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3 de dez. de 2020

GEREBA - BENDENGÓ (1973)

 


João Santana não frequentava as seções de música dos jornais. Como marqueteiro das campanhas eleitorais de Lula e Dilma, era familiar apenas aos leitores das colunas políticas e (lamentavelmente) policiais. Olhando sua foto desse período impossível reconhecer nele o antigo compositor baiano (por ironia nascido na cidade de Tucano) com passado underground, visual bicho grilo, dotado de vasta cabeleira e que atendia pela alcunha de Patinhas.

Antes de se enfronhar na política, era um compositor de mão cheia, autor de canções como “Voz no Coração” (do primeiro álbum de Pepeu Gomes) e “Sinal de Amor e de Perigo”, sucesso de Diana Pequeno. Mas sua performance mais relevante foi como principal letrista (e uma espécie de membro honorário) do Bendegó, grupo tropicalista que fundia baião e outros gêneros regionais tradicionais com ritmos contemporâneos e psicodelia.

Algumas composições de Santana, aliás Patinhas, traziam letras irreverentes e títulos estranhos: “Zesse Feche Zesse”, “Celacanto e Lerfa-um”, “Dom Tapanatara”, “Piriquitamba”, “Nem Freud Pode”, “A Hora H do Agora”.

O grupo Bendegó (nome tirado de um meteorito de 5 toneladas encontrado no sertão da Bahia) teve presença marcante no cenário musical nordestino. Foram cinco álbuns em 13 anos de existência. Em seu currículo, figuram trabalhos com o alquimista sonoro Walter Smetak. Foram também a banda de apoio a Caetano Veloso na turnê do álbum JOIA (especialmente na execução da linda “Canto do Povo de um Lugar”), além de parcerias célebres com Moraes Moreira, Tuzé de Abreu, Capinam, Carlos Pita, João Bá, Vidal França etc.

O segundo álbum, ONDE O OLHAR NÃO MIRA (1976, Continental) emanava ares da contracultura como em “Além de Arembepe” (“na mochila areia e pão”). Ao conjunto haviam-se juntado Vermelho e Hely Rodrigues futuros integrantes do 14 Bis.

A formação ficou reduzida somente a Gereba e Capenga (afora a onipresença do letrista Patinhas) para o terceiro álbum (1979, Continental), talvez o mais elaborado da carreira. Trouxeram uma pá de convidados ilustres para enriquecer musicalmente o trabalho: Geraldo Azevedo, Paulo Moura, Oswaldinho do Acordeon, Marlui Miranda, Passoca, Marcos Suzano, Dinho Nascimento e, nos arranjos, Rogério Duprat.

Não obstante todo esse aparato, é o álbum de estreia, de 1973, lançado pelo selo Fontana (subsidiário da Philips) que permanece renitente na lembrança dos fãs. A rigor, não se trata de um trabalho do grupo baiano e sim um disco solo de Gereba. BENDENGÓ foi originalmente o título do álbum. Posteriormente, Bendegó (com o “n” retirado) passou a denominar o grupo, do qual Gereba tornou-se mero integrante. Esse primeiro álbum, apesar do despojamento da instrumentação (com um instigante violão se sobressaindo), persiste na memória como o mais autêntico e cultuado. Tem elementos de rock, mas prevalece uma lisérgica atmosfera acústica. É perceptível a influência de Geraldo Azevedo. Todas as 12 faixas foram compostas por Gereba e Patinhas, exceto a última, instrumental. Na percussão, a emérita presença de Djalma Corrêa.

Antes de se dissolver, o Bendegó gravaria mais 2 LPs. Nenhum dos discos saiu em CD.

Gereba deu sequência a uma profícua carreira com incansável atuação cultural. Lançou diversos álbuns solo, elogiados pela crítica porém com reduzida vendagem.

Quanto a Patinhas/João Santana, confinado a prisão domiciliar pela operação Lava-Jato, está voltando (dizem) a compor e, segundo afirmam antigos parceiros, com a mesma criatividade de antes.

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Faixas:

1. Chorada [Patinhas/Gereba]

2. Desaguou [Patinhas/Gereba]

3. Princesa Sertaneja [Patinhas/Gereba]

4. Bendengó [Patinhas/Gereba]

5. Abrolhos [Patinhas/Gereba]

6. O Gole [Patinhas/Gereba]

7. Algazarra de Padre [Patinhas/Gereba]

8. Bala de Ouro [Patinhas/Gereba]

9. Rio Doloso [Patinhas/Gereba]

10. Bonde [Patinhas/Gereba]

11. Zesse Feche Zesse [Patinhas/Gereba]

12. Caratacá [Gereba]

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