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9 de nov. de 2020

JOYCE – FEMININA (1980)


Joyce Moreno (que até a década anterior era apenas Joyce) teve formação privilegiada. Nascida em Copacabana, fez colégio em Ipanema e graduou-se em jornalismo pela PUC-RJ. Foi criada num ambiente familiar onde se cultivavam o jazz e a bossa nova. 

Feminista numa época em que o tema ainda era tabu, foi uma das compositoras inseridas com maior propriedade na trilha sonora da série Malu Mulher que trazia a faixa “Feminina”, defendida pelo Quarteto em Cy.

Na voz da compositora, essa canção passaria a integrar o quinto trabalho de Joyce e que veio a dar título ao álbum, lançado pela EMI. O disco FEMININA tornou a cantora carioca popular, catapultado por “Clareana”, finalista do Festival MPB-80, que contou com a graciosa participação de suas filhinhas, Clara e Ana (de cujos nomes foi feita a combinação que originou o título da música).

À época, a carreira artística de Joyce contava com mais de 10 anos. A venturosa artista já dera start em sua trajetória fonográfica com o pé direito. Seu ‘debut’ álbum fora produzido por Dori Caymmi e tivera a apresentação de capa redigida por ninguém menos do que Vinícius de Moraes. Ademais, mostrou ela desde cedo um faro invulgar para revelar novos autores. Esse disco (de 1968 pela Philips) trouxe um repertório formado por compositores ainda iniciantes na cena musical. Alguns deles: Paulinho da Viola, Marcos Valle, Jards Macalé, Francis Hime, Caetano Veloso e Toninho Horta. Ainda que com tamanhos atributos, o álbum ficou circunscrito a um público reduzido.

100% autoral, FEMININA pode ser considerado o primeiro álbum de êxito comercial da artista carioca. Além de “Clareana” e “Feminina”, traz três composições de Joyce que já haviam feito sucesso em interpretações de artistas da primeira linha da MPB. “Essa Mulher” fora gravada por Elis sendo também o título do álbum que a contém, lançado em 1979. Nesse mesmo ano, Bethânia trazia “Da Cor do Pecado” no álbum MEL. Um ano antes, Milton Nascimento emplacara “Mistérios” com a participação do Boca Livre no icônico LP duplo CLUBE DA ESQUINA 2.

FEMININA, ainda que tenha sido um disco bem sucedido, merece figurar como injustiçado por duas razões. A primeira é que, não obstante sua boa aceitação, ficou inédito em CD por nada menos do que 30 anos. Chegara apenas a fazer parte do projeto 2 EM 1, série barata, desprovida de créditos que juntava arbitrariamente dois LPs em um CD. Enquanto isso, o vinil alcançava preços astronômicos nos sebos. A segunda é que, engavetado pela EMI no Brasil, o álbum foi “descoberto”nos anos 90 na Europa, tornando-se um enorme sucesso lá fora. Conforme ela mesma informa à revista Época, o LP chegou a ser avaliado em U$ 500,00 nos sebos de Londres.

O mais curioso é que a ressurreição do disco deveu-se aos DJ’s londrinos que enxergaram na música “Aldeia de Ogum” (faixa vocal-instrumental que sequer figurava entre as mais conhecidas por aqui) potencial para embalar os clubes noturnos. A música, sampleada (ou na versão ‘crua’, sem efeitos) tornou-se enorme sucesso nas pistas de dança, surfando na onda do drum’n´bossa.

O prestígio de Joyce estendeu-se ao Japão, onde é possível encontrar sem dificuldade boa parte da sua discografia. Há até mesmo um CD em que ela interpreta standards de jazz, JOYCE MORENO COOL, inédito no Brasil.

Duas das composições de FEMININA vieram a integrar o bem sucedido projeto beneficente Red Hot + Rio - vol 2: “Banana” e “Mistérios”.

FEMININA tem nos acompanhamentos, Mauro Senise, Hélio Delmiro, Gilson Peranzzetta, Fernando Leporace, Danilo Caymmi e Tutty Moreno com quem Joyce se casou e de quem herdou o sobrenome que traz hoje.

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Faixas:

1.         Feminina (Joyce)

2.         Mistérios (Maurício Maestro, Joyce)

3.         Clareana (Joyce)

4.         Banana (Joyce)

5.         Revendo amigos (Joyce)

6.         Essa mulher (Ana Terra, Joyce)

7.         Coração de criança (Fernando Leporace, Joyce)

8.         Da cor brasileira (Ana Terra, Joyce)

9.         Aldeia de Ogum (Joyce)

10.       Compor (Joyce)




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