Nem Caetano, nem
Gil. Esse disco de Gal de 1969, é possivelmente o álbum mais radicalmente
tropicalista de toda a história da MPB.
A cantora explodira
há pouco como uma das grandes vozes da nossa música com seu primeiro álbum solo
(aquele que continha DIVINO MARAVILHOSO, BABY, QUE PENA, SE VOCÊ PENSA e NÃO
IDENTIFICADO), lançado alguns meses antes.
Rompeu de vez, a partir desse
álbum seu segundo álbum solo, sem título (apelidado de CINEMA OLYMPIA, a faixa de abertura, para evitar
confusões com o primeiro álbum, também sem título, do mesmo ano) com o
tom bossanovista adotado do início de sua carreira de Maria de Graça e soltou
sem dó a sua portentosa e maravilhosa voz, assumindo uma postura
hippie/psicodélica sob influência de Janis Joplin, a começar pela capa
multicolorida, elaborada pelo artista plástico baiano Dicinho, sua obra mais
arrojada.
Tendo ao fundo o
baixo e a guitarra do mítico Lanny Gordin, Gal não poupou distorções, uivos e
atonalidades, algo que expurgou totalmente de seus trabalhos posteriores. Foi o
experimentalismo levado a suas últimas consequências.
A prova é a
música MEU NOME É GAL (composta especialmente para ela pela dupla Roberto e
Erasmo Carlos). Em meio a viagens sonoras, Gal elenca seus maiores ídolos
musicais (“o pessoal da pesada”) e recita sua profissão de fé “Se um dia eu
tiver alguém com bastante amor pra me dar, não precisa sobrenome pois é o amor
que faz o homem”. A canção seria regravada com um arranjo bem mais comportado dez
anos depois no álbum GAL TROPICAL, onde as estrepolias da gravação original
foram abolidas.
O álbum traz
também PAÍS TROPICAL de Jorge Ben com a participação de Caetano e Gil, que
recebeu uma roupagem bem mais interessante do que a gravação de Simonal que a
consagrou. De Ben, outra pérola, a então inédita TUAREG, em que o compositor
carioca mescla seus interesses pelo exotismo da cultura oriental, com seu
incomparável suíngue, homenageando, sob uma atmosfera sonora árabe, o guerreiro
da tribo do deserto.
Jards Macalé participa
com seu violão em THE EMPTY BOAT, canção de Caetano Veloso, faixa presente
também em seu álbum branco lançado concomitantemente ao de Gal.
A obra foi produzida
por Manoel Barembein e recebeu arranjos e direção musical do maestro Rogério
Duprat, dois nomes emblemáticos do tropicalismo, que estiveram por trás também
do disco coletivo TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENCIS (o mais importante manifesto
do movimento tropicalista) que teve também a indispensável participação da cantora
baiana.
Lançado pela
Philips (atual Universal), saiu também em CD mas está fora de catálogo.
.
Faixas:
1.
"Cinema Olympia" Caetano Veloso
3:09
2.
"Tuareg" Jorge Ben 3:25
3.
"Cultura e Civilização" Gilberto Gil 4:21
4.
"País Tropical" Jorge Ben (featuring Caetano Veloso, Gilberto Gil)
3:49
5.
"Meu Nome é Gal" Roberto Carlos, Erasmo Carlos 3:26
6.
"Com Medo, Com Pedro" Gilberto Gil 3:07
7.
"The Empty Boat" Caetano Veloso (featuring Jards Macalé) 4:07
8.
"Objeto Sim, Objeto Não" Gilberto Gil 5:10
9.
"Pulsars e Quasars" Jards Macalé, Capinam 4:58
Nenhum comentário:
Postar um comentário