Joyce Moreno (que até a década
anterior era apenas Joyce) teve formação privilegiada. Nascida em Copacabana,
fez colégio em Ipanema e graduou-se em jornalismo pela PUC-RJ. Foi criada num
ambiente familiar onde se cultivavam o jazz e a bossa nova.
Feminista numa época em que o tema
ainda era tabu, foi uma das compositoras inseridas com maior propriedade na
trilha sonora da série Malu Mulher que trazia a faixa “Feminina”, defendida
pelo Quarteto em Cy.
Na voz da compositora, essa canção
passaria a integrar o quinto trabalho de Joyce e que veio a dar título ao
álbum, lançado pela EMI. O disco FEMININA tornou a cantora carioca popular, catapultado
por “Clareana”, finalista do Festival MPB-80, que contou com a graciosa
participação de suas filhinhas, Clara e Ana (de cujos nomes foi feita a
combinação que originou o título da música).
À época, a carreira artística de
Joyce contava com mais de 10 anos. A venturosa artista já dera start em sua
trajetória fonográfica com o pé direito. Seu ‘debut’ álbum fora produzido por
Dori Caymmi e tivera a apresentação de capa redigida por ninguém menos do que
Vinícius de Moraes. Ademais, mostrou ela desde cedo um faro invulgar para
revelar novos autores. Esse disco (de 1968 pela Philips) trouxe um repertório formado
por compositores ainda iniciantes na cena musical. Alguns deles: Paulinho da
Viola, Marcos Valle, Jards Macalé, Francis Hime, Caetano Veloso e Toninho
Horta. Ainda que com tamanhos atributos, o álbum ficou circunscrito a um
público reduzido.
100% autoral, FEMININA pode ser
considerado o primeiro álbum de êxito comercial da artista carioca. Além de
“Clareana” e “Feminina”, traz três composições de Joyce que já haviam feito
sucesso em interpretações de artistas da primeira linha da MPB. “Essa Mulher”
fora gravada por Elis sendo também o título do álbum que a contém, lançado em
1979. Nesse mesmo ano, Bethânia trazia “Da Cor do Pecado” no álbum MEL. Um ano
antes, Milton Nascimento emplacara “Mistérios” com a participação do Boca Livre
no icônico LP duplo CLUBE DA ESQUINA 2.
FEMININA,
ainda que tenha sido um disco bem sucedido, merece figurar como injustiçado por
duas razões. A primeira é que, não obstante sua boa aceitação, ficou inédito em
CD por nada menos do que 30 anos. Chegara apenas a fazer parte do projeto 2 EM
1, série barata, desprovida de créditos que juntava arbitrariamente dois LPs em
um CD. Enquanto isso, o vinil alcançava preços astronômicos nos sebos. A
segunda é que, engavetado pela EMI no Brasil, o álbum foi “descoberto”nos anos
90 na Europa, tornando-se um enorme sucesso lá fora. Conforme ela mesma informa
à revista Época, o LP chegou a ser avaliado em U$ 500,00 nos sebos de Londres.
O mais curioso é que a ressurreição
do disco deveu-se aos DJ’s londrinos que enxergaram na música “Aldeia de Ogum”
(faixa vocal-instrumental que sequer figurava entre as mais conhecidas por aqui)
potencial para embalar os clubes noturnos. A música, sampleada (ou na versão ‘crua’,
sem efeitos) tornou-se enorme sucesso nas pistas de dança, surfando na onda do
drum’n´bossa.
O prestígio de Joyce estendeu-se ao
Japão, onde é possível encontrar sem dificuldade boa parte da sua discografia.
Há até mesmo um CD em que ela interpreta standards de jazz, JOYCE MORENO COOL,
inédito no Brasil.
Duas das composições de FEMININA vieram
a integrar o bem sucedido projeto beneficente Red Hot + Rio - vol 2: “Banana” e
“Mistérios”.
FEMININA tem nos acompanhamentos,
Mauro Senise, Hélio Delmiro, Gilson Peranzzetta, Fernando Leporace, Danilo
Caymmi e Tutty Moreno com quem Joyce se casou e de quem herdou o sobrenome que
traz hoje.
.
Faixas:
1. Feminina (Joyce)
2. Mistérios (Maurício Maestro, Joyce)
3. Clareana (Joyce)
4. Banana (Joyce)
5. Revendo amigos (Joyce)
6. Essa mulher (Ana Terra, Joyce)
7. Coração de criança (Fernando Leporace,
Joyce)
8. Da cor brasileira (Ana Terra, Joyce)
9. Aldeia de Ogum (Joyce)
10. Compor (Joyce)
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