Tavito
é indevidamente acusado de ter sido acometido pela maldição da música única. “Rua
Ramalhete” tornou-se, é fato, emblemática na carreira do músico e integrante
obrigatória do cancioneiro popular, a ponto de ter sido designada como hino
oficial de Belo Horizonte. Todavia reduzir a obra do compositor e cantor
mineiro a essa canção é uma inverdade absoluta.
Tavito
tem uma importância para a MPB que transcende o alcance de versos como “vou
falar no seu ouvido coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido... e o
som dos Beatles na vitrola”. Teve participação em dois momentos essenciais da nossa
música. Foi sócio fundador do Clube da Esquina, movimento seminal surgido em
Minas, capitaneado por Milton Nascimento que agregou à MPB elementos do jazz e
do rock, universalizando-a e conferindo-lhe um sopro de modernidade e
excelência. E foi um dos integrantes do memorável Som Imaginário, unanimemente
reconhecido com um dos mais importantes conjuntos de música instrumental de
todos os tempos.
Alguns
anos após a dissolução do grupo, Tavito iniciou sua carreira solo com 3 álbuns
consecutivos no período 1979/1982.
O primeiro,
o de 1979, foi certamente o mais bem sucedido, não apenas comercialmente, mas
por sua produção esmerada. Além de “Rua Ramalhete” (parceria com Ney Azambuja),
continha outro mega-sucesso, “Casa de Campo” (parceria com Zé Rodrix),
imortalizado pela interpretação de Elis em seu álbum de 1972. E pelo menos mais
duas músicas manjadíssimas: “Começo, Meio e Fim” (mais conhecida na
interpretação do Roupa Nova) e “Naquele Tempo” (outra saudosista homenagem aos
Beatles).
Contou
com a participação das cantoras Jane Duboc e Regininha e um respeitável plantel
de instrumentistas: Alex Malheiros (Azymuth) e Jamil Joanes no baixo, Márcio
Montarroyos no trompete, Paulinho Braga na bateria, Gilson Peranzetta no piano,
Sérgio Dias (Mutantes) na guitarra e orquestração de Eduardo Souto Neto. Com
tantos atributos, esse disco, ao ser tirado prematuramente de catálogo pela CBS,
passou a ser disputadíssimo nos sebos. Incompreensível que só tenha sido
lançado em CD por iniciativa da pequena gravadora Savalla, rapidamente se
esgotando.
Tavito
ainda lançou mais dois álbuns solos. Depois, recolheu-se passando a se dedicar
a uma bem sucedida carreira de composição de jingles, o mais famoso dos quais se
tornou o hino extra-oficial da conquista do tetra pela seleção, parceria com
Aldir Blanc. Aliás, a maior parte de suas composições, foi fruto de
colaborações notáveis como com os irmãos Valle, Ivan Lins, Ruy Maurity, Sá e
Guarabyra, Renato Teixeira etc. Retomou a produção fonográfica após um
intervalo de 27 anos, lançando 2 álbuns pelo selo Tratore, o último em 2014,
cinco anos antes do seu falecimento, sem conseguir se desvencilhar da síndrome
“Rua Ramalhete”.
.
FAIXAS:
1. Cowboy (Eduardo Souto Neto, Paulo Sérgio Valle)
2. Rua Ramalhete (Ney Azambuja, Tavito)
3. Você me Acende (Erasmo Carlos)
4. Longe do Medo (Ivan Lins, Tavito)
5. Cravo e Canela (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
6. Naquele Tempo (Mariozinho Rocha, Renato Correa)
7. Começo, Meio e Fim (Ney Azambuja, Paulo Sergio Valle, Tavito)
8. A Ilha (Sá & Guarabyra)
9. Coração Remoçado (Eduardo Souto Neto)
10. Casa no Campo (Tavito, Zé Rodrix)
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