Ele estava
destinado a brilhar desde que o trio de notáveis, Pixinguinha, Nélson
Cavaquinho e Ary Barroso chancelou sua genialidade. O criador de “Carinhoso”,
ao vê-lo tocar, ainda garoto, incentivou-o a procurar uma gravadora. O compositor
de “A Flor e o Espinho” ficou impressionado com seus dotes musicais levando-o a
um programa radiofônico de calouros onde se consagrou. Não escapou ao
apresentador, o autor de “Aquarela do Brasil”, a percepção de seu potencial. O
único empecilho parecia ser o nome do indivíduo, João José, inapropriado para a
carreira musical. Ary desencavou-lhe então o epíteto de Raulito, convertido
depois em Raulzinho, por ele adotado no início de sua carreira solo. Sob esse codinome,
gravou em 1965 o primeiro LP solo, À VONTADE MESMO. Esse álbum que teve a
participação do Sambalanço Trio de César Camargo Mariano e Airto Moreira, foi
recuperado em CD pela BMG em 2001.
Sua
opção pelo trombone foi ditada pelo orçamento. Sua predileção era para o sax.
Mas, de família pobre de Bangu, não conseguiu adquirir o instrumento de seus
sonhos. Acabou sendo predestinado a um trombone de válvula que encontrou a um
preço acessível.
Dominando
o instrumento, participou do LP Turma da Gafieira ao lado de bambas como
Altamiro Carrilho, Baden Powell, Édison Machado e Sivuca, tido pelos estudiosos
como o primeiro registro de samba-jazz, ritmo aliás que ia marcar a primeira
fase de sua carreira.
Mais
tarde, integrou A Turma da Pilantragem, grupo que contava entre outros com
Nonato Buzar, Cassiano, Márcio Montarroyos e Fredera. Chegou a integrar o RC-7,
grupo de apoio a Roberto Carlos em seu período áureo da Jovem Guarda, mas,
antevendo que se tornaria uma pálida sombra de suporte ao “brasa”, sabiamente
caiu fora.
Seu
reconhecimento não se daria em sua terra natal, onde os grandes instrumentistas
estão fadados ao ostracismo. Rumou para os Estados Unidos, onde João José Pereira
de Souza que já fora Raulzinho e se converteu em Raul de Souza pôde literalmente
botar a boca no trombone.
O
pulo do gato ocorreu com o álbum COLORS (1974), arranjado pelo lendário
trombonista J J Johnson e que contou com a participação de dois monstros
sagrados do jazz: o saxofonista Cannonball Adderley e o baterista Jack
DeJohnette. O disco é cultuado pelos amantes do gênero e tornou-se referência.
Seu
virtuosismo foi certificado por grandes nomes da música, impressionados com sua
capacidade de improvisação e a intimidade com que lidava com o instrumento.
Tocou
ao lado de nomes lendários como Sonny Rollins, Wayne Shorter, Ron Carter,
Lionel Hampton, Hubert Laws, Chick Corea, Jimmy Smith, Stanley Clarke, Sarah
Vaughn sem contar artistas nacionais como Tom Jobim, Sérgio Mendes, Flora
Purim, Hermeto Paschoal, Milton Nascimento etc.
Foi
apontado pelas revistas especializadas como um dos maiores do mundo no trombone.
Assenhorou-se do instrumento a tal ponto que viria a criar uma versão para uso
particular, o Souzaphone.
Deixando
crescer uma vasta cabeleira afro e abraçando o funk, lançou em anos
consecutivos uma trinca de álbuns bem sucedidos no mercado internacional, SWEET
LUCY, DON´T ASK MY NEIGHBOURS e ‘TIL TOMORROWS COME.
SWEET
LUCY (1977) foi seu trabalho de maior repercussão, vendendo só nos EUA 300 mil
cópias. No Brasil foi lançado em LP pela EMI mas jamais editado em CD. A música
tema que abre o álbum, com seu swing contagiante, correu o mundo e catapultou o
sucesso do músico em todo o planeta.
O
álbum foi produzido por George Duke e contou com as participações do trompetista
Freddie Hubbard, de Airto Moreira na percussão e do tecladista Ian Underwood,
conhecido por seus trabalhos com Frank Zappa e The Mothers of Invention (com
quem Duke também atuou).
No
álbum constam também “Canção do Nosso Amor” do repertório de Sérgio Mendes e
uma versão de “Banana Tree” (“bananeira não sei, bananeira sei lá...”), famosa
composição de João Donato, com quem o músico carioca sempre manteve estreita
ligação. Com ele lançaria em 2016 o disco BOSSA ETERNA que contou também com a
presença de Robertinho Silva e Luiz Alves.
Nos
seus últimos anos, dividia sua vida entre Brasil e França onde residia numa
vila medieval.
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Faixas:
1. Sweet Lucy (George Duke) 5:27
2. Wires (George Duke) 3:18
3. Wild and Shy (Raul de Souza) 7:35
4. At Will (Raul de Souza) 4:15
5. Banana Tree (João Donato) 4:56
6. A Song of Love (L. L. Smith) 6:16
7. New Love
(Canção do Nosso Amor) (Silveira/Medeiros) 4:25
8. Bottom Heat (Raul de Souza) 5:07