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16 de dez. de 2020

VANUSA (1973)

 

Vanusa tornou-se mais conhecida pela cor de seus cabelos do que pelos dotes artísticos, estigmatizada como uma intérprete ‘menor’ ligada à Jovem Guarda. Nada mais equivocado: de sua discografia de quase 20 álbuns, o único que pode ser creditado a esse gênero é o primeiro, puxado pelo hit PRA NUNCA MAIS CHORAR de Eduardo Araújo e Carlos Imperial.

Não bastasse isso, amargou em 2009 um infeliz episódio de ter se atrapalhado na interpretação do Hino Nacional numa solenidade oficial, cujo vídeo viralizou, tornando-a motivo de chacota, o que a deixou profundamente abalada. A circunstância de que estava sob efeitos de medicamentos para a labirintite não atenuou o linchamento perpetrado nas redes sociais.

Vanusa tornou-se reclusa e amargurada com o acontecimento. Até que, aos 67 anos, após quase 20 anos de ostracismo fonográfico, já com a saúde debilitada, foi convidada pelo incansável músico e agitador cultural Zeca Baleiro para gravar o álbum VANUSA SANTOS FLORES pelo selo Saravá, por ele produzido, com um repertório de primeira, que viria a ser o último de sua carreira.

A exposição da cantora ao menos serviu para despertar o interesse das novas gerações que sequer a conheciam. Em parte, isso motivou o relançamento, em 2015, de dois boxes contendo seus 8 primeiros álbuns, a nata de sua produção, pelo selo Discobertas, acompanhados de faixas bônus, num louvável trabalho de resgate.

Uma audição honesta desses álbuns revela momentos primorosos.  O segundo álbum (1969) já evidencia que a loiríssima estava preocupada em alçar voos bem mais altos do que sugeriam os passos iniciais. Com o recente revival dos álbuns psicodélicos, esse surpreendente disco (a começar pela belíssima e ousada capa) é referenciado como uma das pérolas do gênero, sobretudo a faixa ATÔMICO PLATÔNICO (com ares tropicalistas).

Os trabalhos seguintes demonstraram que Vanusa queria ampliar o leque, abraçando o soul e posteriormente a MPB, sem abandonar os temas populares românticos.

AMIGOS NOVOS E ANTIGOS, o sexto álbum, de 1975, é tido por alguns críticos como o mais arrojado, com um repertório calcado em grandes nomes da MPB como Milton Nascimento/Fernando Brant, João Bosco/Aldir Blanc, Luiz Melodia, Carlinhos Vergueiro e Fagner (numa inusitada parceria com Antonio Marcos), trazendo ainda sua consagradora versão para o clássico PARALELAS de Belchior.

No álbum de 1977, TRINTA ANOS, entre outras pérolas, uma inédita de Caetano Veloso, DUAS MANHÃS, e outra do estreante Zé Ramalho, AVÔHAI, canção que viria a consagrar o músico paraibano no seu primeiro álbum individual, no ano seguinte.

O quarto disco de 1973 (que marcou sua passagem da RCA para a Continental), nomeado apenas de VANUSA (a exemplo dos outros 4 iniciais), talvez tenha sido o mais eclético, indo do samba ao rock (há até uma canção infantil, O MAGO DE PORNÓIS), sem no entanto perder a integridade. O destaque é a faixa de abertura, MANHÃS DE SETEMBRO (composição própria em parceria com Mário Campanha), tido por alguns como uma das mais belas peças da MPB. O álbum foi produzido por Lincoln Olivetti e Zé Rodrix, que assinou duas faixas, RETRATO NA PAREDE e COISAS PEQUENAS, essa última parceria com Tavito.

A versão remasterizada traz duas faixas bônus, uma em dueto com Antônio Marcos (parceiro e primeiro marido) e outra, o tema de abertura do Programa Fantástico da Rede Globo (de Guto Graça Mello e Boni), originalmente por ela interpretado.

A maior curiosidade do disco, no entanto, é o rock WHAT TO DO?, cantado em inglês que se tornou conhecidíssimo pelo fato de o  riff de guitarra guardar uma impressionante semelhança com o clássico Sabbath Bloody Sabbath do álbum homônimo do grupo heavy Black Sabbath. Para quem imaginou tratar-se de plágio, uma informação: a canção de Vanusa foi lançada 5 meses antes do disco do grupo inglês. Indagada a respeito, a pacífica Vanusa afirmou sentir-se lisonjeada pela repercussão do caso e deixou a questão pra lá. Mera coincidência, justificou.

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Faixas:

1. Manhãs de Setembro (Mário Campanha - Vanusa)

2. Você não Morreu (Portinho - Antônio Marcos)

3. O Mago de Pornois (Massadas)

4. Quebra Cabeça (William Acquisti)

5. Neste mesmo Lugar (Armando Cavalcanti - Klécius Caldas)

6. What to Do (Papi - Alf Soares)

7. Estou Fazendo Hora (Mário Marcos - Antônio Marcos)

8. Coisas Pequenas (Tavito - Zé Rodrix)

9. Quero Você (Mário Campanha - Vanusa)

10. Retrato na Parede (Zé Rodrix)

11. Mercado Modelo (Jocafi - Antônio Carlos - Ildázio Tavares)

12. Entre Cinzas (Papi - Carlos Cou)



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