Marcos
Valle integrou a segunda geração de nomes da bossa nova, surgida nos anos 60. Mais
tarde, expandiu sua atuação para outros gêneros que iam de temas ‘festivalescos’
de protesto até a produção de trilhas, séries e jingles para a Globo. Chegou a
gravar até um LP com ares psicodélicos (VENTO SUL, 1972) com membros do grupo O
Terço.
O
período inicial de 1963 a 1974 foi particularmente fértil, emplacando canções
memoráveis como “Samba de Verão”, “Preciso Aprender a Ser Só”, “Viola
Enluarada” (em dueto com o então estreante Milton Nascimento) e “Black is
Beautiful” (consagrada na voz de Elis Regina).
Em
1975, mudou-se para os EUA onde se estabeleceu por cinco anos, período em que
ficou longe dos estúdios, embora nunca tivesse deixado de frequentar o meio
musical, participando de trabalhos inclusive com Sarah Vaughan. Teve contato
também com o som black, cujo suingue influenciaria sua música futura.
Após
um jejum de sete anos, o disco VONTADE DE REVER VOCÊ inaugura uma nova fase classificada
como “geração saúde” que inclui também o álbum MARCOS VALLE (1983, conhecido
pela faixa “Estrelar” que se tornou trilha sonora de academias de malhação) e o
single BICICLETA (1984). As fotos das capas são sintomáticas: no primeiro, Marcos
sem camisa posa com pinta de surfista; no segundo, esbalda-se com um festival
de frutas e sucos naturais; no terceiro, pedala na praia em companhia de um cão
(esses álbuns integram uma edição recente em CD pela Série Discobertas).
Essa
guinada de estilo rendeu-lhe a pecha de oportunista, alienado, fútil. O tempo,
todavia, encarregou-se de resgatar esses discos, sobretudo VONTADE DE REVER
VOCÊ.
O plantel
de participantes é de tirar o chapéu: Sivuca, Airto Moreira, Robertinho Silva,
Robson Jorge, Jamil Joanes, Robertinho do Recife, Leo Gandelman, Jane Duboc. A
pegada funk é garantida por Oberdan (banda Black Rio) e José Roberto Beltrami
(Azymuth). Traz ainda a guitarra de Sérgio Dias dos Mutantes na faixa “Não Pode
Ser Qualquer Mulher”; na percussão, o então pouco conhecido Bezerra da Silva que
mais tarde viria se projetar como sambista da “malandragem”. Completam o quadro
Peter Cetera e Laudir de Oliveira, dois integrantes do prestigioso grupo
norte-americano Chicago, na execução e na composição de duas músicas. Afora
isso, o álbum traz quatro parcerias com o celebrado soulman Leon Ware, colaborador
de Marvin Gaye.
A
faixa de abertura “Paraíba não é Chicago” que faz a contraposição bem humorada
do funk com o baião, parceria com a trupe internacional mais o irmão Paulo
Sérgio Valle (que o acompanha desde os primeiros passos), já vale o disco.
Ainda
que criado no ambiente elitista das praias do Arpoador e de Búzios e apesar de ter
fixado moradia no exterior, o músico conservou o vínculo com artistas como
Gonzagão e Jackson do Pandeiro, evidenciado na instrumental “Campina Grande”.
O
álbum já ganhara antes uma edição em CD pela Som Livre através da série Masters,
recuperado por Charles Gavin.
.
Faixas:
1. A Paraíba Não É Chicago (Marcos
Valle/Paulo Sérgio Valle/Laudir de Oliveira/Leon Ware/Peter Cetera)
2. Bicho no Cio (Marcos Valle/Paulo
Sérgio Valle/Leon Ware)
3. Velhos Surfistas Querendo Voar
(Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle/Leon Ware)
4. Campina Grande (Marcos Valle)
5. Sei Lá (Marcos Valle/Paulo Sérgio
Valle/Laudir de Oliveira/Peter Cetera)
6. Pecados de Amor (Marcos
Valle/Paulo Sérgio Valle)
7. Garimpando (Marcos Valle/Paulo
Sérgio Valle)
8. Não Pode Ser Qualquer Mulher
(Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle/Leon Ware)
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