Quem conhece esse nome? Na Wikipedia, a única alusão a Fernando Falcão era a de um insignificante município encravado no sertão maranhense (lacuna corrigida apenas recentemente). Mesmo no mundo artístico, são poucos os que ouviram falar desse compositor, poeta e economista, egresso do movimento estudantil, falecido em 2002, que escolheu a percussão como forma precípua de expressividade. Mais provável achar referências em sites internacionais especializados em música.
Dele
pode ser garimpada uma tocante composição em parceria com Fausto Nilo,
“Marinheira”, fechando o disco ROMANCE POPULAR de Nara Leão.
Sua
obra é de fato enxuta. Apenas 3 álbuns: MEMÓRIA DAS ÁGUAS de 1981, BARRACAS
BARROCAS de 1987 que traz parcerias com Alceu Valença e Lelo Nazário,
participação de Tetê Espíndola mais um time respeitável de instrumentistas (Daniel
Taubkin, Teco Cardoso, Rodolfo Stroeter, Jorge Degas, Toninho Carrasqueira). E ENGENHO
DOS MENINOS, (dividido com Zé da Flauta) com a participação de Fagner e
Dominguinhos. Esse último, lançamento póstumo de 2003, foi o único convertido em
CD para o mercado nacional.
MEMÓRIA
DAS ÁGUAS, gravado em 1979 em Paris, onde FF se exilara por razões políticas, foi
(pode apostar!) lançado no Brasil dois anos após. Embora esse seja o único registro
que não traz o aporte de artistas renomados (apenas uma trupe de competentes
mas pouco conhecidos músicos franceses e brasileiros, incluindo a atriz Valerie
King com quem se casou), é não apenas seu trabalho mais expressivo como,
seguramente, uma das mais brilhantes obras
da música instrumental nacional.
A
capa discreta (um pequeno peixe estilizado sobre um fundo preto) e a criação
independente afrontam a exuberância e o esmero da produção. São oito ricas peças
de puro deleite em que o músico funde com primor sonoridades regionais do
Nordeste e polirritmia africana (conferir “Curimão” que reúne sons
onomatopaicos e do folclore da Guiné e “Mercado” que traz como fundo o
burburinho do mercado de Tanger, Marrocos) com música erudita contemporânea e
jazz, obtendo um resultado hipnótico. Impossível não se sensibilizar com o
lancinante violino dialogando com o frêmito de pássaros selvagens em “Revoada”,
talvez o ponto alto do disco.
O
fato de se tratar de um trabalho que teve distribuição restrita tornou esse LP
uma genuína raridade. Uma pérola que permanecerá para sempre desconhecida em
águas profundas, sem memórias.
PS:
MEMÓRIA DAS ÁGUAS e BARRACAS BARROCAS foram reeditadas em 2019 no mercado
internacional pelo selo Selva Discos
.
Faixas:
1. Memória Das
Águas 5:01
2. Amanhecer
Tabajara (A Alceu Valença) 3:55
3. Ladeira Dos
Inocentes 5:02
4. Revoada 5:16
5. Mercado
(Gravado No Mercado Tanger) 3:14
6. Curimão (Sons
Onomatopaicos E Folk Da Guiné) 6:45
7. Solito (Solo
De Balauê) 4:19
8. Danado
Cantador (Balauê, Orquestra E Declamação) (A Fagner) 4:47
(todas as faixas
compostas por Fernando Falcão)
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