Ainda que cultuadíssimo no exterior, Naná
Vasconcelos faleceu sem ter experimentado reconhecimento à altura em seu
próprio país. Mesmo padrão, aliás, vivenciado por outras feras da percussão
como Airto e Dom Um Romão que só tiveram suas virtudes aclamadas ao sair do
Brasil.
A impressionante trajetória de Naná suplantou a
de todos. Atuou ao lado de algumas das maiores lendas do jazz, do blues, do pop
e da MPB. Só para citar algumas: Paul Simon, Talking Heads, B B King, Laurie
Anderson, Ryuichi Sakamoto, John Zorn, Miles Davis, Jean Luc Ponty, Art Blakey,
Ron Carter, Gato Barbieri, Herb Alpert, Milton, Caetano, Gil… Foi eleito pela
conceituada revista Down Beat como o maior percussionista do mundo por nada
menos do que oito vezes!
O auge de sua carreira ocorreu durante a
primeira metade dos anos 70 e a primeira dos 80, quando atuou em diversos
trabalhos pelo prestigioso selo germânico ECM: com Egberto Gismonti em SOL DO
MEIO DIA, DUAS VOZES e no premiadíssimo DANÇA DAS CABEÇAS; EVENTYR com Jan
Garbarek e John Abercombre, além de diversos álbuns com Pat Metheny, dentre
outros. Participou também do bem sucedido projeto CODONA (nome extraído da
união das duas primeiras letras dos participantes Collin Wallcott, Don Cherry e
Naná) que rendeu 3 álbuns que fundem jazz e world music.
Esse magnífico SAUDADES, Concerto de Berimbau e
Orquestra, foi seu único trabalho solo pela ECM. Os executivos da gravadora ofereceram-lhe
todo suporte para o lançamento do disco, algo bem diferente do que acontecia em
sua terra natal, constata Naná com menos orgulho do que mágoa. O disco de 5
faixas foi gravado na Alemanha com a Stuttgart Radio Symphony Orchestra. A
pompa orquestral presta-se apenas para dar roupagem de gala às estrepolias
sonoras de Naná. Como em “O Berimbau” de 19 minutos, uma viagem sonora em que o
pernambucano demonstra toda sua habilidade com o instrumento, reafirmada em
“Dado”, em que prescinde de acompanhamento. A vocalização, quando utilizada, é para
expandir as possibilidades de expressão sonora, como em “Vozes”. Gismonti comparece
tocando violão em “Cego Aderaldo” de sua autoria, única faixa não composta por
Naná. Curiosamente, essa música também está presente em dois discos de
Gismonti: CIRCENSE, seu álbum mais popular, acompanhado do violinista L Shankar,
e em FOLK SONGS, ao lado de Charlie Haden e Jan Garbarek, também pelo selo ECM.
Mesmo tocando com músicos de várias
nacionalidades e tendências, Naná jamais deixou de afirmar a brasilidade em seu
som.
No Brasil, saiu em vinil pela Warner. No
exterior, também em CD.
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Faixas (todas compostas por Naná Vasconcelos, exceto a
indicada):
1. "O Berimbau" - 18:58
2. "Vozes (Saudades)" - 3:14
3. "Ondas (Na Óhlos De Petronila)" - 7:53
4. "Cego Aderaldo" (Egberto Gismonti)
- 10:32
5. "Dado" - 3:36