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8 de nov. de 2021

EGBERTO GISMONTI – DANÇA DAS CABEÇAS (1976)

 

A respeitada gravadora alemã ECM prima por deter um seleto catálogo de jazz de vanguarda, música erudita contemporânea e world music. Conhecida como ‘selo do silêncio’, ou ‘o som mais belo depois do silêncio’ tem rígidos procedimentos para preservar a excelência técnica e artística dos trabalhos que têm o privilégio de estampar sua grife.

Alguns dos renomados artistas que tiveram suas obras lançadas pela ECM são Pat Metheny, Keith Jarrett, Jan Garbarek, Jack de Johnette, Chick Corea, Ralph Towner, Dave Holland, Gary Burton, Charlie Haden, Terje Rypdal e John Abercrombie.

O Brasil pode se orgulhar de ter cravado dois instrumentistas virtuosos nesse seleto clube: Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos. Eles dividem o álbum DANÇA DAS CABEÇAS, um marco na carreira artística de ambos. Viriam a lançar juntos também o disco DUAS VOZES (1985), além de outras obras pela mesma gravadora.

DANÇA DAS CABEÇAS, além de ser seu primeiro trabalho pelo selo ECM, marca o ingresso de Gismonti no mercado internacional. O disco arrebanhou diversos prêmios internacionais que o tornaram mundialmente conhecido.

Nele, Egberto desfila toda sua habilidade no manejo do violão de oito cordas e ao piano, além de tocar flauta de madeira. Embora o disco seja apenas a ele imputado, o mais honesto seria dividir os créditos com Naná que forneceu o essencial suporte no berimbau, na percussão e nas vocalizações.

Curioso que, efetivado o convite da     ECM, a intenção original de Egberto era envolver diversos músicos brasileiros no projeto (Robertinho Silva, Luiz Alves e Nivaldo Ornellas). Ocorre que à época, o país vivia sob um regime militar que criava empecilhos a projetos de natureza cultural. Havia uma exigência absurda de que músicos que desejassem participar de gravações no exterior, deveriam empenhar um vultoso depósito compulsório para conseguir a concessão, o que inviabilizou financeiramente a ida dos instrumentistas requisitados.

A reunião com Naná Vasconcelos, que já se encontrava na Europa, deu-se através da apresentação de um amigo comum, permitindo a readequação do projeto que, por pouco, não foi solo. O conceito do álbum, exposto a Naná e prontamente por ele acatado era que se tratava de dois curumins andando na floresta amazônica densa e úmida e vendo pântanos, clareiras, animais, rios, índios etc.

Essa concepção elaborada por Gismonti aparentemente era apenas uma diretriz geral já que as faixas que compõem o álbum, à exceção de “Dança Solitária”, não eram inéditas nem guardam relação com a temática. Já estavam presentes (com arranjos bem diferentes) em discos anteriores do músico e também no álbum ALTURA DO SOL (1975) do flautista norte-americano Paul  Horn (inédito no Brasil), integralmente dedicado ao músico brasileiro e com sua participação.

Todas as faixas são de Egberto, (uma delas em parceria com Geraldo Carneiro) exceto “Águas Luminosas” de autoria de sua ex-mulher Dulce Bressane e “Fé Cega Faca Amolada”, consagrada canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, presente no álbum MINAS (1975).

No lançamento em vinil, as seis primeiras faixas se entrelaçam num continuum, formando a “Parte 1”, que ocupa o lado A do LP em que prevalece o violão. O mesmo ocorre em relação às demais faixas que compõem a “Parte 2”, integrando o lado B, onde o piano se sobressai.

O disco foi gravado e mixado em apenas em três dias em Oslo, em conformidade com as normas adotadas pela ECM.

A impactante foto que ilustra a capa de autoria do fotógrafo húngaro Lajos Kereztes, apesar de sua beleza, foge ao padrão da gravadora, normalmente composto por pinturas abstratas ou pictóricas paisagens glaciais. A imagem, escolhida por Gismonti, exibe o muro intensamente avermelhado de uma residência humilde, com uma janela que revela um pano roto pendurado num varal. Gismonti escolheu a foto por denotar que mesmo ambientes modestos e despojados exalam beleza, algo que sua música pretende demonstrar.

Conforme define o crítico Tyran Grillo do site ‘ecmreviews.com’, “é o tipo de música que alegra estar vivo, uma lufada de clareza no ar poluído.”

Na extensa discografia de Egberto de mais de 50 títulos, esse se sobressai como um dos mais marcantes de sua carreira. Lançado em vinil no Brasil pela EMI, o álbum é, apesar de sua relevância, difícil de se achar em CD, até mesmo no exterior, embora tenha sido lançado em diversos países.

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Faixas:

 

1 - Quarto Mundo + 1 (Egberto Gismonti)

2 --Dança das Cabeças (Egberto Gismonti)

3 - Águas Luminosas (Dulce Bressane)

4 - Celebração de Núpcias (Egberto Gismonti)

5 - Porta Encantada (Egberto Gismonti)

6 - Quarto Mundo + 2 (Egberto Gismonti)

7 - Tango (Egberto Gismonti/Geraldo Carneiro)

8 - Bambuzal (Egberto Gismonti)

9 - Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos)

10 - Dança Solitária (Egberto Gismonti)

 

 

10 de out. de 2021

JANE DUBOC E SEBASTIÃO TAPAJÓS – DA MINHA TERRA (1998)

 

Esquecido por críticos musicais, o Pará é um fecundo celeiro de ritmos dançantes. Foi lá, por exemplo, que surgiram a lambada e o “tecnobrega”, estilos que mesclaram ingredientes caribenhos e batidas eletrônicas aos sons nativos tradicionais (como o carimbó) e se espalharam pelo resto do país e para o exterior.  

Mas a presença do Pará no cenário nacional vai muito além desses efervescentes gêneros populares. Na seara da MPB, a capital, Belém, foi berço de três grandes intérpretes femininas que nunca deixaram de reverenciar suas origens: Fafá de Belém, Leila Pinheiro e Jane Duboc. 

O caso de Jane é singular dado o impressionante ecletismo que marcou sua trajetória. Começou sua carreira cantando em inglês, produzida por Raul Seixas. Seus dotes vocais impressionaram Egberto Gismonti, nascendo aí uma sólida parceria artística. Em 1983, integrou o grupo progressivo Bacamarte no elogiado álbum DEPOIS DO FIM. Teve forte ligação com o pessoal de Minas, especialmente Toninho Horta como em “Manual o Audaz” e Flávio Venturini como em “Besame”, dois de seus maiores êxitos. Dividiu álbuns com o renomado saxofonista americano Gerry Mulligan (PARAÍSO 1993) e com a veterana Zezé Gonzaga (CLÁSSICAS, 1999). Abriu uma brecha para canções românticas de alcance popular que ingressaram em trilhas de novelas. E ainda se dedicou ao público infantil. Antes mesmo de seu primeiro disco solo (o aclamado LANGUIDEZ de 1981), gravara o álbum ACALANTOS BRASILEIROS, tendo também participado durante essa fase inicial (em que assinava como Jane Vaquer), da coletânea MÚSICA POPULAR DO NORTE, ambos pelo selo cultural Marcus Pereira, o que revelava desde cedo seu empenho em divulgar a música oriunda de seu estado natal.

Essa vocação impulsionou-a a colocar em prática o projeto com o violonista Sebastião Pena Marcião, outro que nutre veneração pelas suas raízes paraenses, a começar pelo nome artístico que adotou, Sebastião Tapajós, homenageando o rio que banha Santarém, cidade próxima ao local onde nasceu (dentro de um barco ao que consta) e onde viria a falecer em 02/10/2021.

Tido como um dos mais exímios do mundo em sua categoria, Tapajós atuou ao lado de expoentes do jazz como Oscar Peterson, Gerry Mulligan, Astor Piazzola e Paquito d´Rivera além da nata da música instrumental nacional (Hermeto, Zimbo Trio, Baden Powell, Waldir Azevedo, Paulo Moura, Sivuca etc.). Tem mais de 50 álbuns gravados, difíceis de serem hoje obtidos, muitos deles independentes, disponíveis somente em vinil ou lançados apenas no exterior. É bastante cultuado na Alemanha e também na Argentina (país que editou nada menos do que 8 de seus álbuns, nos anos 70). Mas sua arte sempre esteve ligada a suas raízes amazônicas.

DA MINHA TERRA une a voz melodiosa de Duboc à exuberância técnica de Tapajós na execução de um repertório voltado para divulgar compositores que, pouco conhecidos no resto do país, são verdadeiras lendas naquele estado, como Waldemar Henrique, Nilson Chaves, Vital Lima e a dupla (pai e filho) Ruy Barata & Paulo André Barata. Esses últimos são autores da canção que consagrou Fafá de Belém, “Foi Assim” (não confundir com o hit homônimo da “ternurinha” Wanderléa). Tem também Billy Blanco, o único que furou a bolha e adquiriu projeção nacional graças a seu envolvimento com a bossa nova.

O disco, bancado pela pequena gravadora JAM (fundada pela própria cantora), é um trabalho de primeira com temas singelos e tocantes, executados com arranjo enxuto para realçar a doce voz de Jane.

No restrito mas qualificado time de acompanhantes, Arismar Espírito Santo no baixo e guitarra, Robertinho Silva na bateria e Proveta (líder da gloriosa Banda Mantiqueira) nos sopros. A registrar a ilustre participação de Altamiro Carrilho em “A Flauta” e a dupla presença de Dominguinhos: no melancólico acordeon de “Luz do Lampião” e em dueto vocal em “Tempo e Destino”.

Em meio às pérolas do cancioneiro paraense, sobressaem-se duas faixas instrumentais compostas por Tapajós: “Igapó” e “Barueri”. Nem mesmo nelas ficamos privados da presença de Jane que usa suas virtudes vocais como um instrumento a dialogar com o violão vigoroso e percussivo do músico.

Como resume o maestro Júlio Medalha na apresentação do CD, “Não se trata de fazer média com o folclore. São músicos realizados que juntaram seus talentos mostrando que a matéria prima brasileira pode nos oferecer um produto cultural criativo e sofisticado. O resultado é soberano”.

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Faixas:

1 . Da Minha Terra (Nilson Chaves/Jamil Damous)

2 . Uirapuru (Waldemar Henrique)

3 . Igapó (Sebastião Tapajós)

4 . Roda Do Bem Querer (Alfredo Oliveira)

5 . Cabocla Bonita (Tradicional)

6 . Luz de Lampião (Nilson Chaves/João Gomes)

7 . Boi-bumbá (Waldemar Henrique)

8 . A Flauta (Sebastião Tapajós/Billy Blanco)

9 . Azulão (Jaime Ovalle/Manuel Bandeira)

10 . Indauê Tupã (Paulo André Barata/Ruy Barata)

11 . Pergunte O Que Quiser (Galdino Penna)

12 . Tempo E Destino (Nilson Chaves/Vital Lima)

13 . Tambor De Coro (Ronaldo Silva)

14 . Tempo De Amar (Campos Ribeiro)

15 . Bom Dia Belém (Edyr Proença/Adalcinda Camarão)

16 . Barueri (Sebastião Tapajós)

11 de set. de 2021

BETO GUEDES, DANILO CAYMMI, NOVELLI, TONINHO HORTA (1973)

 

CLUBE DA ESQUINA é o título do disco duplo de 1972 capitaneado por Milton Nascimento e Lô Borges, unanimemente considerado um dos mais importantes da MPB. Porém, refere-se também ao movimento composto por artistas que gravitaram em torno do memorável álbum, mas que a ele transcendeu, caracterizando um estilo musical que agregou influências múltiplas que iam da bossa nova aos Beatles, condimentado com um temperinho de Minas Gerais, onde o rebuliço teve seu epicentro.

A Odeon, à época sediada no RJ, centralizou as produções fonográficas da trupe. Grande parte dos expoentes integrava o plantel da gravadora. Foi ela que resolveu investir na carreira de quatro músicos que participaram diretamente do movimento ou com ele tiveram algum vínculo.

Como eram pouco conhecidos, a gravadora não se dispôs a lançar um disco para cada um, restringindo a iniciativa, a um projeto “coletivo”. Os novatos eram apenas Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta, artistas que hoje dispensam apresentações.

O álbum ganhou imensa importância histórica por ter representado a estreia fonográfica desses quatro grandes músicos. Beto Guedes e Toninho Horta, sobretudo, viriam a construir exitosas carreiras individuais, a partir de seus bem sucedidos trabalhos de estreia, respectivamente A PÁGINA DO RELÂMPAGO ELÉTRICO (1977) e TERRA DOS PÁSSAROS (1980). Toninho viria a alcançar notoriedade também no exterior, onde chegou a ser referenciado como um dos melhores guitarristas do mundo, segundo a prestigiosa revista Melody Maker.

A reunião não foi aleatória. Esses quatro músicos já tinham o histórico de convergir suas carreiras em trabalhos de outros artistas. Os quatro, por exemplo, haviam participado do primeiro álbum solo de Lô Borges (o chamado “disco do tênis”), bem como do aclamado NÉLSON ÂNGELO & JOYCE, ambos datados de 1972 e pelo selo Odeon.

A capa traz unicamente os nomes dos titulares pichados numa parede ocre. Porém, a foto da contracapa, tirada durante a sessão de gravação, em que os quatro vistos de cima rodeiam a privada sem tampa do tosco e minúsculo banheiro do estúdio, tornou-se mais célebre que a própria capa. Segundo revelou Toninho, essa imagem escatológica traduz bem as precárias condições de gravação disponibilizadas pela gravadora. Ao que consta, os músicos vararam a madrugada para concluir o trabalho numa única tacada.

A própria Odeon parece não ter botado muita fé na proposta, não condizente com os padrões de mercado, sequer tendo se empenhado em fazer divulgação do LP e retirando-o, em pouco tempo, de catálogo, o que o tornou uma raridade, alcançando preços astronômicos no mercado de usados.

Não obstante a questionável idealização de se fatiar o disco em quatro (cabendo duas faixas a cada um, exceto Novelli que ganhou três, duas delas instrumentais), a audição revela uma grande integração entre os músicos que, aliás, participam uns das faixas dos outros.

Tal afinidade é mais surpreendente se constatarmos que os estilos guardam características distintas com Beto tendo no rock progressivo sua área de maior interesse, Toninho no jazz, Danilo na bossa nova e o pernambucano Novelli  tendo bebido na fonte dos ritmos nordestinos. Essas particularidades se diluem ao longo da obra.

Não se pode deixar de destacar o time respeitável de apoio que inclui Lô Borges, Flávio Venturini, Nélson Ângelo, Robertinho Silva, Paulo Jobim, Tenório Jr, Fernando Leporace, Maurício Maestro e Fredera.

O disco traz a gravação original de um dos mais famosos temas de Toninho Horta, “Manuel, o Audaz” (nome dado a um jeep no qual a patota rodava solta pelas estradas de Minas), parceria com Fernando Brant, canção que viria a receber a consagração definitiva em seu disco de 1980, brindada com um belo solo de guitarra de Pat Metheny.

Traz ainda a surpreendente “Belo Horror” com Beto Guedes, extensa faixa predominantemente instrumental com complexas digressões, remetendo em sua concepção aos clássicos do rock progressivo de grupos como o Yes e o Genesis, que, à época, viviam sua fase áurea.  A canção traz a assinatura de Beto, Márcio Borges mais dois ilustres desconhecidos, Flávio Hugo e José Geraldo que viriam a ser ninguém menos do que Flávio Venturini e Vermelho, futuros integrantes do 14 Bis.

Em “Ponta Negra”, como contraponto à interpretação de Danilo Caymmi, pode ser identificada ao fundo a segunda voz de Nana que deu uma canja para o irmãozinho.

A despeito de sua importância para a MPB e das referências elogiosas, esse disco pouco conhecido e subestimado não mereceu sequer uma versão digital, tendo sido lançado em CD (que novidade!) apenas no Japão.

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Faixas:

01. Beto Guedes - Caso Você Queira Saber (Beto Guedes, Márcio Borges)

02. Toninho Horta - Meu Canário Vizinho Azul (Toninho Horta)

03. Novelli - Viva Eu (Wagner Tiso, Novelli)

04. Beto Guedes - Belo Horror (Beto Guedes, Flavio Hugo, José Geraldo , Márcio Borges)

05. Danilo Caymmi - Ponta Negra (Danilo Caymmi, João Carlos Pádua)

06. Novelli - Meio A Meio (Novelli)

07. Toninho Horta - Manuel, O Audaz (Toninho Horta, Fernando Brant)

08. Novelli - Luiza (Novelli)

09. Danilo Caymmi - Serra Do Mar (Danilo Caymmi, Ronaldo Bastos)

 

20 de jun. de 2021

RAUL DE SOUZA – SWEET LUCY (1977)

 

Ele estava destinado a brilhar desde que o trio de notáveis, Pixinguinha, Nélson Cavaquinho e Ary Barroso chancelou sua genialidade. O criador de “Carinhoso”, ao vê-lo tocar, ainda garoto, incentivou-o a procurar uma gravadora. O compositor de “A Flor e o Espinho” ficou impressionado com seus dotes musicais levando-o a um programa radiofônico de calouros onde se consagrou. Não escapou ao apresentador, o autor de “Aquarela do Brasil”, a percepção de seu potencial. O único empecilho parecia ser o nome do indivíduo, João José, inapropriado para a carreira musical. Ary desencavou-lhe então o epíteto de Raulito, convertido depois em Raulzinho, por ele adotado no início de sua carreira solo. Sob esse codinome, gravou em 1965 o primeiro LP solo, À VONTADE MESMO. Esse álbum que teve a participação do Sambalanço Trio de César Camargo Mariano e Airto Moreira, foi recuperado em CD pela BMG em 2001.

Sua opção pelo trombone foi ditada pelo orçamento. Sua predileção era para o sax. Mas, de família pobre de Bangu, não conseguiu adquirir o instrumento de seus sonhos. Acabou sendo predestinado a um trombone de válvula que encontrou a um preço acessível.

Dominando o instrumento, participou do LP Turma da Gafieira ao lado de bambas como Altamiro Carrilho, Baden Powell, Édison Machado e Sivuca, tido pelos estudiosos como o primeiro registro de samba-jazz, ritmo aliás que ia marcar a primeira fase de sua carreira.

Mais tarde, integrou A Turma da Pilantragem, grupo que contava entre outros com Nonato Buzar, Cassiano, Márcio Montarroyos e Fredera. Chegou a integrar o RC-7, grupo de apoio a Roberto Carlos em seu período áureo da Jovem Guarda, mas, antevendo que se tornaria uma pálida sombra de suporte ao “brasa”, sabiamente caiu fora.

Seu reconhecimento não se daria em sua terra natal, onde os grandes instrumentistas estão fadados ao ostracismo. Rumou para os Estados Unidos, onde João José Pereira de Souza que já fora Raulzinho e se converteu em Raul de Souza pôde literalmente botar a boca no trombone.

O pulo do gato ocorreu com o álbum COLORS (1974), arranjado pelo lendário trombonista J J Johnson e que contou com a participação de dois monstros sagrados do jazz: o saxofonista Cannonball Adderley e o baterista Jack DeJohnette. O disco é cultuado pelos amantes do gênero e tornou-se referência.

Seu virtuosismo foi certificado por grandes nomes da música, impressionados com sua capacidade de improvisação e a intimidade com que lidava com o instrumento.

Tocou ao lado de nomes lendários como Sonny Rollins, Wayne Shorter, Ron Carter, Lionel Hampton, Hubert Laws, Chick Corea, Jimmy Smith, Stanley Clarke, Sarah Vaughn sem contar artistas nacionais como Tom Jobim, Sérgio Mendes, Flora Purim, Hermeto Paschoal, Milton Nascimento etc.

Foi apontado pelas revistas especializadas como um dos maiores do mundo no trombone. Assenhorou-se do instrumento a tal ponto que viria a criar uma versão para uso particular, o Souzaphone.

Deixando crescer uma vasta cabeleira afro e abraçando o funk, lançou em anos consecutivos uma trinca de álbuns bem sucedidos no mercado internacional, SWEET LUCY, DON´T ASK MY NEIGHBOURS e ‘TIL TOMORROWS COME.

SWEET LUCY (1977) foi seu trabalho de maior repercussão, vendendo só nos EUA 300 mil cópias. No Brasil foi lançado em LP pela EMI mas jamais editado em CD. A música tema que abre o álbum, com seu swing contagiante, correu o mundo e catapultou o sucesso do músico em todo o planeta.

O álbum foi produzido por George Duke e contou com as participações do trompetista Freddie Hubbard, de Airto Moreira na percussão e do tecladista Ian Underwood, conhecido por seus trabalhos com Frank Zappa e The Mothers of Invention (com quem Duke também atuou).

No álbum constam também “Canção do Nosso Amor” do repertório de Sérgio Mendes e uma versão de “Banana Tree” (“bananeira não sei, bananeira sei lá...”), famosa composição de João Donato, com quem o músico carioca sempre manteve estreita ligação. Com ele lançaria em 2016 o disco BOSSA ETERNA que contou também com a presença de Robertinho Silva e Luiz Alves.

Nos seus últimos anos, dividia sua vida entre Brasil e França onde residia numa vila medieval.

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Faixas:

1. Sweet Lucy (George Duke) 5:27

2. Wires (George Duke) 3:18

3. Wild and Shy (Raul de Souza) 7:35

4. At Will (Raul de Souza) 4:15

5. Banana Tree (João Donato) 4:56

6. A Song of Love (L. L. Smith) 6:16

7. New Love (Canção do Nosso Amor) (Silveira/Medeiros) 4:25

8. Bottom Heat (Raul de Souza) 5:07


31 de mai. de 2021

NÉLSON SARGENTO – ENCANTO DA PAISAGEM (1986)

 

Que influência poderia ter um cozinheiro japonês sobre a carreira de um relegado sambista da velha guarda da Mangueira? Muita mesmo. Não fosse pela iniciativa de Katsunori Tanaka, grande parte da obra de Nelson Sargento nem teria vindo a público.

O interesse do País do Sol Nascente pela Bossa Nova não é segredo. Por lá, LPs do gênero são disputados e alcançam preços estratosféricos. O samba, todavia, ainda que admirado, não tem o mesmo status.

Todavia, foi escutando um disco de samba de Cartola comprado num sebo em Tóquio, que Tanaka apaixonou-se pelo gênero. Já exercendo o ofício de jornalista, veio ao Brasil sem sequer saber falar português e se embrenhou pelos morros cariocas para se aprofundar no tema. Movido mais pelo anseio de divulgar o ritmo que o cativara do que por interesses financeiros, converteu-se em produtor musical e difusor do samba. Por suas mãos, uma série de preciosidades do gênero chegou ao mercado japonês, sem ter sido lançada por aqui.

Como exemplo, para ficar em Nelson Sargento, seu álbum HISTÓRIA E PAISAGEM, gravado ao vivo no Japão, teve distribuição restrita por lá. Nelson tornou-se também cultuado no país, várias vezes por lá se apresentando. Na retaguarda, a seguinte trupe de músicos convertidos ao samba: Michiwo Tashima, Yoichi Okabe, Yutaka Yoshida e Mitsuru do Cavaco.

ENCANTO DA PAISAGEM, apesar de ser produzido no Brasil exclusivamente com músicos brasileiros, também tem o dedo de Tanaka. Ele conseguiu que o selo independente carioca KUARUP assumisse a obra, reunindo um time de primeira para dar suporte ao projeto: Elton Medeiros, Raphael Rabello, Marçal, Marcos Suzano, Paulo Sérgio Santos, Luís Otávio Braga, Oscar Bolão e os irmãos Beto e Henrique Cazes, dupla com quem o japa sambista já tinha amizade.

Nelson Mattos que passou a ser “Sargento” ao atingir essa patente em passagem pelo exército, embora já viesse compondo sambas-enredos para a Mangueira além de ter integrado os históricos grupos Voz do Morro e Os Cinco Crioulos, só aos 55 anos chegou ao primeiro disco solo. O álbum SONHO DE UM SAMBISTA (1979), apesar da produção modesta proporcionada pela gravadora paulista Eldorado, possui grande valor histórico por conter sambas já consagrados. Nele, o registro do maior sucesso de sua carreira, o hino “Agoniza mas não Morre”, gravado um ano antes por Beth Carvalho no álbum DE PÉ NO CHÃO.

Aparecem ainda “Falso Amor Sincero” (com os inspirados versos “o nosso amor é tão bonito, ela finge que me ama e eu finjo que acredito”) e “Primavera”, também conhecida como “Cântico à Natureza”, parceria com seu padrasto Alfredo Português para um desfile da Mangueira. Originalmente interpretada por Jamelão na década de 50, é tida pelos ‘sambólogos’ como um dos mais belos exemplares do gênero. Ficou mais conhecida após uma versão ao vivo em dueto com Chico César para o álbum CASA DE SAMBA 3.

Nélson integra uma geração lendária de grandes nomes do samba que inclui Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Cyro Monteiro, Zé Kéti e Cartola (com quem atuou). Através do elogiado álbum SÓ CARTOLA (1998) dividido com Elton Medeiros (com quem Cartola também teve parcerias) e com o grupo carioca Galo Preto, prestou homenagem ao mestre. “Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”, proferiu.

ENCANTO DA PAISAGEM foi o segundo álbum solo de Nelson, sete anos após o primeiro, e difere do anterior por conter, em sua maioria, sambas inéditos. A ilustração da capa é do próprio Sargento. De pintor de paredes evoluiu para as galerias de arte, além de ser escritor (com livros publicados) e ator (protagonizou películas de Walter Salles e Cacá Diegues).

Entre as pérolas aí contidas, a faixa que dá nome ao álbum (que teve uma interpretação também de Zeca Pagodinho), a regravação de “Agoniza mas não Morre” em dueto com Beth Carvalho e a hilária “Idioma Esquisito”. Essa última recebeu posteriormente uma versão swingada da cantora Daúde no seu álbum 2002. Em uma das suas últimas entrevistas, Nélson afirmou que gostaria de ser lembrado por essa música. Tanaka deve estar se sentindo recompensado.

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FAIXAS:

1. Encanto da Paisagem (Nelson Sargento)

2. Homenagem ao Mestre Cartola (Nelson Sargento)

3. Vim lhe Pedir (Nelson Sargento/Cartola)

4. Vai Dizer a Ela (Nelson Sargento)

5. De Boteco em Boteco (Nelson Sargento)

6. Idioma Esquisito (Nelson Sargento)

7. Só Voltarei (Nelson Sargento)

8. Mar de Lágrimas (Nelson Sargento/Guilherme de Brito)

9. Prometo Ser Fiel (Nelson Sargento)

10. A Felicidade se Foi (Nelson Sargento)- Participação: Cláudia Savaget

11. Amante Vadio (Nelson Sargento/Zé Luiz)

12. Agoniza mas não Morre (Nelson Sargento) - Participação: Beth Carvalho

25 de mai. de 2021

TECA & RICARDO - POVO DAQUI (1980)

 

A cultura do Brasil tem um débito impagável para com esses dois artistas, cujo sucesso, por ironia, aconteceu na Europa.

Ela, Teresinha João Calazans, capixaba e criada no Recife mergulhou fundo no folclore do Nordeste. Atriz e pesquisadora da cultura popular, trabalhou com Geraldo Azevedo mas acabou deixando o país. Ele, Ricardo Vilas Boas, carioca, componente do histórico grupo Momento Quatro, ao lado de Zé Rodrix, Maurício Maestro e David Tygel (quem não lembra do acompanhamento para “Ponteio” com Edu Lobo, vencedora do festival da MPB da Record de 1967?). Ativista social, acabou preso por razões políticas durante a ditadura e exilou-se no exterior.

Em 1970, os dois músicos, que não se conheciam, uniram seus talentos em Paris, onde encontraram um ambiente fértil e um público ávido por ritmos exóticos. Gravaram na década de 70 nada menos do que cinco discos na França, difundindo sobretudo sons folclóricos da sua terra natal e mostrando que a criação musical do Brasil ia muito além do samba e do axé. Ainda que gravados no exterior, contaram com a participação de músicos brasileiros de renome como Naná Vasconcelos, Novelli, Nélson Ângelo, Fernando Martins e Coaty de Oliveira.

De volta ao Brasil, lançaram dois LPs (os únicos por aqui): POVO DAQUI de 1980 e EU NÃO SOU DOIS de 1981, ambos pelo selo Odeon. Embora não tivessem alcançado o merecido sucesso, os álbuns não deixaram de ter certa repercussão. Algumas faixas chegaram a aportar nas boas emissoras de rádio. “Gabriel” do segundo disco e “Aguaceiro” do primeiro (com a inconfundível harmônica de Sivuca), as canções de maior sucesso, foram lançadas em compacto simples, sendo que “Aguaceiro” trazia no lado B “Caicó” (“ó mana, deixa eu ir, ó mana eu vou só, ó mana deixa eu ir para o sertão de Caicó”), cantiga recolhida do folclore por Teca. Essa adaptação viria a se tornar bastante conhecida na brilhante interpretação de Milton Nascimento, em seu disco SENTINELA do mesmo ano.

Também soarão familiares “Povo Daqui”, “Ciranda da Lua no Mar” e “Velha Amizade”, que contou com o backing vocal de um conjunto cuja carreira começava a despontar, um tal de Boca Livre, cujos integrantes Tygel e Maurício foram companheiros de Ricardo no Momento Quatro.

Mas POVO DAQUI vai bem além desses temas mais famosos. É um belíssimo trabalho autoral que mescla MPB, ritmos populares e letras com forte conteúdo social. Contou com o suporte de renomados músicos. Além dos acima referidos, Nélson Ângelo, Antônio Adolfo, Novelli, Mauro Senise, Robertinho Silva, Luís Alves, Toninho Horta e a regência do maestro Guerra Peixe.

Depois disso, a dupla se desfez, mas os artistas construíram uma extensa discografia solo, boa parte da qual, disponível apenas no exterior, sobretudo em território francês, onde já eram nomes consagrados.

Teca Calazans gravou diversos álbuns de primeiríssima qualidade, com destaque a trabalhos divididos com Heraldo do Monte e Baden Powell além de um histórico registro ao vivo ao lado de Elomar, Xangai, Renato Teixeira e Pena Branca (CANTORIA BRASILEIRA). Destacam-se também trabalhos de resgate à obra de grandes nomes da cultura nacional como Villa Lobos, Mário de Andrade e Pixinguinha, ritmos regionais e temas infantis.

Ricardo Vilas que, ao retornar, retomou a militância política, filiando-se ao PT, lançou diversos álbuns (a maior parte inédita no Brasil). Seu mais recente trabalho, CANTO DE LIBERDADE (2018), celebra famosos temas de resistência ao regime militar, além de canções autorais.

Mas a produção da dupla Teca & Ricardo deixou saudade. Difícil aceitar que o público francês foi quem mais pôde apreciar os frutos. Além dos cinco primeiros álbuns, teve lançada naquele país a coletânea BEST OF (1996). Nenhuma dessas obras mereceu uma edição nacional.

Quanto aos dois únicos trabalhos da dupla por aqui, não obstante a qualidade musical, a esmerada produção e o nível dos acompanhantes, não foram sequer lançados em CD pela EMI.

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Faixas:

 

1. Ciranda da Lua no Mar [Teca Calazans/Ricardo Vilas]

2. Estrela da Canção [Ricardo Vilas]

3. Aguaceiro [Teca Calazans/Ricardo Vilas]

4. Triste Tropical [Ricardo Vilas]

5. Imagem Moderna [Ricardo Vilas]

6. Minoria [Ricardo Vilas]

7. Povo Daqui [Teca Calazans]

8. Velha Amizade (Participação Especial: Boca Livre) [Ricardo Vilas]

9. Desafio [Ricardo Vilas]

10. As Flores Deste Jardim [Ricardo Vilas]

11. Caicó [Tradicional - Adaptação: Teca Calazans]

11 de mai. de 2021

CASSIANO – COLEÇÃO (2000)

 

Pode-se afirmar que a importância de Cassiano para a música nacional equivale à de Marvin Gaye para a norte-americana. Ou, como propõe Ed Motta, creditá-lo como nosso Stevie Wonder. Outros preferem associá-lo a Otis Redding, Sam Cooke ou Isaac Hayes. Deixando de lado tais paralelismos, sempre imprecisos, o certo é que Genival Cassiano, ou apenas Cassiano como era conhecido, teve uma trajetória bastante particular no universo da música brasileira.

Ainda que não tenha explodido comercialmente, sua relevância musical, associada à sua personalidade esquiva, elevou-o à condição de mito. Sua impressionante musicalidade, a voz contida e a interpretação cool (em oposição às performances retumbantes e emotivas de Tim Maia), herdadas de sua formação bossanovista (era fã de João Gilberto), fizeram com que ele não alcançasse a merecida repercussão pública. A escassa produção, o enorme tempo de recolhimento e o temperamento retraído afastaram-no dos holofotes, apesar de ser cultuado por uma legião de artistas dos mais diversos gêneros. Regravaram seus hits, dentre outros, representantes da MPB como Gil, do axé como Ivete Sangalo, do samba como Alcione, do pagode como o grupo Pixote e até do rap. As reiteradas menções de Mano Brown dos Racionais despertaram a admiração de uma nova safra de ouvintes que hoje acorre a suas obras com interesse.

O fato é que, antes de se firmar como expoente da música negra, Cassiano foi nos anos 60 violonista do grupo Bossa Trio que misturava bossa nova com samba-jazz ou ‘sambalanço’, com um toque de Rhythm & Blues. O conjunto foi o embrião d’Os Diagonais, grupo basilar para explicar o florescimento da black music, tendo gravado dois álbuns em que misturava de forma pioneira samba e funk, e que contou também com a presença de Hyldon.

Juntamente com Tim Maia e Hyldon, Cassiano formou a trindade do funk raiz e do brazilian soul, gêneros musicais que viveram seus tempos de glória nos profícuos anos 70, concomitantemente com o apogeu do rock, do tropicalismo e da fase áurea da MPB.

A coletânea VELHOS CAMARADAS, lançada nos anos 90 pela Universal, resgatou para as novas gerações a nata do trabalho desses três pilares da black music, reunindo os hits expressivos de cada um. O álbum alcançou tamanho êxito que ensejou a edição de um volume 2.

A trajetória de Tim Maia se confunde com a de Cassiano e não é exagero a este creditar grande parte do sucesso do ‘síndico’. Basta constatar que o aclamado álbum de estreia de Tim, de 1970, reconhecido como um dos mais relevantes da MPB, contém, dentre suas 12 faixas, nada menos do que 4 composições de Cassiano. São de sua autoria “Você Fingiu”, os mega-hits “Primavera” e “Eu Amo Você” e uma inusitada mescla de soul com baião, “Padre Cícero” (curiosamente rebatizada como “João Coragem” para ingressar na trilha da novela Irmãos Coragem). Além disso, Cassiano participou com a guitarra e os backing vocals ao lado dos companheiros d’Os Diagonais.

Na esteira da bem sucedida parceria com Tim Maia, Cassiano lançou pela RCA seu primeiro álbum solo, IMAGEM E SOM (1971), com a versão do autor para o clássico “Primavera”.

Seguiu-se o surpreendente álbum APRESENTAMOS NOSSO CASSIANO (1973), tido como uma aventura experimental e anticomercial, com toques de psicodelia e até rock progressivo. Um álbum arrojado com ricas orquestrações e melodias elaboradas (como na faixa “A Casa de Pedra”), que arrancou elogios dos críticos mas afastou o artista do grande público.

O êxito comercial viria com CUBAN SOUL em 1976, lançado pela Sony, que contém suas mais conhecidas interpretações, “A Lua e Eu” e “Coleção”, ambas parcerias com Paulo Zdanowski. Essas baladas bombaram após figurarem nas trilhas das novelas globais O Grito e Locomotivas respectivamente.

Esses três álbuns tornaram-se relíquias, disputadas nos sebos a preços exorbitantes, sendo que CUBAN SOUL foi reeditado recentemente pela Polysom, na série Clássicos em Vinil.

 Essa discografia enxuta justifica-se pelo fato de o músico ter sofrido uma tuberculose, tendo retirado um dos pulmões, o que comprometeu a qualidade de suas interpretações. Devido a isso, um novo trabalho, em fase de conclusão, foi abortado pela SONY (CBS à época) que ponderou em sua decisão as limitações vocais do cantor, associadas ao fato de sua pouca receptividade junto ao público, insuficiente para render retorno financeiro ao empreendimento. Depois disso, Cassiano mergulhou num ostracismo o que lhe valeu a fama de recluso.

Ainda que com tais restrições, um 4º trabalho haveria de ser lançado pela mesma gravadora depois de 15 anos de afastamento: CEDO OU TARDE (1991) reunindo quase que exclusivamente remakes de seus maiores sucessos. O álbum contou com as ilustres participações de Marisa Monte, Djavan, Luiz Melodia, Ed Motta, Sandra de Sá, Cláudio Zoli e Karla Sabah. Apesar da produção esmerada e da bela e interessante capa, que remete aos clássicos do blues americano, o resultado não agradou Cassiano e não emplacou comercialmente.

Quanto a COLEÇÃO lançado em 2000, consiste, na verdade, em uma compilação das faixas mais representativas dos 3 primeiros álbuns, sendo que a seleção do repertório coube ao gabaritado discípulo Ed Motta que estranhamente deixou “Primavera” de fora, (seria por razões de direitos autorais?). O projeto foge pois ao padrão comum de coletâneas caça-níqueis lançadas pelas gravadoras com critérios meramente mercadológicos. Trata-se de um trabalho de excelência encomendado pelo exigente selo Dubas, sob a supervisão do compositor Ronaldo Bastos. O resultado é um painel representativo para conhecer o trabalho do grande músico paraibano. Para quem preferir mergulhar com tudo na obra do artista, a melhor alternativa mesmo é arrematar os demais álbuns, todos felizmente disponíveis em CD.

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Faixas:

1. Coleção (Cassiano/Paulo Zdanowski)

2. De Bar Em Bar (Cassiano/Paulo Zdanowski)

3. Melissa (Cassiano)

4. É Isso Aí (Cassiano)

5. Hoje É Natal (Cassiano/Paulo Zdanowski)

6. Salve Essa Flor (Cassiano/Paulo Zdanowski)

7. Não Fique Triste (Cassiano)

8. Cedo Ou Tarde (Cassiano/Suzana)

9. Ana (Cassiano/Paulo Zdanowski)

10. Já (Cassiano)

11. Uma Lágrima (Cassiano)

12. A Casa de Pedra (Cassiano)

13. A Lua E Eu (Cassiano/Paulo Zdanowski)

14. Saia Dessa Fossa (Cassiano/Paulo Zdanowski)

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