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11 de nov. de 2020

JOÃO GILBERTO - O AMOR, O SORRISO E A FLOR (1960)

 

Produzido por Tom Jobim, esse é certamente um dos discos mais emblemáticos da bossa nova. O segundo de uma trilogia básica do genial músico baiano que inclui: CHEGA DE SAUDADE (1959) e JOÃO GILBERTO (1961). O primeiro, além da faixa título, contém outra jobiniana, “Desafinado”, além de “Lobo Bobo” (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli). O segundo traz “Insensatez” (Tom e Vinícius), “Samba da Minha Terra”(Dorival Caymmi) e “O Barquinho” (Menescal e Bôscoli).

Foi a partir daí que se consumou a invasão do gênero no mercado internacional.  São 3 discos essenciais que saíram em anos consecutivos pela Odeon e que inacreditavelmente nunca chegaram ao CD. Ou melhor, chegaram capengas em 1993, compondo o álbum THE LEGENDARY (no mercado internacional) ou O MITO (no Brasil) - título que hoje certamente seria revisto -, espremendo as 38 faixas da edição tripla do vinil em um único CD.

Esta compilação foi lançada pela EMI mas recolhida das lojas em função da ação judicial por danos morais e materiais movida por João, reconhecidamente preciosista no que diz respeito à integridade e à perfeição de sua obra. João não aceitou a iniciativa da gravadora de, sem sua autorização, mesclar aqueles 3 álbuns antológicos num pacote único, alterando a ordem das faixas e modificando a sonoridade das gravações, originalmente mono, com o objetivo de conferir-lhe um suposto aprimoramento de áudio.

A pendenga jurídica que daí se originou arrastou-se por três décadas e lamentavelmente privou o acesso do público a esses registros históricos, o que não impediu que algumas das interpretações ali contidas firmassem-se como verdadeiros hinos da bossa nova, como é o caso de “Samba de Uma Nota Só”, “Corcovado” e “Meditação” (de onde saíram, aliás, as palavras que dão título ao álbum), todas de Tom Jobim e “O Pato” (Jayme Silva/Neusa Teixeira). 

São doze faixas com duração entre 1:20 e 2:00 minutos (6 das quais compostas por Jobim) com arranjos simples e concisos, pequeninas, mas suficientes para atestar a genialidade do músico, cuja batida revolucionou a estética da MPB. Há até uma composição sua, instrumental, em homenagem a Luiz Bonfá.

Toda uma geração de artistas, de Chico a Jorge Ben Jor, de Paulinho da Viola a Roberto Carlos foi influenciada pela magia da interpretação de João contida nesses álbuns iniciais. Uma maneira de tocar enganosamente simples mas que, se desvendada, revela-se complexa e elaborada, com canto e violão seguindo andamentos independentes, mas, ao fim, casando-se perfeitamente. O canto foi igualmente revolucionário, rompendo com a tradição de interpretações épicas e implementando um clima ‘cool’ na linha de Chet Baker.

Essa trilogia crucial marcou o início efetivo da carreira fonográfica de João Gilberto, antecedida apenas pela gravação do 78 rotações “Chega de Saudade” e pelo histórico acompanhamento ao violão a Elizeth Cardoso em duas faixas do álbum CANÇÃO DO AMOR DEMAIS (1958).

Três anos após a trilogia inicial, foi lançado pela gravadora Verve o álbum GETZ/GILBERTO em parceria com o saxofonista Stan Getz, o qual se tornou o mais conhecido registro da bossa nova de todos os tempos. Contém a famosíssima gravação de “Garota de Ipanema” (parceria de Tom com Vinícius) com vocalização de Astrud Gilberto (esposa de João). Curioso que este disco ficou um ano engavetado pelo fato de a gravadora ter dúvidas a respeito da viabilidade econômica do projeto que, uma vez lançado, alcançou o segundo lugar nos EUA na lista da Billboard, atrás apenas de A HARD DAY´S NIGHT dos Beatles, façanha mais impressionante se consideramos tratar–se de um álbum de jazz!

Dentro da discografia de João, além desses 4 LPs iniciais, merecem registro mais dois álbuns fundamentais: JOÃO GILBERTO (1973) pela Polydor, talvez seu álbum mais genial, conhecido pela faixa de abertura, “Águas de Março” (Tom Jobim), além de “Falsa Baiana” (Geraldo Pereira) e “Izaura” (Herivelto Martins). E AMOROSO (1977) pela Warner que em meio a interpretações em inglês, espanhol e italiano, contém “Wave” e “Triste” de Tom Jobim.

A importância de João para a música brasileira pode ser resumida nas palavras de Caetano Veloso que na canção “Prá Ninguém”, após listar momentos áureos da MPB, conclui: “Melhor do que tudo isso, só o silêncio. Melhor que o silêncio, só João”.

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FAIXAS:

1. Samba de uma Nota Só" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:35

2."Doralice" (Dorival Caymmi, Antônio Almeida) — 1:25

3."Só em Teus Braços" (Antônio Carlos Jobim) — 1:46

4."Trevo de Quatro Folhas" (H. Woods, M. Dixon) — 1:21

5."Se É Tarde, Me Perdoa" (Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli) — 1:43

6."Um Abraço no Bonfá" (João Gilberto) — 1:35

7."Meditação" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:44

8."O Pato" (Jayme Silva, Neuza Teixeira) — 1:56

9."Corcovado" (Antônio Carlos Jobim) — 1:58

10."Discussão" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:47

11."Amor Certinho" (Roberto Guimarães) — 1:50

12."Outra Vez" (Antônio Carlos Jobim) — 1:45


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