Com PULP FICTION, Tarantino recuperou o prestígio de um gênero musical, popular nos anos 60, que andava meio em baixa: a surf music.
No
Brasil, Os Incríveis (que antes eram The Clevers) foram o principal expoente desse
subgênero do rock. Sob influência de bandas internacionais essencialmente
instrumentais como Shadows e Ventures, gravaram um álbum dedicado ao estilo:
MILIONÁRIO (1965), puxado pela faixa título. Foram tão bem sucedidos que a
música-tema (originalmente do conjunto inglês Dakotas) ficou mais conhecida por
aqui do que lá fora.
Contratados
pela multinacional RCA Victor, Os Incríveis expandiram o leque de ritmos e
ampliaram o uso da vocalização. Pegando carona na onda da Jovem Guarda,
conquistaram popularidade e venderam milhões de discos, sobretudo compactos
simples (singles) que, à época, era a modalidade preferida de registro.
Os
músicos eram primorosos, tinham cacife para consagrarem-se como banda top do
rock nacional. Mas cometeram o erro fatal de tornarem-se porta-vozes de um patriotismo
exacerbado que tomava conta do país, reforçado pelo tricampeonato de futebol, ao
gravar em seu álbum de 1970 o hino ufanista “Eu Te Amo Meu Brasil”.
Essa composição da dupla Dom e Ravel foi largamente
utilizada nas propagandas oficiais do regime militar. Reforçaram-se as
acusações de que a Jovem Guarda era “alienada”.
Essa
indesejável vinculação com a ditadura que vivia seus anos de chumbo,
comprometeu inapelavelmente a popularidade do grupo, que não mais conseguiu se reerguer.
Um contrassenso
colossal, visto que o maior êxito do grupo fora justamente o hino antimilitarista:
“Era um Garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones” (“C’Era um
Ragazzo che Come Me...”), libelo pacifista da carreira de Gianni Morandi contra
a guerra do Vietnam, que chegou a ter sua execução proibida pela RAI na TV
italiana e fazia parte do repertório da diva de protesto Joan Baez. Os Engenheiros
do Hawaii fizeram recentemente uma ‘remake’ de muito sucesso.
Essa
canção foi o carro chefe do principal disco PARA OS JOVENS QUE AMAM OS BEATLES,
OS ROLLING STONES... E OS INCRÍVEIS, de 1967. Esse trabalho marcou o auge da
produção do grupo. Em meio às 12 faixas, quase todas versões, escondem-se outras
pérolas, dentre elas, uma interpretação mais apurada de “O Milionário”.
Destaque para o clássico “Molambo” (de Augusto
Mesquita), samba-canção que recebeu inúmeras gravações como as de Maysa, Nelson
Gonçalves, Cauby Peixoto, Jamelão, Elizeth Cardoso, Bethânia e Ney Matogrosso.
Os Incríveis conferiram-lhe uma deliciosa roupagem swingada à la Cris Montez.
Há
também uma versão instrumental de “Delilah Jones” (de Elmer Bernstein),
conhecida por ser tema do filme O HOMEM DE BRAÇO DE OURO. E uma leitura pop
para “Czardas”, conhecida peça extraída do ritmo folclórico húngaro.
Os
Incríveis viriam a lançar outro ótimo álbum em 1969, contendo dentre outras “O
Vendedor de Bananas” de Jorge Ben e “O Vagabundo” (Il Giramondo) de Nicola di
Bari. Saiu em CD na série 2 EM 1 (junto com o agourento disco de 1970). Já o álbum
de 1967, ‘incrivelmente’ é mais fácil achar em vinil e as faixas mais
conhecidas só podem ser acessadas em coletâneas caça-níqueis disponibilizadas pela
BMG (adquirente da RCA).
Acusada
de adesista, a banda paulistana entrou em rápido declínio a partir de 1970,
vindo a se dissolver logo em seguida.
Uma
pena, pois os caras eram pra lá de talentosos tanto que acabaram ingressando em
outros cultuados grupos do rock brazuca. O baterista Netinho formou o Casa das
Máquinas que, no período de 1974 a 1976, lançou 3 antológicos álbuns. Teve
ainda passagem pelo Joelho de Porco.
O
tecladista/saxofonista Manito integrou a histórica banda Som Nosso de Cada Dia
que, sob sua égide, lançou o álbum SNEGS, considerado por muitos o mais
importante disco de rock progressivo já produzido no país. Mas essa é outra história.
.
FAIXAS:
01 - Minha Oração (My Prayer) (Georges Boulanger; Jimmy Kennedy) 2:30
02 - Vai, Meu Bem (Hideway) (Howard Blaikley; Versão: Hamilton Di Giorgio) 2:18
03 - Nosso Trato (Sei Gia D’Un Altro) (Don’t Worry Baby) (Brian Wilson; Roger; Christian Pantros; Versão: Libery Pádua) 3:20
04 - Era Um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones (C’era un Ragazzo che Come me Amava i Beatles e i Rolling Stones) (Franco Migliacci; Mauro Lusini; Versão: Brancato Junior) 3:30
05 - O Homem do Braço de Ouro (Delilah Jones) [The Man with the Golden Arm] (Elmer Bernstein; Sylvia Pine) 3:05
06 - O Milionário (The Milionaire) (Mike Maxfield) 3:45
07 - Molambo (Augusto Mesquita; Jayme Florence) 2:54
08 - You Know What I Want (Howard Blaikley) 2:30
09 - Czardas (Vittorio Monti) 3:35
10 - Perdi Você (Missing You)(Carlos Mendes; José Alberto Diogo) 2:55
11 - Nosso Abraço aos Beatles e os Rolling Stones – Pot-Pourri: Twist and Shout (Bert Russell; Phil Medley) e Satisfaction (Keith Richards; Mick Jagger) – Versão: Os Incríveis 2:20
12 - Não Resta nem Ilusão (Natal Maleski) 3:10
Nenhum comentário:
Postar um comentário