Embora o jornalista mineiro Salomão Borges não tivesse se dedicado à música, era por ela um aficionado. Isso explica a paixão de 7 dos seus 11 filhos pela arte. Aquele que herdou o nome do pai, Salomão Borges Filho, o 6º da linhagem, mais conhecido como Lô Borges, tornou-se o mais famoso da prole. É co-responsável por aquele que é unanimemente considerado um dos principais álbuns da história da MPB, o antológico CLUBE DA ESQUINA de 1972 ao lado de Milton Nascimento, além de ter uma carreira solo bem sucedida sintetizada em quase 20 álbuns.
O
primeiro deles, o famoso “disco do tênis” saiu no mesmo ano, 1972, seguido de
VIA LÁCTEA de 1979 e SONHO REAL de 1981. Entre esses dois últimos, OS BORGES
que, embora costume aparecer na discografia de Lô, não deveria, por justiça,
ser exclusivamente a ele creditado. O cantor e compositor mineiro, já
consagrado, participa interpretando apenas duas músicas, procurando dar espaço
para que seus irmãos revelassem seus dotes.
Sob a
batuta do velho Salomão e de Dona Maricota, progenitora da clã (que para não
destoar da moçada, era pianista), desfilam os brothers Márcio, Yê, Marilton,
Nico, Telo e Solange Borges (única representante do sexo feminino). Destaque
para Márcio Borges, outro que se projetara como compositor e letrista em
célebres parcerias com a trupe do Clube da Esquina.
OS
BORGES foi um projeto despojado de Lô com a intenção de registrar em vinil o
ambiente cultural reinante em seu apartamento em Belo Horizonte. A capa que
traz uma foto do quarto dos “meninos”, revela esse clima com pôsteres e
instrumentos espalhados pelo chão. Retratos dos 4 Beatles no canto superior não
escondem uma das principais influências.
A
faixa de abertura “Em Família” (Márcio e Yê) interpretada por todos traduz a empatia
entre irmãos afins (“Na minha casa tem mulher que briga, na minha casa tem
homem que chora”).
A
atmosfera caseira do projeto oculta algumas participações inacreditáveis. Em
“Carona”, ao lado de Marilton, a presença de um tal de Gonzaguinha. Na faixa
derradeira, “Pros Meninos”, ao lado de Nico, comparece Milton Nascimento. Em
“Outro Cais” a canja especial é de ninguém menos do que Elis Regina (a própria).
Destacam-se
“Ainda” e a gravação original de “Voa Bicho”, ambas de Telo e Márcio, com
orquestração de Guilherme Arantes. Essa última ficou mais conhecida ao ser
regravada por Milton Nascimento e Maria Rita no disco Pietá de 2003.
A
galeria de fotos que encarta o LP revela que as sessões de gravações contaram
com outros bambas: Toninho Horta, Naná Vasconcelos, César Camargo Mariano,
Nivaldo Ornelas, Marçal, Fredera...
O
vinil dessa obra prima era disputadíssimo, até que a EMI/Odeon dignou-se em
lançá-lo em CD em 2002. A má notícia é que quem quiser adquiri-lo vai ter de
desembolsar uma pequena fortuna pois está fora de catálogo e, assim como o LP,
é raro.
.
1. "Em
Família" (Márcio Borges, Yé Borges) - Os Borges 4:08
2. "Carona" (Marilton Borges) Marilton Borges (Partic: Gonzaguinha) 2:53
3. "Voa,
Bicho" (Márcio Borges, Telo Borges) - Telo Borges/Solange Borges 3:50
4. "Um Sonho
Na Correnteza" (Márcio Borges, Yé Borges) Solange Borges/Yé Borges 3:08
5. "Ainda"
(Márcio Borges, Telo Borges)- Telo Borges/Marilton Borges 3:29
6. "O
Sapo" (Tradicional) - Os Borges 2:20
7. "Eu Sou
Como Você É" (Lô Borges) - Lô Borges/Marilton Borges 3:41
8. "Outro
Cais" (Duca Leal, Marilton Borges) - Elis Regina 2:03
9. "No Tom
De Sempre" (Márcio Borges , Chico Lessa) - Chico Lessa/Lô Borges 3:57
10. "Qualquer
Caminho" (Márcio Borges) - Márcio Borges/Marilton Borges 3:17
11. "Daniel"
(Nico Borges, Solange Borges) - Solange Borges 3:17
12. "Pros Meninos" (Duca
Leal, Nico Borges) - Nico Borges/Milton Nascimento 4:38
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