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10 de nov. de 2020

DOCES BÁRBAROS (1976)

 

“Doces Bárbaros” foi a designação conferida a um supergrupo efêmero (de um só disco) formado por Caetano, Gil, Gal e Bethânia. 

Apesar de reunir a elite baiana da MPB, no auge de suas respectivas carreiras, esse álbum duplo ao vivo permanece até hoje no limbo. Em pouco tempo, foi retirado de catálogo pela Philips que fortuitamente contava com os quatro em seu plantel. Apesar do prestígio dos integrantes, o disco não emplacou nem mesmo entre os inúmeros fãs que continuaram prestigiando os trabalhos solo de carreira.

De fato, o álbum parecia mesmo não ter sido destinado a alcançar sucesso comercial. As interpretações fogem do convencional. Algumas faixas se estendem por 7 ou 8 minutos. As vozes dos intérpretes não vibram em uníssono, uma se sobressai à outra, aparentando falta de entrosamento.

Ainda que contando com uma banda de suporte de primeira (Tomaz Improta ao piano, Arnaldo Brandão no baixo, Perinho Santana na guitarra, Chiquinho Azevedo na batera, Tuzé de Abreu e Mauro Senise nos sopros e Djalma Corrêa na percussão) e sem contar com os recursos de estúdio, a qualidade técnica das gravações deixa a desejar.

Além de problemas com a censura (que cortou uma das faixas), houve um contratempo inesperado com as autoridades: Gil foi detido por porte de maconha, interrompendo a peregrinação do espetáculo ainda em seu início.

Pra culminar, o álbum teve receptividade negativa dos críticos. Com tantas agruras, o disco parecia estar fadado ao fracasso.

No entanto, uma leitura atual inclina-se a resgatar os créditos desse injustiçado álbum. Muito do que foi objeto de crítica, mereceria ser motivo de louvor. A ausência de recursos técnicos foi amplamente compensada pela emoção e improviso do show ao vivo (apenas 4 faixas foram gravadas em estúdio). Ao abrir mão do formalismo e privilegiar a autenticidade, o registro capta mais fielmente o espírito libertário que permeava a ligação entre os quatro artistas que mantinham uma relação de proximidade que até hoje perdura. Provindos (à exceção de Bethânia) do tropicalismo e submetidos, no caso de Gil e Caetano, ao exílio, vivenciavam à época uma fase hippie/esotérica, atestável pelo visual descolado, o porte magérrimo, trajes brancos folgados, pulseiras, colares. Sem abrir mão da ousadia e do experimentalismo como nas desbundantes “Peixe”, “Tarasca Guidon” e “Eu e Ela Estávamos Ali Encostados na Parede”, prevaleceu a intenção de resgatar as raízes afro-baianas.

A ascendência de Bethânia (a quem, aliás, deve-se a iniciativa de promoção do histórico encontro) deve ter interferido no rumo do projeto. Na verdade, a proposta do encontro dos quatro mitos era basicamente comemorar seus dez anos de carreira. Aparentemente, tratava-se de uma ‘média aproximada’, já que as carreiras fonográficas de Bethânia e Gil tinham respectivamente onze e treze anos enquanto as de Caetano e Gal contava nove anos (desde o álbum comum DOMINGO).

Apesar da celebração, grande parte das 18 faixas era de inéditas, a maioria composições de Gil e Caetano. As exceções ficam por conta de “Fé Cega Faca Amolada” do repertório de Milton Nascimento, “Tarasca Guidon” de Waly Salomão e do clássico “Atiraste uma Pedra” de Herivelto Martins e David Nasser.  

Afora todas considerações, um disco que traz a marca desses quatro geniais artistas em perfeita sintonia e no auge da criatividade, só pode figurar em primeiro plano.

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Faixas:

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Disco 1

1. "Os Mais Doces Bárbaros" (Caetano Veloso) - 6:42

2. "Fé Cega, Faca Amolada" (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 5:30

3. "Atiraste Uma Pedra" (Herivelto Martins, David Nasser) - 3:59

4. "Pássaro Proibido" (Maria Bethânia, Caetano Veloso) - 4:38

5. "Chuck Berry Fields Forever" (Gilberto Gil) - 5:25

6. "Genesis" (Caetano Veloso) - 8:46

7. "Tarasca Guidon" (Waly Salomão) - 7:27

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Disco 2

1. "Eu e Ela Estávamos Ali Encostados na Parede" (Gilberto Gil) - 4:13

2. "Esotérico" (Gilberto Gil) - 4:09

3. "Eu Te Amo" (Caetano Veloso) - 3:00

4. "O Seu Amor" (Gilberto Gil) - 4:27

5. "Quando" (Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil) - 4:13

6. "Pé Quente, Cabeça Fria" (Gilberto Gil) - 3:49

7. "Peixe" (Caetano Veloso) - 3:16

8. "Um Índio" (Caetano Veloso) - 4:42

9. "São João, Xangô Menino" (Caetano Veloso, Gilberto Gil) - 4:31

10. "Nós, Por Exemplo" (Gilberto Gil) - 4:01

11. "Os Mais Doces Bárbaros" - Reprise (Caetano Veloso) - 1:20





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