio" (Caetano Veloso) - 4:42

9. "São João, Xangô Menino" (Caetano Veloso, Gilberto Gil) - 4:31

10. "Nós, Por Exemplo" (Gilberto Gil) - 4:01

11. "Os Mais Doces Bárbaros" - Reprise (Caetano Veloso) - 1:20





9 de nov. de 2020

JOYCE – FEMININA (1980)


Joyce Moreno (que até a década anterior era apenas Joyce) teve formação privilegiada. Nascida em Copacabana, fez colégio em Ipanema e graduou-se em jornalismo pela PUC-RJ. Foi criada num ambiente familiar onde se cultivavam o jazz e a bossa nova. 

Feminista numa época em que o tema ainda era tabu, foi uma das compositoras inseridas com maior propriedade na trilha sonora da série Malu Mulher que trazia a faixa “Feminina”, defendida pelo Quarteto em Cy.

Na voz da compositora, essa canção passaria a integrar o quinto trabalho de Joyce e que veio a dar título ao álbum, lançado pela EMI. O disco FEMININA tornou a cantora carioca popular, catapultado por “Clareana”, finalista do Festival MPB-80, que contou com a graciosa participação de suas filhinhas, Clara e Ana (de cujos nomes foi feita a combinação que originou o título da música).

À época, a carreira artística de Joyce contava com mais de 10 anos. A venturosa artista já dera start em sua trajetória fonográfica com o pé direito. Seu ‘debut’ álbum fora produzido por Dori Caymmi e tivera a apresentação de capa redigida por ninguém menos do que Vinícius de Moraes. Ademais, mostrou ela desde cedo um faro invulgar para revelar novos autores. Esse disco (de 1968 pela Philips) trouxe um repertório formado por compositores ainda iniciantes na cena musical. Alguns deles: Paulinho da Viola, Marcos Valle, Jards Macalé, Francis Hime, Caetano Veloso e Toninho Horta. Ainda que com tamanhos atributos, o álbum ficou circunscrito a um público reduzido.

100% autoral, FEMININA pode ser considerado o primeiro álbum de êxito comercial da artista carioca. Além de “Clareana” e “Feminina”, traz três composições de Joyce que já haviam feito sucesso em interpretações de artistas da primeira linha da MPB. “Essa Mulher” fora gravada por Elis sendo também o título do álbum que a contém, lançado em 1979. Nesse mesmo ano, Bethânia trazia “Da Cor do Pecado” no álbum MEL. Um ano antes, Milton Nascimento emplacara “Mistérios” com a participação do Boca Livre no icônico LP duplo CLUBE DA ESQUINA 2.

FEMININA, ainda que tenha sido um disco bem sucedido, merece figurar como injustiçado por duas razões. A primeira é que, não obstante sua boa aceitação, ficou inédito em CD por nada menos do que 30 anos. Chegara apenas a fazer parte do projeto 2 EM 1, série barata, desprovida de créditos que juntava arbitrariamente dois LPs em um CD. Enquanto isso, o vinil alcançava preços astronômicos nos sebos. A segunda é que, engavetado pela EMI no Brasil, o álbum foi “descoberto”nos anos 90 na Europa, tornando-se um enorme sucesso lá fora. Conforme ela mesma informa à revista Época, o LP chegou a ser avaliado em U$ 500,00 nos sebos de Londres.

O mais curioso é que a ressurreição do disco deveu-se aos DJ’s londrinos que enxergaram na música “Aldeia de Ogum” (faixa vocal-instrumental que sequer figurava entre as mais conhecidas por aqui) potencial para embalar os clubes noturnos. A música, sampleada (ou na versão ‘crua’, sem efeitos) tornou-se enorme sucesso nas pistas de dança, surfando na onda do drum’n´bossa.

O prestígio de Joyce estendeu-se ao Japão, onde é possível encontrar sem dificuldade boa parte da sua discografia. Há até mesmo um CD em que ela interpreta standards de jazz, JOYCE MORENO COOL, inédito no Brasil.

Duas das composições de FEMININA vieram a integrar o bem sucedido projeto beneficente Red Hot + Rio - vol 2: “Banana” e “Mistérios”.

FEMININA tem nos acompanhamentos, Mauro Senise, Hélio Delmiro, Gilson Peranzzetta, Fernando Leporace, Danilo Caymmi e Tutty Moreno com quem Joyce se casou e de quem herdou o sobrenome que traz hoje.

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Faixas:

1.         Feminina (Joyce)

2.         Mistérios (Maurício Maestro, Joyce)

3.         Clareana (Joyce)

4.         Banana (Joyce)

5.         Revendo amigos (Joyce)

6.         Essa mulher (Ana Terra, Joyce)

7.         Coração de criança (Fernando Leporace, Joyce)

8.         Da cor brasileira (Ana Terra, Joyce)

9.         Aldeia de Ogum (Joyce)

10.       Compor (Joyce)




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