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12 de dez. de 2020

CLEMENTINA DE JESUS - CLEMENTINA E CONVIDADOS (1979)

 


Ao gravar este disco, Clementina tinha por volta de 78 anos (não se sabe a data exata de seu nascimento). Não tão tardiamente já que sua carreira começara apenas aos 64, ocasião em que o poeta e produtor cultural Hermínio Bello de Carvalho “descobriu-a” trabalhando como doméstica e fez com que ela tivesse sua participação artística inaugural no disco ROSA DE OURO.

O primeiro álbum solo saiu em 1966 pela Odeon. CLEMENTINA E CONVIDADOS foi o quinto e último de sua breve carreira. Reuniu duetos com grandes nomes do samba (Clara Nunes, Dona Yvonne Lara, Martinho da Vila, João Bosco, Adoniran Barbosa, Carlinhos Vergueiro, Roberto Ribeiro e Cristina Buarque).

Consta no encarte do LP depoimento sobre as dificuldades técnicas para realização do projeto. Clementina mal conseguia enxergar as letras e memorizar as canções. Mas na hora de soltar seu inconfundível vozeirão, não deixava dúvidas sobre sua soberania.

Por não obedecer aos padrões estéticos tradicionais, a ‘Rainha Quelé’ jamais figurou nos círculos ‘chiques’ da MPB, ainda que tivesse sido reverenciada por Milton Nascimento na música “Raça”, com ela gravando “Escravos do Jó” em versão mutilada pela censura (recuperada sem cortes por Elis Regina como “Caxangá”) e “Circo Marimbondo”. E por Caetano Veloso que produziu seu álbum MARINHEIRO SÓ em que Clementina consagrou a definitiva versão de sua adaptação para a canção de mesmo nome.

Desprovida de técnicas vocais, sua interpretação grave e visceral está eivada da ancestralidade dos cantos e rezas dos escravos herdados da mãe lavadeira que nos remetem às bases africanas da cultura negra que originaram o samba. As mesmas que formaram o valorizado blues externado pelas vozes femininas de Bessie Smith ou Alberta Hunter, expressões equivalentes para a música norte-americana que tanto enaltece suas raízes.

O repertório do disco traz pérolas do samba como “Sonho Meu” (Délcio Carvalho/Yvonne Lara), “Torresmo á Milanesa” (Adoniran/Vergueiro), “Tantas Você Fez” (Candeia), “Boca de Sapo” (Bosco/Blanc), “Embala Eu” (Albaléria),  “Assim não Zambi” (Martinho da Vila), “Na Hora da Sede” (Braguinha/Luiz Américo).

A aclamada capa é um dos mais conhecidos trabalhos de Elifas Andreato que também fez a bela ilustração do encarte do LP. Segundo relata o artista gráfico, a gravadora levantou dúvidas sobre se a sambista entenderia a gravura. Consultada, porém, ela só reclamou que a pegada na areia não fosse do seu próprio pé.

Clementina morreu 8 anos após. Levou com ela a inestimável riqueza cultural que trazia em sua memória musical.

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Faixas:

1. Tantas Você Fez (Candeia) - participação Cristina Buarque

2.  Embala Eu (Albaléria) - participação Clara Nunes

3. Cocorocó (Paulo da Portela) – participação Roberto Ribeiro

4. Olhos Da Azeviche (Jaguarão)

5. Boca De Sapo (Aldir Blanc, João Bosco) – participação João Bosco

6. Laçador (Cantoni, Clementina De Jesus)

7. Assim Não Zambi (Martinho Da Vila) – participação Martinho Da Vila

8. Na Hora Da Sede (Braguinha, Luis Américo)

9. Sonho Meu (Delcio Carvalho, Yvone Lara) – participação Yvone Lara

10. Torresmo A Milanesa (Adoniran Barbosa, Carlinhos Vergueiro) – participação Adoniran Barbosa & Carlinhos Vergueiro

11. Caxinguelê Das Crianças (José Ventura)

12. Papel Reclame (Nelson Sargento)



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