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22 de jan. de 2022

ELZA SOARES – BATERISTA WILSON DAS NEVES (1968)

 

Elza Soares já era um mito na MPB e no samba, quando chamou Wilson das Neves, o ainda pouco conhecido baterista (embora já houvesse tocado com Eumir Deodato nos históricos grupos Os Catedráticos e Os Gatos e com o maestro Moacir Santos), para fazer uma revisão de sua carreira num novo álbum.

A ideia surgiu quando Elza fazia uma excursão pela Argentina acompanhada apenas por Wilson mais um conjunto local de apoio. Em suas apresentações, tinha por hábito dar espaço para os instrumentistas da banda provarem seu talento, solando durante alguns minutos. Ficou tão encantada com as habilidades do baterista que cogitou dividirem um álbum. Um executivo da EMI/Odeon, gravadora de Elza, consultado sobre as intenções da contratada, não aprovou a ideia, tentando dissuadi-la da iniciativa. Sem sucesso. Elza bancou seu prestígio não apenas em levar adiante o projeto como fez questão de dividir igualmente os créditos com Wilson e (sacrilégio!) colocá-lo na capa do álbum, a seu lado!

O LP fez sucesso e foi referenciado como um dos grandes exemplares de samba-jazz, abrindo caminho para o baterista tocar sua própria carreira individual. Veio ele a gravar no mesmo ano de 1968 o álbum JUVENTUDE 2000 e no ano seguinte SOM QUENTE É O DAS NEVES. Mais tarde, viria a se aventurar também como cantor e compositor. Além disso, passou a ser bastante requisitado em trabalhos com outros artistas seja de samba (Cartola, Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, Clara Nunes, Martinho da Vila) como de outros ritmos (Chico Buarque, Egberto Gismonti, João Donato, Elis Regina, Nara Leão, Jorge Benjor).

Indagado se não via necessidade de incrementar o acompanhamento com mais instrumentos, Wilson disse que a voz da sambista já era por si só um instrumento.

Estão nesse álbum alguns clássicos em que Elza demonstra toda a versatilidade de sua interpretação ímpar e sua inconfundível rouquidão como “Se Acaso Você Chegasse” (Lupicínio Rodrigues), seu primeiro grande sucesso, e “Mulata Assanhada” (Ataulfo Alves). Tem também standards da bossa nova como “Garota de Ipanema” (Tom/Vinícius), “O Pato” (Jaime Silva, Nélson Teixeira), “Samba de Verão” (irmãos Valle), “Balanço Zona Sul” (Tito Madi).

Há ainda a versão da sambista carioca para “Deixa Isso pra Lá” (Alberto Paz e Édson Menezes), sucesso de Jair Rodrigues, hoje em evidência por ter sido identificada como o primeiro rap brasileiro, prova de fogo para a dupla revelar seu talento num perfeito diálogo voz-percussão.

Os arranjos são do músico Nelsinho do Trombone (Nélson Pereira dos Santos), que assina também a faixa “Teleco-Teco nº 2”, e a produção musical é do maestro Lyrio Panicali.

O álbum chegou a CD remasterizado em 2002 pela série Odeon 100 Anos de Música no Brasil, sob supervisão de Charles Gavin, porém já se tornou raridade (o LP então nem se fale...).

Foi também lançado compondo o box Caixa Preta, organizado por Marcelo Fróes, com 12 CDs sob formato 2 em 1, esmerado trabalho englobando toda a produção da dona do Voz do Milênio (como foi reconhecida) para o período 1960/1988 mais faixas bônus.

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Faixas:

1. Balanço Zona Sul (Tito Madi)

2. Deixa Isso Pra Lá (Alberto Paz/Edson Menezes)

3. Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)

4. Edmundo (In The Mood) (Joe Garland/Andy Razaf/Vrs. Aloysio de Oliveira)

5. O Pato (Jaime Silva/Neuza Teixeira)

6. Copacabana (João de Barro/Alberto Ribeiro)

7. Teleco-teco Nº 2 (Nelsinho/Oldemar Magalhães)

8. Saudade da Bahia (Dorival Caymmi)

9. Samba de Verão (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)

10. Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues/Felisberto Martins)

11. Mulata Assanhada (Ataulfo Alves)

12. Palhaçada (Luiz Reis/Haroldo Barbosa)




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