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9 de dez. de 2020

FERNANDO FALCÃO - MEMÓRIA DAS ÁGUAS (1981)

 


Quem conhece esse nome? Na Wikipedia, a única alusão a Fernando Falcão era a de um insignificante município encravado no sertão maranhense (lacuna corrigida apenas recentemente). Mesmo no mundo artístico, são poucos os que ouviram falar desse compositor, poeta e economista, egresso do movimento estudantil, falecido em 2002, que escolheu a percussão como forma precípua de expressividade. Mais provável achar referências em sites internacionais especializados em música.

Dele pode ser garimpada uma tocante composição em parceria com Fausto Nilo, “Marinheira”, fechando o disco ROMANCE POPULAR de Nara Leão.  

Sua obra é de fato enxuta. Apenas 3 álbuns: MEMÓRIA DAS ÁGUAS de 1981, BARRACAS BARROCAS de 1987 que traz parcerias com Alceu Valença e Lelo Nazário, participação de Tetê Espíndola mais um time respeitável de instrumentistas (Daniel Taubkin, Teco Cardoso, Rodolfo Stroeter, Jorge Degas, Toninho Carrasqueira). E ENGENHO DOS MENINOS, (dividido com Zé da Flauta) com a participação de Fagner e Dominguinhos. Esse último, lançamento póstumo de 2003, foi o único convertido em CD para o mercado nacional.

MEMÓRIA DAS ÁGUAS, gravado em 1979 em Paris, onde FF se exilara por razões políticas, foi (pode apostar!) lançado no Brasil dois anos após. Embora esse seja o único registro que não traz o aporte de artistas renomados (apenas uma trupe de competentes mas pouco conhecidos músicos franceses e brasileiros, incluindo a atriz Valerie King com quem se casou), é não apenas seu trabalho mais expressivo como, seguramente,  uma das mais brilhantes obras da música instrumental nacional.

A capa discreta (um pequeno peixe estilizado sobre um fundo preto) e a criação independente afrontam a exuberância e o esmero da produção. São oito ricas peças de puro deleite em que o músico funde com primor sonoridades regionais do Nordeste e polirritmia africana (conferir “Curimão” que reúne sons onomatopaicos e do folclore da Guiné e “Mercado” que traz como fundo o burburinho do mercado de Tanger, Marrocos) com música erudita contemporânea e jazz, obtendo um resultado hipnótico. Impossível não se sensibilizar com o lancinante violino dialogando com o frêmito de pássaros selvagens em “Revoada”, talvez o ponto alto do disco.

O fato de se tratar de um trabalho que teve distribuição restrita tornou esse LP uma genuína raridade. Uma pérola que permanecerá para sempre desconhecida em águas profundas, sem memórias.

PS: MEMÓRIA DAS ÁGUAS e BARRACAS BARROCAS foram reeditadas em 2019 no mercado internacional pelo selo Selva Discos

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Faixas:

1. Memória Das Águas 5:01

2. Amanhecer Tabajara (A Alceu Valença) 3:55

3. Ladeira Dos Inocentes 5:02

4. Revoada 5:16

5. Mercado (Gravado No Mercado Tanger) 3:14

6. Curimão (Sons Onomatopaicos E Folk Da Guiné) 6:45

7. Solito (Solo De Balauê) 4:19

8. Danado Cantador (Balauê, Orquestra E Declamação) (A Fagner) 4:47         

(todas as faixas compostas por Fernando Falcão)



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