Pesquisar este blog

16 de dez. de 2020

ROUPA NOVA (1981)

 

Quem avalia a carreira do Roupa Nova por seus inúmeros hits radiofônicos e canções românticas noveleiras, de apelo popular, talvez não imagine que o grupo também se sobressai no quesito qualidade (com músicos habilidosos e um competente trabalho vocal). E tem pedigree: nasceu apadrinhado por ninguém menos do que Milton Nascimento, admirador de primeira hora, que aliás ajudou a batizar o grupo com o título de uma de suas canções.

O RN deixou ainda sua marca com o inestimável apoio conferido a duas pérolas da nossa música: AÇAÍ (de Djavan) com Gal Costa e NOS BAILES DA VIDA (Milton e Fernando Brant) com Milton Nascimento, presentes respectivamente nos álbuns FANTASIA (Gal) e CAÇADOR DE MIM (Milton), ambos de 1981. Nesse último caso, a participação do conjunto consigna o prestígio aos bailes noturnos que, a exemplo do que ocorreu com Milton, propiciaram ao sexteto carioca a oportunidade de lançar-se na carreira artística.

Essa ligação visceral com Milton, acrescentada ao fato de o RN sempre prestigiou o pessoal do Clube da Esquina fez com que se presumisse que o grupo fosse mineiro (a exemplo de outra banda bancada por Milton, o 14 Bis, com quem guardava no início certa semelhança vocal). Na verdade, dois integrantes são mineiros, os demais, cariocas.

O RN nasceu ao que parece com a proposta de assumir-se como representante do autêntico rock’n’roll brazuca, tanto que seu primeiro single foi HOJE AINDA É DIA DE ROCK de Zé Rodrix, quando ainda se chamavam The Famks. Essa formação embrionária trazia 4 dos 6 membros originais do RN (o tecladista Cléberson, o baixista Nando, o guitarrista Kiko e o cantor Paulinho). Com a agregação do guitarrista Feghali e do baterista Serginho, nascia o Roupa Nova que conservou essa mesma formação exitosa por nada menos do que quatro décadas, até que a COVID 19 levasse Paulinho em 2020.

O primeiro álbum como Roupa Nova, o de 1981, tem a marca do produtor Mariozinho Rocha, responsável por alguns dos grandes momentos da MPB, inclusive do Clube da Esquina.

A sonoridade ‘soft’ do grupo valeu-lhe a comparação com grupos internacionais como o Toto ou o Journey, o que sempre é discutível.

Esse trabalho marca o ingresso na poderosa Polygram, gravadora que bancou também os dois álbuns seguintes (a exemplo do primeiro, nomeados simplesmente ROUPA NOVA) que sinaliza a consolidação do prestígio e do sucesso comercial.

Enquanto o segundo álbum conserva o estilo anterior, o terceiro marca uma mudança de repertório, com maior presença de baladas românticas.

O quarto disco que assinala a passagem para a RCA traz o mega-sucesso WHISKY A GO GO (da dupla Sullivan/Massadas), tema que se perpetuou como preferido por 10 em cada 10 festinhas de confraternização.

A partir daí, o grupo foi derivando progressivamente para uma linha mais popular, tornando-se campeão de participações em trilhas de novela o que ajudou a alavancar o sucesso. Contabilizam-se mais de 30 canções inseridas em novelas, traduzidas em vendas mais robustas. O quinto álbum chegou a atingir espantosos 2,2 milhões de cópias.

Com isso, o RN abocanhou um público bem mais amplo e diverso. Deixando os preconceitos de lado, dividiu o palco com campeões de público de todos os gêneros como Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Rita Lee, Ney Matogrosso, Anita afora uma legião de sertanejos e padres cantores. Na outra ponta, firmou parcerias com nomes respeitáveis do cenário internacional como David Coverdale (Deep Purple/Whitesnake), Steve Hackett (Genesis), David Gates (Bread) e com os Commodores, lendários representantes da soul music.

Convivendo com uma linha mais brega, o RN sempre pontuava seu trabalho em resgatar temas emblemáticos do cancioneiro nacional. Os álbuns DE VOLTA AO COMEÇO (1993) e OURO DE MINAS (2000) foram dedicados respectivamente a reviver clássicos da MPB (Gonzaguinha, Chico Buarque, Sérgio Sampaio, Taiguara, Zé Rodrix, Os Mutantes, O Terço) e à nata dos compositores mineiros ou a eles próximos (Milton, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Beto Guedes, Flávio Venturini, Lô Borges, João Bosco, Samuel Rosa).

Em meio a tanto ecletismo, fica a constatação de que o álbum de 1981 permanece como a mais honesta referência do grupo.

Além da citada canção de Milton (que nomeou o grupo), o disco traz os dois primeiros hits: CANÇÃO DE VERÃO (Luiz Guedes e Thomas Roth) e SAPATO VELHO (Mú, Paulinho Tapajós e Claudio Nucci), certamente um dos mais belos marcos da música brasileira de todos os tempos. O álbum traz ainda composições de Feghali, algumas em parceria com compositores consagrados (Fausto Nilo, Márcio Borges).

 O visual despojado e as densas cabeleiras exibidas denotam que os músicos tinham de início uma pegada bem diversa daquela que as circunstâncias fizeram-nos adotar posteriormente.

Frente aos mirabolantes números que o grupo ostenta em seu currículo, o humilde álbum de 1981 com suas modestas vendas de 15 mil cópias traduz com perfeição o que dizem as palavras de SAPATO VELHO: “Você lembra, lembra daquele tempo, eu tinha estrelas nos olhos, um jeito de herói, era mais forte e veloz que qualquer mocinho de cowboy (...) Talvez eu seja simplesmente como um sapato velho mas ainda sirvo se você quiser, basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés”.

.

Faixas:

1. "Sapato Velho" (Mú / Paulinho Tapajós / Cláudio Nucci) - 4:05

2. "Pra Sempre" (Flávio Venturini / Ana Terra) - 3:12

3. "Bem Simples" (Ricardo Feghali / Mariozinho Rocha) - 2:48

4. "Um Pouco de Amor" (Thomas Roth / Luiz Guedes) - 2:21

5. "E o Espetáculo Continua" (Tavynho Bonfá / Ivan Wrigg) - 3:21

6. "Recomeçar" (Eládio Sandoval / Jamil Joanes) - 2:38

7. "Tanto Faz" (Ricardo Feghali / Fausto Nilo) - 2:47

8. "Canção de Verão" (Thomas Roth / Luiz Guedes) - 2:51

9. "Quem Virá" (Ricardo Feghali / Márcio Borges) - 2:50

10. "Roupa Nova" (Milton Nascimento / Fernando Brant) - 3:18

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais visitadas