Ao
gravar este disco, Clementina tinha por volta de 78 anos (não se sabe a data exata
de seu nascimento). Não tão tardiamente já que sua carreira começara apenas aos
64, ocasião em que o poeta e produtor cultural Hermínio Bello de Carvalho
“descobriu-a” trabalhando como doméstica e fez com que ela tivesse sua
participação artística inaugural no disco ROSA DE OURO.
O
primeiro álbum solo saiu em 1966 pela Odeon. CLEMENTINA E CONVIDADOS foi o
quinto e último de sua breve carreira. Reuniu duetos com grandes nomes do samba
(Clara Nunes, Dona Yvonne Lara, Martinho da Vila, João Bosco, Adoniran Barbosa,
Carlinhos Vergueiro, Roberto Ribeiro e Cristina Buarque).
Consta
no encarte do LP depoimento sobre as dificuldades técnicas para realização do
projeto. Clementina mal conseguia enxergar as letras e memorizar as canções.
Mas na hora de soltar seu inconfundível vozeirão, não deixava dúvidas sobre sua
soberania.
Por
não obedecer aos padrões estéticos tradicionais, a ‘Rainha Quelé’ jamais figurou
nos círculos ‘chiques’ da MPB, ainda que tivesse sido reverenciada por Milton
Nascimento na música “Raça”, com ela gravando “Escravos do Jó” em versão
mutilada pela censura (recuperada sem cortes por Elis Regina como “Caxangá”) e
“Circo Marimbondo”. E por Caetano Veloso que produziu seu álbum MARINHEIRO SÓ
em que Clementina consagrou a definitiva versão de sua adaptação para a canção
de mesmo nome.
Desprovida
de técnicas vocais, sua interpretação grave e visceral está eivada da
ancestralidade dos cantos e rezas dos escravos herdados da mãe lavadeira que nos
remetem às bases africanas da cultura negra que originaram o samba. As mesmas
que formaram o valorizado blues externado pelas vozes femininas de Bessie Smith
ou Alberta Hunter, expressões equivalentes para a música norte-americana que
tanto enaltece suas raízes.
O
repertório do disco traz pérolas do samba como “Sonho Meu” (Délcio Carvalho/Yvonne
Lara), “Torresmo á Milanesa” (Adoniran/Vergueiro), “Tantas Você Fez” (Candeia),
“Boca de Sapo” (Bosco/Blanc), “Embala Eu” (Albaléria), “Assim não Zambi” (Martinho da Vila), “Na
Hora da Sede” (Braguinha/Luiz Américo).
A
aclamada capa é um dos mais conhecidos trabalhos de Elifas Andreato que também
fez a bela ilustração do encarte do LP. Segundo relata o artista gráfico, a gravadora
levantou dúvidas sobre se a sambista entenderia a gravura. Consultada, porém, ela
só reclamou que a pegada na areia não fosse do seu próprio pé.
Clementina
morreu 8 anos após. Levou com ela a inestimável riqueza cultural que trazia em
sua memória musical.
.
Faixas:
1. Tantas Você
Fez (Candeia) - participação Cristina Buarque
2. Embala Eu (Albaléria) - participação Clara
Nunes
3. Cocorocó (Paulo
da Portela) – participação Roberto Ribeiro
4. Olhos Da Azeviche
(Jaguarão)
5. Boca De Sapo (Aldir
Blanc, João Bosco) – participação João Bosco
6. Laçador (Cantoni,
Clementina De Jesus)
7. Assim Não
Zambi (Martinho Da Vila) – participação Martinho Da Vila
8. Na Hora Da
Sede (Braguinha, Luis Américo)
9. Sonho Meu (Delcio
Carvalho, Yvone Lara) – participação Yvone Lara
10. Torresmo A
Milanesa (Adoniran Barbosa, Carlinhos Vergueiro) – participação Adoniran
Barbosa & Carlinhos Vergueiro
11. Caxinguelê
Das Crianças (José Ventura)
12. Papel Reclame
(Nelson Sargento)
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