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12 de dez. de 2020

NELSON GONÇALVES & RAPHAEL RABELLO – AO VIVO (2002)

 


O maior vendedor de discos do Brasil, ninguém duvida, é Roberto Carlos com 120 milhões de cópias. Poucos suspeitariam que Nélson Gonçalves com uma estimativa de 80 milhões fosse o vice. Números que impressionam ainda mais se considerarmos que grande parte ocorreu entre os anos 40 e os anos 60 quando a população brasileira era mais enxuta. A produtividade de Nelson também espanta: mais de 200 discos, entre álbuns e 78 rotações.

Afora o sucesso comercial, não há como contestar que Nelson esteja entre as maiores vozes masculinas de todos os tempos, disputando a primazia com Francisco Alves e Orlando Silva (seus ídolos, por sinal).

Aqueles que têm menos de 50 anos, ouvindo hoje o cantor gaúcho talvez estranhem esse galardão. Para os parâmetros vigentes, a voz empostada e o repertório de Nelson podem parecer ‘bregas’. É preciso considerar que, ao longo dos anos, houve uma mudança radical nos padrões estéticos, sobretudo com o advento da bossa nova que impôs interpretações mais, digamos, contidas.

Seja como for, poucos não se emocionariam ao ouvir sucessos como “A Volta do Boêmio”, “Negue” e “Fica Comigo Esta Noite”. Porém, o repertório do intérprete ia muito além dos clássicos ‘dor de cotovelo’ de Adelino Moreira. Revelou ao público obras essenciais dos principais compositores da música brasileira da época.

Nem por isso, Nelson deixou de flertar com as novas gerações tendo inclusive gravado autores como Lobão, Paula Toller, Renato Russo, Herbert Vianna e Lulu Santos.

Nelson (que na verdade chamava-se Antônio Gonçalves) teve uma infância difícil, agravada por sua gagueira (que lhe valeu o apelido de ‘Metralha’). Mudou-se com a família para São Paulo, onde, para ascender socialmente, teve que lutar duro. Literalmente. Tornou-se um exímio boxeador obtendo o título de campeão paulista em sua categoria. Mas seu sonho de ser cantor falou mais alto.

Como artista, viveu uma vida intensa, regada a álcool, drogas (chegou a ser preso por porte de cocaína) e mulheres. Contraditoriamente, manteve um relacionamento harmônico com sua gravadora RCA Victor (mais tarde, BMG/Ariola), a que se manteve fiel durante toda a sua longa carreira e que, em troca, conferiu-lhe o exclusivo prêmio Nipper (concedido também a outro afiliado exemplar: Elvis Presley).

Em comemoração a seu centenário de nascimento, a Sony (que representa atualmente a BMG) está disponibilizando grande parte de sua obra, restaurada e remasterizada, às plataformas de streaming.

Em meio a essa frutífera produção fonográfica, dois trabalhos se diferenciam. Neles Nelson divide os créditos com instrumentistas virtuosos com o intérprete emprestando sua privilegiada voz para dialogar num clima mais intimista com um instrumento solo. Com Arthur Moreira Lima, O BOÊMIO E O PIANISTA, um projeto tipo ‘piano e voz’. E esse disco AO VIVO acompanhado apenas do violão de Raphael Rabello.

Em sua breve existência de 32 anos de vida, o prodigioso Rabello consagrou-se como um dos maiores violonistas (senão o maior) do país. Gravou mais dois álbuns nesse mesmo padrão: um com Elizeth Cardoso (TODO O SENTIMENTO, 1989) e outro com Ney Matogrosso (À FLOR DA PELE, 1991).

O álbum abre com duas faixas solos de Rabello para dois clássicos de Tom Jobim, “Samba do Avião” e “Luíza”. A partir de então, Nelson introduz seu vozeirão, fazendo desfilar pérolas do seu repertório, tendo ao fundo as precisas cordas de Rabello. Há isoladas participações do violão de Dino 7 Cordas e do acordeom de Caçulinha.

O álbum na verdade não fora planejado: trata-se de uma compilação de performances dos shows 50 ANOS DE BOEMIA (Teatro Olympia, SP, 1989) e gravações pinçadas de estúdio (efetuadas em 1991). A música de Noel Rosa que encerra o álbum foi extraída do álbum NOEL ROSA SONGBOOK. Enfim, uma ‘colcha de retalhos’ e não fruto de uma prévia concepção.

 Todavia, o disco soa tão redondo que quem desconhecesse esse fato, imaginaria tratar-se de registro de um show da dupla. O texto da contracapa escrita pelo crítico Mauro Ferreira sugere que a obra de inestimável valor documental foi preparada para ser um tributo póstumo aos dois artistas, ambos falecidos alguns anos antes. Disponível exclusivamente em CD.

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Faixas:

1. Samba do Avião (Tom Jobim) – solo de violão

2. Luiza (Tom Jobim) – solo de violão

3. Quem Há de Dizer (Alcides Gonçalves, Lupicínio Rodrigues)

4. Súplica (Déo, José Marcílio, Otávio Gabus Mendes)

5. As Rosas não Falam (Cartola)

6. Nunca (Lupicínio Rodrigues)

7. Chão de Estrelas (Orestes Barbosa, Sílvio Caldas)

8. Fracasso (Mário Lago)

9. Velho Realejo (Custódio Mesquita, Sadi Cabral)

10. Número Um (Benedito Lacerda, Mário Lago)

11. A Deusa da Minha Rua (Jorge Faraj, Newton Teixeira)

12. Três Lágrimas (Ary Barroso)

13. Naquela Mesa (Sérgio Bittencourt)

14. Pra Esquecer (Noel Rosa)





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