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20 de jun. de 2021

RAUL DE SOUZA – SWEET LUCY (1977)

 

Ele estava destinado a brilhar desde que o trio de notáveis, Pixinguinha, Nélson Cavaquinho e Ary Barroso chancelou sua genialidade. O criador de “Carinhoso”, ao vê-lo tocar, ainda garoto, incentivou-o a procurar uma gravadora. O compositor de “A Flor e o Espinho” ficou impressionado com seus dotes musicais levando-o a um programa radiofônico de calouros onde se consagrou. Não escapou ao apresentador, o autor de “Aquarela do Brasil”, a percepção de seu potencial. O único empecilho parecia ser o nome do indivíduo, João José, inapropriado para a carreira musical. Ary desencavou-lhe então o epíteto de Raulito, convertido depois em Raulzinho, por ele adotado no início de sua carreira solo. Sob esse codinome, gravou em 1965 o primeiro LP solo, À VONTADE MESMO. Esse álbum que teve a participação do Sambalanço Trio de César Camargo Mariano e Airto Moreira, foi recuperado em CD pela BMG em 2001.

Sua opção pelo trombone foi ditada pelo orçamento. Sua predileção era para o sax. Mas, de família pobre de Bangu, não conseguiu adquirir o instrumento de seus sonhos. Acabou sendo predestinado a um trombone de válvula que encontrou a um preço acessível.

Dominando o instrumento, participou do LP Turma da Gafieira ao lado de bambas como Altamiro Carrilho, Baden Powell, Édison Machado e Sivuca, tido pelos estudiosos como o primeiro registro de samba-jazz, ritmo aliás que ia marcar a primeira fase de sua carreira.

Mais tarde, integrou A Turma da Pilantragem, grupo que contava entre outros com Nonato Buzar, Cassiano, Márcio Montarroyos e Fredera. Chegou a integrar o RC-7, grupo de apoio a Roberto Carlos em seu período áureo da Jovem Guarda, mas, antevendo que se tornaria uma pálida sombra de suporte ao “brasa”, sabiamente caiu fora.

Seu reconhecimento não se daria em sua terra natal, onde os grandes instrumentistas estão fadados ao ostracismo. Rumou para os Estados Unidos, onde João José Pereira de Souza que já fora Raulzinho e se converteu em Raul de Souza pôde literalmente botar a boca no trombone.

O pulo do gato ocorreu com o álbum COLORS (1974), arranjado pelo lendário trombonista J J Johnson e que contou com a participação de dois monstros sagrados do jazz: o saxofonista Cannonball Adderley e o baterista Jack DeJohnette. O disco é cultuado pelos amantes do gênero e tornou-se referência.

Seu virtuosismo foi certificado por grandes nomes da música, impressionados com sua capacidade de improvisação e a intimidade com que lidava com o instrumento.

Tocou ao lado de nomes lendários como Sonny Rollins, Wayne Shorter, Ron Carter, Lionel Hampton, Hubert Laws, Chick Corea, Jimmy Smith, Stanley Clarke, Sarah Vaughn sem contar artistas nacionais como Tom Jobim, Sérgio Mendes, Flora Purim, Hermeto Paschoal, Milton Nascimento etc.

Foi apontado pelas revistas especializadas como um dos maiores do mundo no trombone. Assenhorou-se do instrumento a tal ponto que viria a criar uma versão para uso particular, o Souzaphone.

Deixando crescer uma vasta cabeleira afro e abraçando o funk, lançou em anos consecutivos uma trinca de álbuns bem sucedidos no mercado internacional, SWEET LUCY, DON´T ASK MY NEIGHBOURS e ‘TIL TOMORROWS COME.

SWEET LUCY (1977) foi seu trabalho de maior repercussão, vendendo só nos EUA 300 mil cópias. No Brasil foi lançado em LP pela EMI mas jamais editado em CD. A música tema que abre o álbum, com seu swing contagiante, correu o mundo e catapultou o sucesso do músico em todo o planeta.

O álbum foi produzido por George Duke e contou com as participações do trompetista Freddie Hubbard, de Airto Moreira na percussão e do tecladista Ian Underwood, conhecido por seus trabalhos com Frank Zappa e The Mothers of Invention (com quem Duke também atuou).

No álbum constam também “Canção do Nosso Amor” do repertório de Sérgio Mendes e uma versão de “Banana Tree” (“bananeira não sei, bananeira sei lá...”), famosa composição de João Donato, com quem o músico carioca sempre manteve estreita ligação. Com ele lançaria em 2016 o disco BOSSA ETERNA que contou também com a presença de Robertinho Silva e Luiz Alves.

Nos seus últimos anos, dividia sua vida entre Brasil e França onde residia numa vila medieval.

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Faixas:

1. Sweet Lucy (George Duke) 5:27

2. Wires (George Duke) 3:18

3. Wild and Shy (Raul de Souza) 7:35

4. At Will (Raul de Souza) 4:15

5. Banana Tree (João Donato) 4:56

6. A Song of Love (L. L. Smith) 6:16

7. New Love (Canção do Nosso Amor) (Silveira/Medeiros) 4:25

8. Bottom Heat (Raul de Souza) 5:07


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