Produzido
por Tom Jobim, esse é certamente um dos discos mais emblemáticos da bossa nova.
O segundo de uma trilogia básica do genial músico baiano que inclui: CHEGA DE
SAUDADE (1959) e JOÃO GILBERTO (1961). O primeiro, além da faixa título, contém
outra jobiniana, “Desafinado”, além de “Lobo Bobo” (Carlos Lyra e Ronaldo
Bôscoli). O segundo traz “Insensatez” (Tom e Vinícius), “Samba da Minha
Terra”(Dorival Caymmi) e “O Barquinho” (Menescal e Bôscoli).
Foi
a partir daí que se consumou a invasão do gênero no mercado internacional. São 3 discos essenciais que saíram em anos
consecutivos pela Odeon e que inacreditavelmente nunca chegaram ao CD. Ou
melhor, chegaram capengas em 1993, compondo o álbum THE LEGENDARY (no mercado
internacional) ou O MITO (no Brasil) - título que hoje certamente seria revisto
-, espremendo as 38 faixas da edição tripla do vinil em um único CD.
Esta
compilação foi lançada pela EMI mas recolhida das lojas em função da ação
judicial por danos morais e materiais movida por João, reconhecidamente
preciosista no que diz respeito à integridade e à perfeição de sua obra. João
não aceitou a iniciativa da gravadora de, sem sua autorização, mesclar aqueles
3 álbuns antológicos num pacote único, alterando a ordem das faixas e
modificando a sonoridade das gravações, originalmente mono, com o objetivo de
conferir-lhe um suposto aprimoramento de áudio.
A
pendenga jurídica que daí se originou arrastou-se por três décadas e
lamentavelmente privou o acesso do público a esses registros históricos, o que
não impediu que algumas das interpretações ali contidas firmassem-se como
verdadeiros hinos da bossa nova, como é o caso de “Samba de Uma Nota Só”, “Corcovado”
e “Meditação” (de onde saíram, aliás, as palavras que dão título ao álbum), todas
de Tom Jobim e “O Pato” (Jayme Silva/Neusa Teixeira).
São
doze faixas com duração entre 1:20 e 2:00 minutos (6 das quais compostas por
Jobim) com arranjos simples e concisos, pequeninas, mas suficientes para
atestar a genialidade do músico, cuja batida revolucionou a estética da MPB. Há
até uma composição sua, instrumental, em homenagem a Luiz Bonfá.
Toda
uma geração de artistas, de Chico a Jorge Ben Jor, de Paulinho da Viola a
Roberto Carlos foi influenciada pela magia da interpretação de João contida
nesses álbuns iniciais. Uma maneira de tocar enganosamente simples mas que, se
desvendada, revela-se complexa e elaborada, com canto e violão seguindo
andamentos independentes, mas, ao fim, casando-se perfeitamente. O canto foi
igualmente revolucionário, rompendo com a tradição de interpretações épicas e
implementando um clima ‘cool’ na linha de Chet Baker.
Essa
trilogia crucial marcou o início efetivo da carreira fonográfica de João
Gilberto, antecedida apenas pela gravação do 78 rotações “Chega de Saudade” e pelo
histórico acompanhamento ao violão a Elizeth Cardoso em duas faixas do álbum CANÇÃO
DO AMOR DEMAIS (1958).
Três
anos após a trilogia inicial, foi lançado pela gravadora Verve o álbum
GETZ/GILBERTO em parceria com o saxofonista Stan Getz, o qual se tornou o mais conhecido
registro da bossa nova de todos os tempos. Contém a famosíssima gravação de
“Garota de Ipanema” (parceria de Tom com Vinícius) com vocalização de Astrud
Gilberto (esposa de João). Curioso que este disco ficou um ano engavetado pelo
fato de a gravadora ter dúvidas a respeito da viabilidade econômica do projeto
que, uma vez lançado, alcançou o segundo lugar nos EUA na lista da Billboard, atrás
apenas de A HARD DAY´S NIGHT dos Beatles, façanha mais impressionante se
consideramos tratar–se de um álbum de jazz!
Dentro da discografia de João, além desses 4 LPs iniciais, merecem registro mais dois álbuns fundamentais: JOÃO GILBERTO (1973) pela Polydor, talvez seu álbum mais genial, conhecido pela faixa de abertura, “Águas de Março” (Tom Jobim), além de “Falsa Baiana” (Geraldo Pereira) e “Izaura” (Herivelto Martins). E AMOROSO (1977) pela Warner que em meio a interpretações em inglês, espanhol e italiano, contém “Wave” e “Triste” de Tom Jobim.
A importância de João para a música brasileira pode ser resumida nas palavras de Caetano Veloso que na canção “Prá Ninguém”, após listar momentos áureos da MPB, conclui: “Melhor do que tudo isso, só o silêncio. Melhor que o silêncio, só João”.
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FAIXAS:
1. Samba de uma Nota Só" (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:35
2."Doralice" (Dorival
Caymmi, Antônio Almeida) — 1:25
3."Só em Teus Braços"
(Antônio Carlos Jobim) — 1:46
4."Trevo de Quatro Folhas"
(H. Woods, M. Dixon) — 1:21
5."Se É Tarde, Me Perdoa"
(Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli) — 1:43
6."Um Abraço no Bonfá"
(João Gilberto) — 1:35
7."Meditação" (Antônio
Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:44
8."O Pato" (Jayme Silva,
Neuza Teixeira) — 1:56
9."Corcovado" (Antônio
Carlos Jobim) — 1:58
10."Discussão" (Antônio
Carlos Jobim, Newton Mendonça) — 1:47
11."Amor Certinho"
(Roberto Guimarães) — 1:50
12."Outra Vez" (Antônio
Carlos Jobim) — 1:45
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