João Santana não frequentava as seções de música dos
jornais. Como marqueteiro das campanhas eleitorais de Lula e Dilma, era familiar
apenas aos leitores das colunas políticas e (lamentavelmente) policiais. Olhando
sua foto desse período impossível reconhecer nele o antigo compositor baiano
(por ironia nascido na cidade de Tucano) com passado underground, visual bicho
grilo, dotado de vasta cabeleira e que atendia pela alcunha de Patinhas.
Antes de se enfronhar na política, era um compositor de mão
cheia, autor de canções como “Voz no Coração” (do primeiro álbum de Pepeu
Gomes) e “Sinal de Amor e de Perigo”, sucesso de Diana Pequeno. Mas sua performance
mais relevante foi como principal letrista (e uma espécie de membro honorário)
do Bendegó, grupo tropicalista que fundia baião e outros gêneros regionais
tradicionais com ritmos contemporâneos e psicodelia.
Algumas composições de Santana, aliás Patinhas, traziam
letras irreverentes e títulos estranhos: “Zesse Feche Zesse”, “Celacanto e
Lerfa-um”, “Dom Tapanatara”, “Piriquitamba”, “Nem Freud Pode”, “A Hora H do
Agora”.
O grupo Bendegó (nome tirado de um meteorito de 5 toneladas
encontrado no sertão da Bahia) teve presença marcante no cenário musical nordestino.
Foram cinco álbuns em 13 anos de existência. Em seu currículo, figuram trabalhos
com o alquimista sonoro Walter Smetak. Foram também a banda de apoio a Caetano
Veloso na turnê do álbum JOIA (especialmente na execução da linda “Canto do
Povo de um Lugar”), além de parcerias célebres com Moraes Moreira, Tuzé de
Abreu, Capinam, Carlos Pita, João Bá, Vidal França etc.
O segundo álbum, ONDE O OLHAR NÃO MIRA (1976, Continental) emanava
ares da contracultura como em “Além de Arembepe” (“na mochila areia e pão”). Ao
conjunto haviam-se juntado Vermelho e Hely Rodrigues futuros integrantes do 14
Bis.
A formação ficou reduzida somente a Gereba e Capenga (afora
a onipresença do letrista Patinhas) para o terceiro álbum (1979, Continental), talvez
o mais elaborado da carreira. Trouxeram uma pá de convidados ilustres para
enriquecer musicalmente o trabalho: Geraldo Azevedo, Paulo Moura, Oswaldinho do
Acordeon, Marlui Miranda, Passoca, Marcos Suzano, Dinho Nascimento e, nos
arranjos, Rogério Duprat.
Não obstante todo esse aparato, é o álbum de estreia, de
1973, lançado pelo selo Fontana (subsidiário da Philips) que permanece
renitente na lembrança dos fãs. A rigor, não se trata de um trabalho do grupo
baiano e sim um disco solo de Gereba. BENDENGÓ foi originalmente o título do
álbum. Posteriormente, Bendegó (com o “n” retirado) passou a denominar o grupo,
do qual Gereba tornou-se mero integrante. Esse primeiro álbum, apesar do
despojamento da instrumentação (com um instigante violão se sobressaindo), persiste
na memória como o mais autêntico e cultuado. Tem elementos de rock, mas
prevalece uma lisérgica atmosfera acústica. É perceptível a influência de
Geraldo Azevedo. Todas as 12 faixas foram compostas por Gereba e Patinhas,
exceto a última, instrumental. Na percussão, a emérita presença de Djalma
Corrêa.
Antes de se dissolver, o Bendegó gravaria mais 2 LPs.
Nenhum dos discos saiu em CD.
Gereba deu sequência a uma profícua carreira com incansável
atuação cultural. Lançou diversos álbuns solo, elogiados pela crítica porém com
reduzida vendagem.
Quanto a Patinhas/João Santana, confinado a prisão
domiciliar pela operação Lava-Jato, está voltando (dizem) a compor e, segundo
afirmam antigos parceiros, com a mesma criatividade de antes.
.
Faixas:
1. Chorada
[Patinhas/Gereba]
2. Desaguou
[Patinhas/Gereba]
3. Princesa
Sertaneja [Patinhas/Gereba]
4. Bendengó
[Patinhas/Gereba]
5. Abrolhos
[Patinhas/Gereba]
6. O Gole
[Patinhas/Gereba]
7. Algazarra de
Padre [Patinhas/Gereba]
8. Bala de Ouro
[Patinhas/Gereba]
9. Rio Doloso
[Patinhas/Gereba]
10. Bonde
[Patinhas/Gereba]
11. Zesse Feche
Zesse [Patinhas/Gereba]
12. Caratacá
[Gereba]
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